4.24.2007

Tecnomacumba

Confesso que quando ouvi este nome não pude deixar de fazer um ar de espanto e sorrir:

- Tecnomacumba?!?!

Lembrei-me logo desta cena:

E o que me veio 'a cabeça foi um monte de pessoal possuído a dançar tecno com galinhas pretas na cabeça... o que, se pensarmos bem, nem está muito da realidade das Raves e afins. Basta olhar para os pastilhados! (tirando as pobres das galinhas, claro).

Afinal não é bem isso:

"TECNOMACUMBA
por Caetano Veloso


Faz algum tempo que venho ouvindo com curiosidade e agrado uma voz de mulher que impressiona pela firmeza, pela limpeza do som, pela naturalidade da afinação. É uma voz que ouvi primeiro casualmente no rádio do carro e que sempre me fez parar para atentar e me perguntar: quem é essa cantora que tem a emissão lisa (sem vibratos) mais impressionante que ouvi em muito tempo? De quem é essa voz encorpada e delicada, de quem são esses glissandos seguros e de grande efeito experimental sem sombra de vulgaridade?

Aprendi o nome de Rita Ribeiro ao encontrar as respostas a essas perguntas. Agora, em parte num movimento de buscar usos significativos para suas invenções vocais, Rita desenvolveu esse projeto a que deu o nome de Tecnomacumba. Os cantos e toques das religiões afro-brasileiras e sua sintonia com os ritmos desenvolvidos no uso de instrumentos eletrônicos. O resultado é rico, honesto e sugestivo.

O disco é um produto de nível profissional impecável, uma prova de que o Brasil anda com as próprias pernas. As combinações rítmicas e timbrísticas das programações eletrônicas com os instrumentos tocados por gente são equilibradas.

O repertório é uma antologia de composições sobre o tema das religiões africanas no Brasil - sempre emolduradas por cantos saídos diretamente dessas práticas religiosas. Às vezes somos levados a nos perguntar coisas como, por exemplo, se o canto sobre Tempo ecoa as lavadeiras de Monsueto ou se o samba de Monsueto é que foi tirado daquele canto. Assim, há um rendado de motivos, uma rede de lembranças e referências que dão uma textura interna especial ao trabalho. O resultado fica mais para um pop elegante, em que uma boa banda de acompanhamento é temperada por sons tecno, do que para um mergulho radical no mundo dos batuques e da eletrônica. Mais uma vez, o que ressalta é a voz de Rita, sua segurança simpática (isso não é fácil nem freqüente), seu timbre cheio, seus ornamentos chiques porque personalíssimos, sua nobreza maranhense. Esse disco tem um futuro intrigante e pode vir a dizer mais do que parece agora. Vamos ouvir e esperar.

Caetano Veloso "

Tirado daqui

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