8.24.2012
1 semana de Maria Elis
Hoje faz 7 dias. Há uma semana, a esta hora, preparavamos-nos para conhecer a nossa cria: a Maria Elis (Ê-lísh).
Foi um dia memorável, que ficará para sempre embutido nas nossas recordações e emoções.
Foi assim que a saga do parto começou: Na 5a feira fui 'a consulta das 40 semanas, sendo que já tinham passado 2 dias sobre a data estimada para o nascimento da nossa frutinha tropical. Pelos vistos, se passarem mais de 6 dias, já não se pode parir no centro de nascimentos. E, pese embora eu estivesse já com os 2 cm de dilatação e com cérvix agora a 50% de adelgaçamento, se a bebé não saísse até 2a feira, então lá se iam por água abaixo todos os esforços para conseguir um parto o mais natural possível. Quem me tem seguido por aqui, sabe das trampolinices por que passámos até conseguirmos um lugar no centro de nascimentos.
Para evitar sermos excluídos, a parteira recomendou-me um acupunturista/reflexologista, que me poderia ajudar, de forma mais natural, a iniciar o parto. Ainda no gabinete, liguei para o Chinoca e, em 2:30h já estava no estaminé dele, com agulhinhas espetadas nas costas, pernas, mãos e dedos dos pés, seguido de estimulação dos mesmos pontos, mas desta vez com uma Chinesita a dar-me forte e feio com as suas massagens.
Certinho, direitinho... 'as 23h, enquanto víamos um filme, comecei a sentir o que me pareceram ser contracções. Discretamente, sempre que um contracção começava, levantava-me e ia ver que horas eram, para perceber qual o intervalo entre elas e a duração das mesmas. Estas duravam cerca de 30s a 45s, espaçadas de 20 minutos. Tal como aprendemos nas aulas pré-parto, o parto estava a começar. Uma vez que se mantinham consistentes, antes de todos nos deitarmos (a Elis esperou pela chegada dos vovós no dia 8 e a casa estava cheia para a sua chegada) já ficou toda a gente de sobreaviso. Amanhã, 6a feira, seria o grande dia.
Consegui dormir da meia-noite 'as 4 da manhã. Mas, a partir daí, as contracções já começavam a incomodar e não dormi mais. Ora ia 'a casa de banho, ora caminhava, ora me sentava sobre a bola de pilates, ora me deitava (e aí a coisa piava mais fino)... mas nada aliviava o desconforto. Telefonei 'a parteira perto das 8h. Ironia das ironias, foi justamente quando estava ao telefone com ela que as contracções me deram para vomitar. Então a coitada, durante um tempo só me ouvia a deitar a carga ao mar ou então a gemer e a interromper a conversa, porque lá vinha uma contracção. Ossos do ofício.
Sugeriu-me 30 minutos num banho de imersão, que ajudaram muito, e pediu que ligasse daí a 2 horas, quando, provavelmente as contracções iam durar 1 minuto, com intervalos de 5 minutos. As contracções bem aumentaram de intensidade e duração, mas o tempo entre elas, continuava nos 8-7 minutos. E a parteira a julgar que eu não estava a progredir. Fiquei nisto até 'as 13h, altura em que me disse para ir para o hospital, para me examinar, uma vez que já estava com contracções há mais de 12 horas.
Lá fomos nós: táxi (eu bem queria ter andado para lá mas, nesta altura, já não dava), uma contracção desgraçada enquanto o motorista acelerava pelas ruas de NY, mais um vomitanço (já prevenidos, levámos o saquito de plástico), e eis que chegámos ao hospital. Uma vez lá, 12º andar e triagem, para depois passar, se tudo estivesse bem, para o centro de nascimentos, no andar de baixo.
Ao ver-me lá, sentadinha na cadeira, a sorrir e a falar com o David, só interrompida por contracções que me faziam arfar para controlar a sensação (e, vá, pronto, mais um vomitanço), a parteira disse logo: deves estar com 4cm de dilatação. Se estivesses mais e em parto activo, de certeza que não te conseguias rir ou sentar aqui 'a espera.
C'um caneco, pensei eu, não me digas que agora é o meu cérvix que me vai sabotar e que me vai fazer parir aqui em vez de no centro?! Mas eu própria também já me começava a sabotar, pois pensava: se com 4cm dói isto, não quero imaginar como será aos 9cm e aos 10cm. Será que consigo?? Não estava a morrer, mas imaginar algo com uma magnitude de quase o triplo, não me animava muito.
Passadas 2 horas 'a espera (sim, 2h, porque também não havia pessoal suficiente no centro de nascimentos e não me podiam levar para um quarto sem haver uma enfermeira designada, para além da parteira... tudo a ajudar), eis que a parteira nos chama e nos dá a boa nova: boas notícias!! Vamos para o centro de nascimentos! Já temos enfermeira! Agora, só tens que estar com, pelo menos, 4cm de dilatação... caso contrário, já estás em trabalho de parto há mais de 12h, sem progressão... e terás que vir aqui para cima. E eu, cá para os meus botões, vai cérvix, dá-lhe, dá-lhe... dilata pah!! Eu realmente, tirando os momentos em que tinha que controlar a contracção, estava fina.
