3.28.2007
Ah, Fadista(s)!!!
Foi no Sábado passado que ela actuou na Berklee School of Music.
Nem a chuva, que mais tarde se transformou em neve (após um dia de sol radiante... o tempo aqui é completamente doido), arredou os muitos admiradores que quiseram escutar a Mariza, esgotando o auditório.
Não há palavras para a descrever.
A Mulher é um portento!
A Mulher é uma força da Natureza!
A Mulher é o máximo!
A Mulher é extraordinária!
A Mulher, pura e simplesmente, não existe.
A minha amiga Holandesa, excitadíssima, sentada ao meu lado, só exclamava como era inacreditável que tamanha voz e poder saísse de dentro daquele figura esguia, delgada e frágil.
Mariza encheu a sala, não só com a sua voz como com a sua presença, calma e tranquila, ao mesmo tempo que simpática e comunicativa. Falou em Inglês e em Português. Gracejou aqui e ali e, amiúde, esclareceu-nos porque esta ou aquela música lhe eram relevantes, porque Carlos do Carmo é um dos seus mestres (homenageou-o cantando um dos seus Fados), qual a origem do Fado, qual a origem dela, as suas raízes Moçambicanas e Portuguesas, como foi a sua infância e como, aos 5 anos, interpretou em público o seu primeiro Fado no Café dos pais, na Mouraria.
Fez-nos sentir Portugueses e remexeu nAquela nossa Saudade, que nos é tão típica. Por vezes tive lágrimas nos olhos. Noutras, sorri e ri animada enquanto a Mariza, bamboleando-se e dançando até, puxava pela plateia que, batendo palmas, acompanhava os Fados animados e divertidos.
O público estava ao rubro! Irrompia em valentes “Ah, Fadista!!” quando, imponente, Mariza terminava as suas interpretações, interpretações essas perfeitas, cheias de alma e sentimento, mesmo quando se estabelecia aquele silêncio de expectativa, esperando por um sussurro quase inaudível ou por aquela palavra suspensa.
Tudo afinadíssimo!! Irrepreensível!
Profissional como é, Mariza deu todo o espaço aos seus músicos para se expressarem e mostrarem o quão exímios são. Tivemos até uma sessão de guitarrada, em que a Mariza se retirou momentaneamente do palco e só as guitarras primaram.
Excitadíssima, recorri várias vezes ‘a minha camera, muito embora fosse proibido, para registar este ou aquele momento. Tendo sido admoestada uma vez, decidi, após uns 6 filmes (hehehe) parar. Já estava a abusar.
Disse mesmo para mim mesma que não o faria mais mas, quando no fim, inesperada e surpreendentemente, a Mariza presenteia os Americanos com uma versão em Fado de “Summertime” (Gershwin) EXTRAORDINARIA, não resisti e saquei da maquineta mais uma vez.
Mais valia ter estado quietinha porque, muito embora várias pessoas estivessem a tirar fotos, por eu estar mesmo junto ao corredor, fui logo apanhada. A cena foi linda, segundo a minha amiga Holandesa. Ela diz que ficou assustada. Eu... nem sei o que me passou pela cabeça, mas estava na maior. Acho que fiquei possuída pelo espírito aventureiro e destemido dos meus antepassados, enaltecidos no Fado.
Foi assim, chega a menina dos bilhetes e diz-me:
- Faz favor de parar. Já foi avisada 3 vezes. Vai ter que me dar a sua máquina.
- Mentira!! (que raio Inês, não te sabes calar? Que diferença fazem 2 ou 3 vezes!?! Não tens razão e não!)
- Por favor dê-me a sua câmera.
- Não dou!! (lá está ela...)
- Então peço-lhe que me acompanhe até ao gerente.
- Faz favor de esperar que quero ouvir esta música. (juro que lhe respondi assim)
- Já lhe disse para, por favor, me acompanhar.
- Não acompanho. Já lhe disse que quero ouvir esta música – respondi do alto de toda a minha razão - E não insista que está a estragar o espectáculo aos outros (JURO que lhe respondi isto)
Acho que, perplexa com tamanha cara de pau da Tuga, a miúda ficou meio muda, gaguejou, não soube o que falar e bazou.
Tranquila, fiquei a ouvir o Summertime. Não sei mesmo o que me deu porque, mesmo tendo sido em Inglês (que me deixa sempre insegura no que toca a discussões) fiquei calmíssima, impávida e serena.
Termina a música, apoteose e aplausos e sinto uma sombra ao pé de mim.
Era a miúda e o gerente.
- Olha estes – pensei.
- Sou o fulano tal, gerente do estaminé, bla, bla, bla... venha comigo
- ‘Bora lá!
