Ando a escrever a tese de doutoramento. Aproxima-se a recta final.... que é sempre a mais difícil.
Há stress, há frustração, há tédio, há momentos de inspiração... seja o que for que há, lá que é intenso, é.
Sempre reagi bem ao stress, 'a pressão e a prazos. Não baixo os braços facilmente e os que me conhecem vêem-me como uma lutadora. A minha mãe diz-me "ah, mas tu és a Inês", como quem fala de uma força invencível. A minha prima hoje dizia-me "fazes isso com uma perna 'as costas... afinal, és tu!".
Tudo muito verdade. E' sim verdade que sempre mantive o nível, sempre fui profissional e perfeccionista mas... será que tudo isso vem sem um preço?
Eu pensava que sim, até 'a última surpresa que preguei a mim mesma.
Antes de ir para Portugal, em Julho, para nos casarmos, andei numa roda viva para escrever e submeter um artigo (que já foi aceite, diga-se). Foi mesmo até 'a última... até 'a última mesmo! No dia da viagem, estive no lab até 'as 17h, com um vôo 'as 22h e as malas ainda por fazer. Quando entrei no avião, nem queria acreditar. Mas, se respirava fundo e saía do stress de Boston, estrava também no stress de Portugal, dos últimos preparativos do casamento, festa essa que já vinha a acusar o peso da sua organização há quase um ano. Afinal, se um casamento per se já é difícil de organizar, 'a distância ainda se torna mais complicado.
Foram 9 dias sem parar até ao grande dia. E a Inês, sempre de pedra e cal, sem uma beliscadura... aparentemente.
Passou-se o casamento, passaram-se os dias de férias, os momentos com a família... de repente, aeroporto, despedida, abraços que não queremos terminar, lágrimas... e já cá estávamos de novo.
Foi tudo tão rápido!
E cá estávamos nós de novo. De novo no lab, mais trabalho, mais isto, mais aquilo, mais, mais....
Naquela noite deitei-me como em todas as outras. Não fiz nada de especial, nem sequer fui ao ginásio. Adormeci ainda antes de o David chegar do trabalho, já de madrugada. Senti-o chegar, entrar na cama. Abracei-o ensonada, acarinhámo-nos, aconcheguei-me naquele cantinho dele e voltei a adormecer.
Sonhei. O sonho ficou desconfortável. Senti dor... e o sonho confundiu-se com a realidade. A dor não era no sonho, era aqui, agora, neste preciso momento, sempre que me tentava mexer. O mais pequeno movimento, mesmo que de 1 mm, provocava-me imensa dor.
Acordei com a dor, assim... de rosto no colchão e braços a fazer de almofada. E não conseguia sair dessa posição. Estava paralisada.
Assustei-me, tentei perceber bem o que se estava a passar. Sim, estava acordada e sim, não me conseguia mexer. As dores eram atrozes. Tentei mais uma vez deslocar-me, sem sucesso. Involuntariamente as lágrimas já me escorriam pelo rosto.
- David... ajuda-me! - e choramingava, num misto de dor e receio.
O David ouviu-me mas, porque falo durante o sono, assumiu que eu estava a sonhar. Não ligou.
- Amor... é a sério. Ajuda-me, não me consigo mexer - lamuriava-me, de rosto virado para a parede mas percebendo que ele não se tinha virado para mim.
Aí, ele percebeu que era a sério. Ficou assustado, como eu, mas tentou manter-me calma. Não sabia bem como me ajudar, pois qualquer toque resultava em dores tremendas, mas, ao poucos, muito aos poucos, conseguiu virar-me e soerguer-me. Com muito carinho e cuidado, despiu-me, vestiu-me, penteou-me, calçou-me.
- Calma, vai correr tudo bem!! - sussurrava-me.
Chegados ao hospital, entrei nas urgências.
O diagnóstico: contracção aguda dos músculos das costas e do pescoço.
Como é que isto acontece? Devido a má posição a dormir ou reacção ao stress.
- Stress!? Mas eu vim de férias - pensei.
Mas sim, essa foi a razão. Porque me submeti a dias e dias de muitas horas de trabalho, dias e dias de má alimentação, quase ou nenhum tempo de sono, directas, muitas manhãs a nascer quando a minha noite ainda não tinha acabado, seguido de preparativos e mais preparativos, o meu corpo não teve tempo para se recuperar. Ou antes, quando ainda se estava a recuperar, voltou logo ao trabalho.
Resultado, revoltou-se e disse-me: aguenta lá aí que eu ainda não estou pronto!
Desta feita, levei de imediato uma injecção de relaxantes musculares (que me deixou o rabo a doer... mais uma dor a juntar 'as outras), e passei os próximos 12 dias a tomar medicamentos para as dores e valium, um relaxante muscular extraordinário, acompanhado de descanso total.
A ver se aprendi a lição e se levo esta coisa da tese com mais calma.
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5 comments:
Parabens pelo paper!!! :) E, claro, as melhoras! Ve se descansas e nao stresses muito com a tese... se possivel ;)
Bjinhos
Catarina
Cada um reage ao stress de uma forma! E nao conheco nenhum doutor que nao tenha tido algum tipo de reacao colateral no periíodo de gestacao da bendita tese. Mas, podes ter certeza tudo vai terminar bem.
Grande abraco e beijinhos
Jerusa
Torço por sua melhora você já está se tornando minha amiga.
todos os dias eu entro no seu blog para ler alguma coisa é legal
beijos
laura
laura.silva.6@hotmail.com.br
Olá!
Noutro dia li num blog que falava sobre teses a seguinte frase: 'Termina a tese, mas não deixes que ela termine contigo':)
parece apropriado:)
Força!
exactamente!
não vale a pena, porque no final corre sempre tudo bem e a única motivação que deves sentir agora é mesmo a sensação pós-orgásmica mais intensa da tua vida, assim que acabares de defender a tese! São horas e horas de leveza, de sorrisos, de HARMONIA!!!!!!
bjs e toma conta de ti:)
(ps. adorei a foto escolhida!)
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