A Dra. D.
foi de patins! Adios muchacha!
Como vos
disse, adorei a minha médica quando a conhecemos a primeira vez. Contudo, 'a
medida que as consultas progrediam, comecei a notar que me despachava a grande
velocidade e que aquela atenção inicial foi mesmo só coisa de princípio. Sentia
que era só mais uma das suas pacientes e que não recebia o tempo e a atenção
que desejava. Se já sentia um pouquinho isto, a coisa intensificou-se na última
consulta com ela, quando lhe comecei a fazer perguntas, a questionar sobre o
teste da glucose, sobre o parto e percebi que a estava a chatear eu querer
saber tanta coisa.
Não sei
se é porque sou cientista ou não. O que é certo é que as instruções que recebi
sobre o teste de glucose foram para não comer nada a partir da meia noite e no
dia seguinte, de manhã, beber uma solução açucarada, marcar a hora e, passado
uma hora, estar no consultório para tirar sangue e ver como processei o açucar.
Ora, se não sabem os meus níveis de açucar iniciais, como vão saber se
processei bem ou mal? Telefonei a perguntar isto. A médica não estava e depois
ligou-me, deixando uma mensagem de voz que mais parecia um atestado de
estupidez: o teste é assim assim e assado (como expliquei). Se acha que estas
instruções são muito difíceis de seguir e tiver dificuldades, venha cá que eu
explico de novo.
Para além
de parecer um atestado de estupidez, não respondia de todo 'a minha questão.
Mas, mesmo assim, lá fiz o que me mandaram e no dia seguinte estava lá para
tirar sangue. Esperei no consultório para que me visse. Quando entrou, nem olá,
nem como vai nem um sorrizinho. Carrancuda, a olhar para baixo, foi directa ao
assunto: mas que coisa foi aquela de dúvidas quanto ao teste?
Para além
de ficar meio carrancuda com as minhas dúvidas, ainda deu de estar a olhar para
o telemóvel enquanto eu falava com ela acerca das dúvidas e questões que tenho
quanto ao parto. Quero que seja o mais natural possível, com o mínimo de
intervenções e drogas (se possível), quero que o bebé venha logo para cima de
mim em vez de o levarem embora, quero poder andar e mexer-me enquanto em
trabalho de parto... tudo recebido com muito pouca abertura. Não gostei. Saí de
lá bastante insatisfeita e também com a ideia de que, quando a altura chegar,
não só vou ter que enfrentar o parto como ainda lidar com resistência por parte
da médica quanto 'as coisas se passarem da forma que eu quero e não acabarem
numa cesariana só porque é mais prático.
Não sou
louca ou radical de arriscar a minha vida ou a do/a bebé por um parto natural e
sem drogas. Contudo, se estiver tudo bem, queria muito que me fosse dado o
tempo e a flexibilidade para o meu corpo e o/a bebé fazerem o que têm a fazer,
sem drogas, induções ou epidurais. Como disse, tudo isto pode mudar na hora H,
e estou aberta 'a possibilidade, mas quero saber que a possibilidade de a
Natureza fazer o que tem a fazer está lá. Desta feita, saí de lá resoluta a
encontrar um médico mais "natural" e que me aceitasse após as
25 semanas.
Consegui!!
Agora
tenho um novo médico, todo a favor das coisas naturais, que já conhecemos e de
quem gostámos muito. Como tudo na minha vidinha, a coisa não foi trivial. Mas,
com esforço tudo se consegue e ficámos muito felizes com o Dr. Moritz.
Passo a
contar a mini-saga: quando percebi que a médica com quem estava não era muito
inclinada a um parto natural e que, provavelmente, me traria resistência numa
altura em que já tenho mais com que me preocupar (nomeadamente, pôr a
criancinha cá para fora), fiz alguma pesquisa e encontrei um hospital aqui em
NY com um birthing center (centro de nascimentos, daqueles com quartos com
jacuzzi, bolas de pilates e toda a liberdade para se ter um parto sem drogas),
que era exactamente o que eu queria. Contudo, quando telefonei, e por já estar
de 25 semanas na altura, não existiam mais vagas. Fiquei meio triste e acho que
a Sra percebeu do outro lado da linha, pelo que me disse que, pelo menos, me
podia pôr em contacto com médicos que fazem partos nesse mesmo hospital (no
andar acima do birthing center), que são, 'a partida, médicos com uma mente
mais aberta e com uma filosofia que vai de encontro 'a minha. Aliás, muitos
deles trabalham nos 2 andares.