-
Calmamente, disse ‘a minha colega, “eu já venho”. Peguei no meu casaco, no meu saco, ajeitei o cabelo e segui ‘a frente do mafarrico: trá-lá-lá!
Levou-me para o gabinete dele e disse que a miúda disse não sei o quê e eu dizia que não e que ela mentiu (notem como eu sou doidinha e discuto mesmo sabendo que não tenho razão) e que ela não me podia chamar mentirosa e depois ele dizia que ela não me estava a chamar mentirosa e depois eu dizia que se eu digo algo e ela diz “não foi nada” isso era chama-me mentirosa e depois ele disse que era uma questão de semântica e eu disse-lhe que era exactamente o mesmo argumento que ele estava a usar para dizer que ela não disse a palavra mentirosa, especificamente... uma bela treta de discussão.
E notem como eu me enterrava e continuava a barafustar:
- Disseram-me para parar e eu parei.
- Ah, mas estava a fazer um filme sabendo que era proibido.
- Estava, MAS parei quando me disseram e há muitas outras pessoas a fazer filmes mas vocês não chegam lá. Não está certo! Deviam usar os mesmos parâmetros de justiça com toda a gente (lindo este argumento, não acham?)
- Quantos filmes fez?
- Fiz um porque, como disse, parei quando me disseram (e continuava cheia de razão, hein!)
Patati – patatá depois diz-me:
- Faz favor de apagar o filme.
- Não apago! (miúda, tu estavas possuída, só pode)
- Apague por favor.
- Não apago. Apague você se quiser (máximo de estupidez a bater ‘a porta)
- Eu não mexo na sua máquina. Apague o filme se faz favor.
- Não apago!
- Então vou ter que lhe ficar com a máquina.
- Ah, bom... ‘tá bem, eu apago.
E notem, agora é que é liiiiiiindo.
Cheia de razão e completamente ultrajada viro-me para o homenzinho, quase espetando a máquina no focinho dele, digo:
- Então venha cá ver para não me chatear mais (JURO que lhe disse isto)
E começo a apagar o último filme. Puta da máquina (desculpem lá os mais sensíveis), vai de mostrar sempre o que está a seguir. Então era ver 1, 2, 3, 4....6, 7 filmes a aparecer. "Ganda" festa!
O homenzinho podia ter feito de mim gato-sapato mas, se calhar, já habituado aos doidos mais que varridos, nem se deu ao trabalho de dizer:
- Com que então só um, ah!
E agora a cereja no topo do bolo:
- Está feliz? Já está tudo apagado, viu? Ou também quer ver as outras fotos (e nesta altura a máquina exibia orgulhosamente uma foto de mim com cara de tresloucada a idolatrar os Morenazos). Quer mais alguma coisa?
- Não – acho que o homem nem respondeu muito mais porque devia estar completamente abananado com a minha atitude de Micas-Coxa-da-Madragoa-desvairada. Tenho a certeza que pensou que eu tinha acabado de sair do manicómio sem terminar o tratamento.
- Então com licença que quero ir ver o espectáculo!
E saí, sem sequer olhar para trás, altivamente caminhando para o auditório, onde cheguei e, calmamente, como se não fosse nada comigo, me sentei e ignorei os olhares do pessoal nas cadeiras vizinhas que assistiram ao circo todo.
Ah, Fadista!
O Gerente teve que ter mesmo muuuuuuita paciência. Nem sei como se manteve sempre tão bem. Eu cá, nem que me paguem, aceito ser gerente seja do que for se tiver que aturar doidas como a que eu fui, hehehe.
Ele há com cada uma!
A minha amiga Holandesa só me dizia:
- Uau, fizeste-lhe mesmo frente. Es mesmo Forte!
E eu pensava:
- Sou é muito maluca é o que sou!
Coisas!
PS – Só para a Ivone, e para a fazer rir, o que eu pensei quando o gerente me disse que tinha que ir com ele foi:
- C’oa Breca! :D
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3 comments:
Tu és louca!
Que pena não terem sobrevivido os filmes para ós vermos agora, que inveja:)
beijinhos!
Estás aqui estás em Guantanamo, o que seriá uma desvantagem. O reverso da medalha é que farias escala em Portugal e sempre nos abraçavamos. És mesmo louca moçoila !!!......
Acredita que me fizeste rir, e muito!!!
Como diz a Violante e o Tio...pronto...não é...não tens o juizinho todo. À medida que ia lendo, só pensava: a Inês não tá boa da cabeça!
Beijinhos
Ivone
P.S. (O C´oa breca fez rir outra vez :-D )é 1 expressão mto engraçada
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