9.14.2011

A viagem de regresso: 2a parte



Confesso que, enquanto deitavam ao lixo toda a minha comidinha na alfândega dos EUA, tive vontade de perguntar se podia comer uma fatia daquela pizza deliciosa que assim se desperdiçava. Mas, não fosse o diabo tecê-las, decidi ficar caladinha (e cheia de fome) e tentar sair daquele embróglio o mais rapidamente possível.

Ainda bem que assim o fiz porque, caso tivesse alguma coisa no estômago, de certeza que o tinha vomitado perante o cheiro nauseabundo que se fez sentir na zona de (re)check-in e passagem pelo raio-X, onde toda a gente tem que se descalçar. Como diria o Herman, de certeza que havia por ali alguém que já tinha morrido e ainda não tinha recebido o aviso em casa. O cheiro era horrível e infestou o terminal todo. Era ver TODA a gente, de TODAS as filas a torcer o nariz, os seguranças com os dedos a apertar as narinas, uma maravilha. Aposto que se os cãezinhos catitas que cheiraram a minha mala cheirassem aquilo, caiam para o lado e ficavam incapacitados olfactivos para toda a vidinha. Olha, era da maneira que o meu salpicão se safava!!
Enfim.

Passado mais este tormento, chego finalmente 'a porta de embarque, para um vôo de cerca de 20 minutos, de Filadélfia para Nova Iorque. O meu estômago voltou a dar sinal de vida e ainda pensei em comer alguma coisa mas "ah, são só 20 minutos, como quando chegar a casa", pensei.

Caminhámos pela pista, deixamos a nossa bagagem de mão no carrinho 'a entrada do avião e entrámos num teco-teco minúsculo, com 2 hélices e que começou a tremer por todo o lado assim que estas entraram em funcionamento. Ficámos a curtir aquele torpor e barulho durante uns bons 20 minutos, altura em que, finalmente, nos começámos a deslocar na pista. Andámos, parámos, andámos, parámos e nada de descolarmos. Passam mais uns 15 minutos e o capitão finalmente diz-nos que estamos em 9ª posição para sairmos e que, dentro de 15 minutos, devemos estar no ar. E com isto, já se tinham passado quase 40 minutos e o meu estômago continuava a reclamar... e a suspirar pela pizza e pelo salpicão.

Esperamos 5, 10, 15, 20 minutos, e as hélices ensurdecedoras a dar a dar, nós a termermos (ou seria o meu estômago aos pinotes?) e nada de sairmos de Filadélfia. Finalmente, o PA de novo, a voz do capitão e a esperança de que fossemos ouvir "é agora".

Não.

"Ah, vamos ter que abortar a descolagem porque passou agora um avião por nós que nos alertou para o compartimento de carga mal fechado, com algo a sair. Vamos ter que encontrar um local para estacionar e verificar o que se passa".

Éláh, isto é todo um novo nível. Possibilidade de ter as malas a voar pelo ar é novidade. Lindo!

E lá fomos nós passear pelas pistas do aeroporto. O cenário era meio surreal: o avião a andar, o pessoal todo a tirar os cintos, a ligar os telemóveis e a falar a contar as novidades. Parecia uma excursão só que, na falta de um autocarro, olha, peguem lá uma avioneta. Lá se passaram mais uns 10 minutos quando finalmente parámos, o capitão saltou lá para fora, saltou a hospedeira, voltaram para depois nos dizerem: está tudo bem!! Afinal não se passa nada. Era só a tira de fechar o compartimento que criou a ilusão de óptica. By the way, agora vamos ter que esperar que venha o camião com combustível, porque temos que reabastecer."

UAU, tudo o que eu queria: esperar AINDA mais.

Depois de mais de 1 hora com as hélices ligadas, já não tínhamos que chegasse para o vôo de 20 minutos. Até eu já estava sem combustível de tão coladinho 'as costas que estava o meu estômago. Desculpa lá amigo, devia ter pedido aquela fatia de pizza!

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