15:30h - Chegados ao quarto, eis que a parteira finalmente me examina. Ela não queria acreditar e só dizia: não é possível!! não é possível!! Ela está com 9cm de dilatação (ou seja, só faltava mais 1cm)!! E conseguiste estar lá em cima, a falar, a sorrir, sentada 'a espera 2 horas?! Incrível!! (devo dizer que esta é a 2a vez que deixo um técnico de saúde banzado. Já uma outra vez, com 12 anos, fui ao hospital porque julgava ter o braço partido. Ou antes, o meu pai insistiu que fôssemos, pois a minha mãe também não se queria crer que pudesse estar partido. Ao ver-me, tão caladinha, sem chorar e só a dizer "dói", disse logo que não podia estar partido. E estava mesmo. Voltando ao parto...). Como dizia o outro (mais ou menos): a dor a mim é uma coisa que não me assiste, hehehe. E eu, delirei com os 9cm de dilatação... e acho que foi aí que esbocei o único sorriso da sessão de parto, pois a partir daí, 'a medida que a coisa progredia, só me tentava concentrar, respirar, gerir a sensação.
Porque não conseguia manter nada no estômago, marchou um litro de soro intravenoso, que me deu energia para levar a coisa até ao fim. O jacuzzi também ajudou muito, pois a água quente e a ausência de gravidade aliviaram a pressão das contracções. E, claro, o apoio do David, que esteve lá, sempre de ânimo em cima, a encorajar-me e a apoiar-me. Inteligente, percebeu que por vezes o melhor era mesmo deixar-me sossegada, a concentrar-me no que quer que estava a sentir. Quando percebia que eu "voltava", dava-me pedacinhos de gelo 'a boca, que me sabiam pela vida.
A parteira previu que, uma vez que eu afinal estava a progredir tão bem, lá pela hora de jantar o bebé estaria cá fora... ao fim de 1h no jacuzzi, já eu sentia vontade de fazer força (lá pelas 17h). Mais uma vez, a parteira não queria acreditar (de certeza que ainda não tinha conhecido uma mulher do norte, carago :)). Apressaram-se a tirar-me do jacuzzi e a passar-me para a cama, porque, afinal, o bebé ia estar cá para fora bem mais rápido do que anteciparam e aquela banheira não é própria para partos dentro de água.
Esta transição foi difícil, pois as contracções já me impediam de andar e vinham bastante seguidas, e todo o meu corpo tremia que nem varas verdes. Contudo, experientes, a enfermeira e a parteira lá me conseguiram levar para a cama e pôr-me sobre uma cunha, de cócoras, com os pés sobre o colchão. Porque até aqui as águas ainda não tinham rebentado (o que foi óptimo, pois assim o pressionar do cérvix estava a ser absorvido pelo líquido amniótico), durante uma das contracções puseram-me deitada de lado e disseram-me para resistir ao desejo de fazer força. Só respirar. Caramba, aquela posição era horrível para uma contracção daquele calibre. E só respirar... difícil. Mas, funcionou: as águas rebentaram, saiu um esguicho de água quente e eis que senti o bebé no canal vaginal.
De volta 'a cunha, desta vez sentada no colchão porque já não conseguia fazer muito mais, eis as instruções que me indicaram que o fim estava próximo: segura as suas pernas por baixo do joelho, cotovelos fora da cama. David, segure essa perna, eu seguro esta, dizia a parteira. Quando a contracção começar, vai fazer força. Não fala, não faz sons, só empurra, empurra, empurra... o seu bebé vai sair, está quase a conhecê-lo/a!! Eu bem tentei fazer isso, mas quando o empurrar me fazia sentir um ardor e um queimar indescritível (o que eles por aqui chamam de "ring of fire", nome digno de uma saga do sr. dos anéis), eu não conseguia mais suster a respiração e empurrar e aí, berrava a bom berrar.
Coitadinhos dos meus pais. Na sala ao lado, 'a espera, a ouvirem tudo pela parede que nos separava, agonizaram a todas as tentativas de pôr o bebé cá para fora. A eles pareceu-lhes uma eternidade mas, pelos vistos, foram só 5 puxões (o que mais uma vez banzou a parteira, heheh).
A cada "push push", a sensação que me dava era de que, pese embora a pressão e o ardor, nada acontecia. Não sentia uma cabeça a passar, uns ombros, nada. E a parteira, a enfermeira, o David a dizerem-me, está quase, está quase, mas não me diziam o que era o quase. E eu convencida de que, pese embora o meu esforço hercúleo, do bebé ainda não se via nada. E foi aí que dei de caras com a tal "parede" que se descreve numa maratona: é aquele momento em que o desespero é tanto que pensamos em desistir, mas desistir também já não é uma opção. E aí, temos que nos entregar ao que estamos a sentir, baixar as defesas e deixar que o momento impere... e fiz muita, muita força, ignorando a dor, o ardor, o queimar, o desconforto... tudo. E, passada a contracção, estava ensopada em suor, escorria-me por todos os poros.
