8.25.2008

Apanhado!!!


Este fim de semana foi passado na praia. No Sábado com a Lu e ontem com ela e com mais duas amigas.

Como eu e a Vera tinhamos bicicleta, comprados os bilhetes, dirigimo-nos todas para a última carruagem do comboio. Este vagão é destinado 'as binas uma vez que até metade tem assentos e a outra metade tem um espaço amplo com suportes onde se podem deixar os veículos.

Entrámos: a Vera 'a frente, eu, e a Lu e a Ariane atrás de mim. Ainda íamos no corredor ladeado por bancos, quando senti que alguém mexia na minha mochila. Virei-me para trás, convencida que era a Lu, mas entre mim e ela ia já um moço.

Olhei como quem diz "o que é que se passa"? Mesmo sem proferir nenhuma palavra, ele imediatamente levantou os braços e disse:

- Ai desculpa! Está tudo ok!

Não achei aquilo nada normal e quis muito deitar a mão ao bolso de trás da mochila para verificar se estava tudo bem mas, ao mesmo tempo, tive receio de, ao fazer isso (e estar tudo bem) estar a ser bastante indelicada para com o rapaz. Como já estávamos mesmo a chegar ao fim do vagão, virei-me para a frente e continuei.
Mas senti o gajo outra vez nas minhas costas!
Virei-me para trás de novo e deste vez disse-lhe:

- Queres passar 'a frente? Já vi que estás com muita pressa!
- Não! Não! Queres que te ajude com a tua bicicleta?
- Não, não quero! Fazes favor de passar 'a frente? - respondi-lhe já mal encarada
- Não! Não! Na minha terra as senhoras passam primeiro.

E neste momento deu passagem 'a Lu, ficando ela nas minhas costas. Continuei a andar e ainda disse entre dentes 'a Vera, em Português:

- Tu queres-me ver que este gajo me estava a tentar roubar a carteira?

Mas seguimos.
Acontece que, por a Lu e a Ariane não terem bicicleta, se sentaram um pouco antes de mim e da Vera... o que pôs o rapaz de novo nas minhas costas.

Eu não notei neste pormenor mas sei que senti um desconforto enorme nas minhas costas de novo. Foi um daqueles momentos de inspiração!
Eis que me viro e qual é o belo cenário?
O gajo está naquele preciso e exacto minuto, segundo, milisegundo a sacar a minha carteira e com ela na mão. Como disse, foi um daqueles momentos de inspiração.

Com uma raiva e bravura desconhecidas, que só me assolam em situações destas, em que nem penso bem no que estou a fazer, lancei a mão 'a carteira com toda a força, agarrei-a, deixando o gajo completamente assarapantado e depois (e ainda está para aparecer alguém que me explique como é que tenho descernimento para estas coisas em momentos como este), qual filme, desato aos berros. em Inglês, para que toda a gente no vagão se apercebesse do que se estava a passar:

- THIS IS MY WALLET YOU SON-OF-A-BITCH!!!!!!!!!
WHAT THE FUCK ARE YOU DOING WITH IT???

Literalmente estas palavras!!
O gajo, ali encurralado no corredor, entre cadeiras, bicicletas pessoas e eu, balbuciou um:

- You're crazy!!! - (ainda tentou o ardil de me fazer passar por louca... assim o pessoal demora mais tempo a perceber o que se está a passar) enquanto se tentava pisgar dali a toda a pressa.

Eu, com a bicicleta numa mão, a carteira na outra e numa bela pilha de adrenalina, nem sequer pensei em agarrá-lo, mas enquanto ele passava pelas pessoas, eu continuava a gritar a ver se alguém fazia alguma coisa:

- SHAME ON YOU! YOU THIEF!!!
THIEF!!!!!

E aí, um homenzinho, já mesmo junto 'a porta do vagão, percebeu o que se passava, mas a esta hora já o mafarrico se punha na alheta e corria pela plataforma. O Sr. só me perguntou:

- Ele levou a sua carteira??
- Não, tenho-a aqui comigo! Obrigada!

Foi tudo tão rápido e despercebido que a Lu, acabadinha de se sentar, quando ouviu os berros julgou que era eu a mandar vir com o rapaz por ele ir tão perto de mim e que me pudesse ter apalpado ou feito alguma coisa. A Vera, que estava 'a minha frente e que viu a cena toda na primeira fila, ao ver-me tão furiosa até quis dizer-me:

- Pronto, Inês! Já passou, tem calma!

Ela tinha razão. E se o gajo sacava de uma navalha, ou de uma outra arma? Mas fico tão injuriada com estas coisas que me esqueço desses "SES" todos e vou de peito para a coisa... e pelos vistos faço-o muito bem.

Com o comboio já em movimento e sentada com as minhas amigas (a e gora a tremer que nem varas verdes) o casal sentado nas cadeiras ao lado perguntou-me o que é que se tinha passado, pois só se aperceberam que alguma coisa estava errada quando eu comecei aos berros. Explicada a história, a senhora só me disse:

- Parabéns! Você esteve muito bem! Você é rija!! (You're tough... se bem que traduzido fica meio esquisito).

Pois sou... e sou-o sem sequer pensar, o que qualquer dia até me pode custar caro.
A Lu e Ariane, Brasileiras, e mais tarde o David, quando lhe contei a história, só me diziam que eu não sobreviviria muito tempo no Brasil... reagir assim é pedir por sarilhos ainda maiores. Têm razão, mas não posso desmentir que senti uma satisfação imensa por aquele ladrão não ter levado a dele a melhor... e depois até pensei " mas porque é que não lhe dei uma cotovelada nas trombas?".
E' que é isso mesmo que dá vontade de fazer!

O curioso disto tudo é que, a viver 25 anos em Portugal e já tendo passado um total de 5 ou 6 meses no Brasil (2 dos quais sozinha, a viajar de mochila 'as costas) NUNCA fui assaltada ou roubada. Venho para os USA e a conta já vai em 4:

- uma bicicleta em NYC
- casa assaltada em Boston
- cartão de crédito, dinheiro e carta de condução roubadas do laboratório (e acho que o pífaro/clarinete também, mas até hoje não sei se ele desapareceu do lab ou quando a casa foi roubada)
- e agora esta cena do ladrão

Felizmente, a carteira ficou comigo e recuperei o que roubaram da casa mas... não deviam os USA ser mais seguros?

3 comments:

Rita said...

Ai Inês!!! Só a ti!!! =) Mas é assim mesmo! Uma mulher de coragem!!! A espantar ladrões! Muito bem!!!!

Anonymous said...

Tal como estava a dizer, há pouco, a minha navalhita resolvia a questão... cortava-lhe logo os... suspensórios, as calças caíam e a polícia apanhava-o :) Podes contar.
Fatinito

raquel said...

O que importa é que recuperaste a tua carteira e não te aconteceu nada.