A solução
satisfez-me, pelo que, assim que desliguei, desatei a telefonar para todos os
números que ela me deu. Recomecei a ficar desanimada, pois sempre que contava a
minha história e que dizia que estava de 25 semanas, todos me respondiam que já
era muito tarde, que só aceitavam grávidas até 'as 20 semanas. C'um caneco!!
Muito tarde!??! Então ainda a procissão vai a meio e vou ter que me resignar a
ficar com um médico que não me satisfaz? E se eu me tivesse mudado ou se a
médica tivesse batido as botas, ia ficar sem cuidado médico? Não me resignei. E
tanto telefonei e tanto insisti que uma alma caridosa me deu os minutinhos que
queria para me explicar um pouco mais do que só dizer que estava de 25 semanas
(altura em que me cortavam logo o pio). Assim, passados uns dias tinha o
Dr. Moritz a ligar-me, para saber mais sobre a situação, para me
conhecer um pouco e que simpaticamente me aceitou, pese embora o estado
avançado (?) da minha gravidez. Ter feito os 64km do Bike New York no dia
anterior acho que o convenceu que eu era mesmo uma grávida saudável e que não
lhe estava a tentar passar a perna.
Fiquei
felicíssima com a conquista e, por osmose, o David ficou também, pois o que ele
quer é ver-me feliz :)
Toca de
fazer mais uma pesquisa, desta feita sobre o médico, e está visto que nos saiu
um com bónus. Não só as avaliações sobre ele são óptimas, como o tipo ainda é
um tipo de estrela de Hollywood, com participação em vários documentários sobre
partos (inclusivamente um que eu já tinha visto e que me fez mesmo querer
tentar o parto natural), bem como com o seu próprio programa televisivo, tipo
Dr. Oz. Nem 8 nem 80, pensei. Se calhar agora tenho que lidar com uma diva. Mas
não. Atendeu-nos de forma extremamente simpática, pese embora já fossemos das
últimas consultas do dia. Falou um pouco de Português connosco, do pouco que
sabia, ouviu todas as nossas questões, sempre encostado, de braços cruzados,
atentamente e com aquela expressão de que não tem pressa nenhuma. Isto soube
bem melhor do que a médica anterior, sempre com a mão na maçaneta da porta
assim que eu começava a perguntar coisas. Deu-nos mesmo a sensação de respeitar
a nossa vontade, aconselhou-nos a ficar em casa o mais possível na altura do
parto, que é mais confortável. Avisou e preparou o David, contudo, de que ele
se ia passar quando o parto começar e que vai querer logo levar-me para o
hospital. "Foi assim comigo", disse ele meio cúmplice, "mesmo
sendo médico. Mas, quando é a nossa companheira e a nossa criança, somos todos
humanos e o que mais queremos é passar a responsabilidade a quem sabe mais ou
está mais apto". Explicou-nos também que as enfermeiras são donas e
senhoras das decisões, pese embora ele seja o médico, pois ficam connosco muito
mais tempo e só querem que lhes facilitem a vida. No entanto, temos que ser
assertivos na nossa vontade e querer e tudo será respeitado.
Como se
já não bastasse tudo isto ser música para os nossos ouvidos, também tivemos a
inesperada oportunidade de ver o/a bebé, coisa que antes não acontecia no
consultório médico mas sim num gabinete da especialidade.
1 comment:
Inês
fiquei muito feliz ao ler seu relato. No inicio apreensiva. Poxa como o período de pré natal faz diferença para o parto e pós parto... Mudar de médico foi uma decisão certeira. Pois, imagina não ser respeitada num momento tão especial como este.
Já participei de inúmeros partos e como é importante a valorização do processo natural.
Que bom, no final ter dado tudo certo.
Estamos na torcida.
abraço
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