Ainda sem perceber qualquer manifestação de quem me rodeava que me indicasse em que estado estava a saída do bebé (o que mais me convenceu que ia ficar entre a espada e a parede por muito tempo) dei por mim a dizer o impensável: "não consigo! não consigo!". Afinal, tinha acabado de dar tudo de mim. E nada? Fui acordada das minhas conjecturas pela parteira. Disse-me "abra os olhos, olhe para aqui, debruce-se!"... e eu continuava "não consigo! não consigo!". E ela insistiu: "consegue sim, olhe, debruce-se".
E olhei e nem queria acreditar no que vi. Ali, 'á minha frente, aquele pedaço de nós que mimei e nutri por 9 meses, estava já com a cabecinha e os ombros de fora. "Tire o seu bebé, pegue nele!!" E, de repente, já era capaz de tudo, já tinha forças, já me mexia qual atleta e, num ápice, peguei-lhe por baixo dos bracinhos e trouxe-o para cima de mim.
A emoção é indescritível!! Aquele corpinho, tão delicioso, em cima do meu. Tão quentinho. Aqueles olhinhos a olharem-me. A procura imediata do peito, com aquela boquinha aberta, após o choro que anuncia a vida. Eu só chorava e abraçava aquele pedaço de nós: oh bebé! oh bebé!!... e não conseguia dizer mais nada. Olhei para o David e vi nos olhos dele a mesma emoção.
Foi tão lindo, tão lindo que é impossível descrever!
Já mo tinham descrito muitas vezes, mas nada consegue alcançar a dimensão daquele momento. Desapareceu tudo, já não sentia qualquer desconforto ou sequer me lembrava daqueles 5 puxões, das contracções... estava tudo para trás. O David, igualmente, viajava comigo nesta dimensão. Só passados uns segundos é que perguntei: é menino ou menina? 'mor, diz-me, quero saber por ti. Como se chama o nosso bebé? Com a emoção, ninguém se tinha lembrado de verificar o sexo da criança. Orgulhoso, o David disse-me: é a Elis!! :)
Assim, a nossa frutinha tropical nasceu com 3,45 Kg e com 53 cm de comprimento. Nasceu 'as 17:27 do dia 17 de Agosto de 2012. É muito saudável, passou todos os testes com distinção e saiu muito rosadinha e limpinha, nem parecendo uma recém-nascida.
Mama bem, dorme bastante e já tem o organismo todo a funcionar (viva as fraldas com cocó e xixi e os peidinhos, aqui e ali, que é para rimar). Chora pouco, mas quando o faz, fá-lo assertivamente.
Eu, pelos visto, virei a estrela do dia com a minha performance, que foi mais que fantástica e rápida. A parteira abraçou-me e disse que eu era a heroína dela naquele dia. A enfermeira que nos assistiu só dizia que os internos, no hospital, deviam assistir a partos como o nosso para perceberem que as induções, cesarianas e intervenções podem ser evitadas e que um parto é algo natural e para o qual estamos preparadas. Não tem que ser visto, necessariamente, como uma intervenção ou operação.
E, todas as enfermeiras, pediatras e técnicas que apareceram durante as 24h que lá estivemos, me deram os parabéns pelo parto magnífico e rápido que tive (para além de darem também os parabéns por a Elis ser uma perfeição). Fiz mesmo sensação. Cheira-me que isto é mesmo coisa das mulheres do norte! :)
Voltámos para casa no Sábado, dia 18, e estamos todos bem. Tirando o desconforto dos 3 pontos que levei (pelos visto, fiz lacerações que, numa escala de 1 a 3 correspondem a um
-1 e, portanto, mínimas e de rápida recuperação), nada me faria mudar de ideias sobre o parto da maneira que foi. Aliás, quando agora pego na Elis ao colo e fico embevecida a admirá-la e a lembrar o momento em que a pus em cima de mim, só penso que quero mais bebés e mais momentos assim. Ainda viro a Susaninha da Mafalda!
É uma experiência única e nunca me senti tão mulher, tão completa e tão feliz!
Feliz aniversário de 1 semana filhota e obrigada por seres o melhor presente que alguma vez recebemos.
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4 comments:
Parabens, a tua menina e linda!!! Felicidades para todos
Fiquei emocionada com a tua descrição. Foi perfeito, só faltou mesmo teres andado até ao hospital ;)
Muitas Felicidade, Inês.
Bem-vinda, Elis :)
Tudo de bom,
Cláudia
Que emocäo de descricäo Inês! Parabéns e que sorte teres tido um parto täo rápido e um corpo que aguenta täo bem a dôr.
Parabéns pela Elis - é linda mesmo um amor!!
Ines, muitos MUITOS Parabens e obrigada por partilhares connosco este momento tao unico e pessoal. Foi o relato mais verdadeiro e doce que ja li de um parto. Muitas felicidades para a Maria Elis e para a nova familia.
beijinhos,
Susana Pires
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