Estranha forma de dormir

A semana passada queimei-me enquanto cozinhava. Ao escorrer os vegetais da água em que ferviam, acabei por entornar parte em cima do indicador esquerdo e fiquei com uma senhora queimadura.

- Ai! Ai!Ai! Ai!Ai! Aaaaaaaaaiiiiiiiiiiii!

Eu bem guinchei e gritei, mas isso não me aliviou a dor ou impediu que as lágrimas me viessem aos olhos.

Doeu tanto, tanto, tanto que só mesmo debaixo de água fria é conseguia suportar o desconforto. Eu bem pus manteiga, óleo, enrolei o dedo num pano com gelo mas, nada como a água fria a correr para me aliviar. Obvio que, por muito que quisesse, nao podia passar a vida com a mão debaixo de água e, a custo, lá enrolei o dedo numa compressa gelada e consegui jantar (note-se o pormenor que, não só arranjei a minha truta como ainda arranjei a do David... já cheguei 'a conclusão de que tem que se ser Português para saber arranjar um peixe inteiro, hehehe) e depois ainda vi um pouco de televisão, sempre a arrefecer o dedo do fogo que ardia e pulsava assim que a temperatura subia.

Depois, chegou a parte crítica: ir dormir.

Pensei que se mantivesse o dedo enrolado em gelo, aquilo podia não doer tanto e ser suportável mas, ao fim de um tempo, era a queimadura do frio que começava a doer também. Tentei pôr uma pomada para ver se acalmava mas, após uns minutos de termos ido para a cama, eu já estava a pé de novo para pôr o dedo em água fria. Assim que começava a latejar, a dor espalhava-se pela mão toda e era insuportável... honestamente, não sei como é que as pessoas que sofrem queimaduras no corpo todo conseguem aguentar!

E durante a hora que se seguiu, foi este corropio: mão de baixo de água, alívio, tentativa de ir para a cama e adormecer, dorzinha, dor, muita dor, levantar e pôr o dedo de novo debaixo de água. O David, ciente de que não podíamos passar a noite nisto, agarrou no computador e tentou ver o que poderia ajudar.

- Podíamos tentar leite!
- Mas como é que durmo com o dedo em leite!

E enquanto falava isto já eu estava a correr de novo para a torneira.

- AAAAHHHHHHH, que alívio! Nada como água.
- Temos que arranjar uma solução - conjecturava o David - Já sei!

Levantou-se, foi ao frigorífico e despejou a garrafa de água até meio (das pequenas). Encheu-a sem chegar acima, enfiou o dedo lá dentro para ver se tinha a quantidade ideal. Veio para o quarto e disse:

- Dorme com o dedo enfiado na garrafa!

De início, aquilo pareceu-me meio improvável de funcionar mas, não é que funcionou?
Enfiei o meu dedo dentro da garrafa e, com algumas tentaivas técnicas, lá consegui pôr a coisa por forma a que não pingasse nem fosse desconfortável... e lá dormi eu, que nem um anjinho, com o dedo metido dentro da garrafa com água!