3.09.2007

Uma pessoa vai para uma coisa... e sai-lhe outra

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Pior do que ter dinheiro, os meus cartões de crédito e carta de condução roubados foi mesmo a renovação desta última.

A confusão começou logo quando a agente que tomou conta da ocorrência me disse que, mediante a apresentação do relatório policial, poderia requisitar uma nova licença gratuitamente.

Depois de bastantes telefonemas para a esquadra e mais um e-mail ao caramelo do Sargento, ou lá o que é que ele é, que nunca se encontrava no gabinete, lá consegui o dito documento.

Verifiquei online que outros requisitos eram necessários para a renovação da carta e, de passaporte e cartão de segurança social em riste, lá telefonei eu ao David para que, no fim do dia, me viesse buscar ao laboratório para irmos ‘a DMV.

- Quando eu chegar do emprego? – lamuriou-se o David – mas eu estou cheio de fome!
- É rapidinho, prometo. Só tenho que entregar estes papéis e já está!
- Será!? E’ rapidinho mesmo?
- Rapidinho! Prometo.

Mais valia estar calada. Juro que me lembrei desta cena **, em Nova Iorque. (ver no fim)

Chegados ‘a repartição, estacionámos o carro, saímos, entrámos, subimos as escadas rolantes e ficámos na fila.

- A minha carta de condução foi roubada e venho requerer uma segunda via.
- OK. Preencha este formulário. São $20.
- Tenho aqui o relatório da polícia que confirma o roubo. Fui informada de que não teria que pagar nada nestas circunstâncias.
- Sério? Foi mal informada. Tem que pagar $20.

Desprevenida para esta situação, não tinha qualquer dinheiro.

- David, tens dinheiro?
- Comigo não, deixei tudo no carro... não era um coisa rápida?
- Eeerr... afinal tenho que pagar. Temos que ir até ao carro.

Descemos as escadas rolantes, saímos, fomos até ao carro, tirámos o cartão de crédito do David, voltámos, entrámos, subimos as escadas rolantes e lá estávamos nós de novo na fila.

- Ai, estou com tanta fome – queixava-se o David.
- Já já vamos embora. E’ só pagar e já está – tentava eu tranquilizá-lo enquanto lhe afagava o cabelo.
- Aqui está – disse eu, estendendo o cartão de crédito para a funcionária.
- Ah, lamento mas não aceitamos ESSE cartão de crédito (de todos tenho logo o da marca que nãoa ceitam... humpf).
- Quê?!?! – e nesta altura o David olhou para os céus como quem diz “mas não ia ser rápido?”
- Tem que ser em dinheiro! - virei-me eu para o David - tens algum? Eu não tenho mesmo nada.
- Tenho... mas está no carro.

E vai de novo: descemos as escadas rolantes, desta vez a arrastar um David mais lento e desanimado e uma Inês algo frustrada, saímos, fomos até ao carro, o David deu-me a nota de $20, voltámos... espera, voltei, porque aqui o David já tinha decidido que não ia gastar as poucas energias que lhe faltavam a andar para cima e para baixo. Ficou no carro.

Então, voltei, entrei, subi as escadas rolantes e, pela terceira vez, fiquei na fila... e entretanto já se tinha passado mais de meia hora e não apenas 5 minutinhos, como eu esperava.

- 20$, aqui está – disse eu já sem paciência nenhuma, estendendo-lhe a nota.
- Ah, lamento mas não aceitamos dinheiro.
- Lamenta o caraças (pensei eu). Mas então não aceitam nada?!?!
- Está aqui escrito – apontou com desdém e sem sequer olhar a funcionária para um letreiro amarelado.
- Está a gozar comigo não está?

Ao ver-me tão desesperada disse-me:

- Se quiser, pode ir até ‘ CVS no rés-do-chão e pedir que lhe passem um vale de $20 dólares. Isso aceitamos.

Soltei um fortíssimo suspiro de enfado e lá fui eu: desci uma escada rolante, outra escada rolante, atravessei o corredor e entrei na CVS.

- Gostaria de obter um vale no valor de 20$, por favor.
- OK, são 20 dólares e 89 cêntimos.
- Nãããããããooooo!!!!!! – disse eu praguejando para os céus e já a arrancar os cabelos – não pode seeeeeeerrrr!!! (acho que até ecoou)

O funcionário olhava-me sem perceber nada enquanto eu quase espumava pela boca.

- Oitenta e nove cêntimos!?!?! – exclamei eu como se de uma fortuna se tratasse – mas eu só tenho $20!
- Então não lhe posso passar o vale...

Se o olhar matasse, teria fulminado o homenzito logo ali, com requintes de malvadez de lhe pôr os macacos do nariz a arder e piri-piri no "sim-senhor".

Saiu a Inês a deitar fumo por tudo quanto era lado (estranho os alarmes de incêndio não terem disparado!). Atravessei o corredor, subi o primeiro lanço de escadas rolantes, subi o segundo, saí, voltei até o carro onde, quando me viu abrir a porta, me recebeu um David esperançoso:

- Vamos?! – disse ele já com a chave na ignição.
- Eerrr... ainda não ‘morzito! Desculpa lá. Raio da mulher não aceita dinheiro e faltavam 89 cêntimos para eu poder fazer um vale na CVS. Vamos ver se aceita cheques... era só o que faltava.

Escusado será dizer que o David só não se atirou da ponte porque não havia nenhuma ali perto.

E lá regressei eu, de livro de cheques em punho: atravessei a rua, entrei, subi as escadas rolantes, pus-me na fila e esperei qual animal enjaulado.

- Aceita cheques, certo? – rugi eu não dando qualquer espaço para que a funcionária me contrariasse quando chegou a minha vez.
- Sim! - respondeu em sentido.

Quase não acreditava no que os meus ouvidos escutavam. Após quase 1:30h, consegui finalmente requesitar a porra da carta de condução e pudemos, finalmente também, ir para casa e o David pode comer... coitadinho!

Maridinho sofre!

** Fragmento do "Casaco Amarelo em NY

"(...) Hoje queria ir igualmente nadar mais um pouco mas, os planos foram todos por água abaixo... ou antes, ficaram sem água! Queria comprar bilhetes para um espectáculo da Broadway e, para tal, caminhei até Washington Square, onde se encontra o polo principal da NYU e também a central de bilhetes, onde há descontos para estudantes (só mesmo nessas circunstâncias é que posso adquirir ingressos para tal evento). Chegada lá, bati com o nariz na porta. A bilheteira só abria às 12:30 e eu não podia esperar porque tinha embriões a crescer. Assim, voltei para o lab e decidi comprar os bilhetes da parte da tarde. Planeei ir lá às 17:30 para regressar por voltas das 18:30, o que ainda me dava tempo para ir nadar dessa hora até às 20h. Qual quê... o plano até era bom e exequível mas, a totoinha da Inês pura e simplesmente "perdeu-se" no metro. O que se passou foi que na linha que eu queria passam 4 metros, uns que param em todas as estações e outros que vão directos a paragens mais longínquas. De início apanhei um destes e vi a paragem que eu queria passar-me à frente. Assim que pude, saí e tentei parar na estação que queria no regresso. Parecia um filme cómico... mais uma vez, meti-me num metro que me permitiu uma vista previlegiada da dita plataforma, mas sem parar lá. Voltei, então, ao ponto de partida. Dou nova olhada ao mapa, excluo o metro W (que era no qual eu tinha feito esta primeira tour) e vai de decidir que o que eu queria era o N, Downtown. Espero na linha correspondente, vem o metro e entro, toda contente. Pois, pois... vai de ver outra vez a "8th street" (paragem que eu queria) a passar à minha frente e népias de conseguir lá chegar. Acontece que na mesma linha que o N corre o Q e eu não reparei que estava a entrar neste último. No regresso, nova tentativa para ficar na 8th street, novo falhanço... e vão duas viagens no carrocel. Finalmente, à 3ª, consigo sair na 8th street. É o que faz não estar habituada a metros com 4 linhas! Bem, lá vou eu toda lampeira à central de bilhetes e, qual não é a desilusão, após este esforço Herculeo, quando me dizem que os bilhetes já esgotaram. É preciso ter azar... começaram a ser vendidos hoje! Claro está que a ida à piscina ficou sem efeito uma vez que perdi uma hora a "passear" de metro. Mas, durante as 5 viagens que fiz, até deu para observar pessoa bastante curiosas. Uma, em particular, chamou-me a atenção pelo ar mórbido. Era uma moça, de aproximadamente 25 anos, muito branca. Os olhos eram azuis muito claros e, pos ser tão branca, as veias transpareciam um tom igualmente azulado. O cabelo era preto azeviche, com reflexos roxos, sendo também roxos o camiseiro e a mala, que se destacavam na idumentária totalmente negra. Está-se mesmo a ver o que ela me lembrou... um belo de um vampiro. "Será?". Bem, em NY tudo é possível... porque não? (já sei, já sei... filmes a mais!). Esqueci-me de ver como eram os dentes mas ela não estava com cara de bons amigos e, portanto, não os mostrou!
Bem, não consegui exercitar a nadar mas bem que o fiz a andar, a subir e descer escadas. Pode ser que amanhã lá consiga ir, está-me mesmo a apetecer. Não sei é se depois desta noitada terei energias... são agora 5:30 da manhã. Os embriões esperam-me..."

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