10.01.2010
Novo Emprego
Ora se bem se lembram, o ano passado, em Maio de 2009, a Je virou Doutora.
Não sei se alguma vez se questionaram sobre o que viria a seguir. E agora? Acabou o Doutoramento e depois? Bem, se não se questionaram (o que é natural que não tenham feito, pois de certeza que há coisas bem mais giras com que se entreterem do que ficarem a perder tempo a tentar saber o que me acontece por estas bandas) mas se quiserem saber 'a mesma, continuem a ler.
Ora, assim que defendi a tese, acabou também o meu projecto no laboratório em que estava e, a partir de dia 31 de Maio de 2009, fiquei oficialmente desempregada. Como qualquer estudante que se prepara para defender a sua tese, com algum tempo de antecedência comecei a pensar no que seria o meu futuro.
O que eu queria mesmo, mesmo, com muita força, era acabar o Doutoramento e ir logo para a Indústria (biotécnica/farmacêutica). Continuar na Ciência/Meio académico não fazia muito sentido dado que nunca aspirei vir a ter o meu próprio laboratório. No entanto, acontece que também me graduei num dos períodos económicos mais conturbados e frágeis de que há memória. Logo, tinha consciência que um emprego na indústria não iria aparecer do dia para a noite.
Por forma a ter várias opções na mesa, alinhavei também um pós-Doutoramento com um outro laboratório, não fosse a coisa dar para o torto. Assim, o plano foi eu escrever dois projectos para ver se conseguia financiamento para o que eu iria fazer neste novo laboratório e, durante os meses em que esperava pelos resultados das candidaturas, procurar empregos na indústria. O que aparecesse primeiro, era aquilo para onde eu ia a seguir (sendo que se fosse o post-doc, continuava 'a procura de empregos na indústria).
Os resultados só iam sair em Setembro e dei por mim a dar em louca com a incerteza do futuro, o estar em casa e não trabalhar... e percebi que não ia conseguir ficar de Junho a Setembro só a concorrer a empregos. Assim, em part-time e só para ajudar uma companhia, virei secretária de uma Lavandaria Industrial por umas semanas. A experiência não foi má. Deu para aprender coisas novas, para ganhar uns trocos e para me fazer sentir útil, mas... continuava muito insatisfeita. Especialmente porque continuava a concorrer e empregos e, nada!!
"Anda uma gaja a matar-se por 6 anos a tirar um Doutoramento e depois... népias. Ando para aqui a tratar dos lençóis e das toalhas dos hotéis na Nova Inglaterra!! Tá mali!", pensava eu.
Em cima disto tudo, vieram os resultados das candidaturas e não consegui nenhumas delas. Mau, mau, mau, mau! pensei. Ainda fiquei com esperança de que o chefe do lab do futuro post-doc conseguisse o financiamento para que ele concorreu e que me permitiria ir para o lab em Janeiro. E foi ao contar esta minha história a uma amigo meu, numa festa, que, do nada, surgiu uma oportunidade... pelo menos temporaria, de Outubro a Janeiro, mas uma oportunidade para largar os trapos da lavandaria e passar de novo para o campo da pesquisa.
A oportunidade: ir para um laboratório no M.I.T, processar as muitas amostras acumuladas para um projecto iniciado há já 7 meses, amostras essas que foram colhidas diariamente por dois elementos de estudo e que continuariam a ser recolhidas até perfazer um ano. O "senão" na oferta foi que... as amostras eram cocó. Humano. Um deles do chefe. Lindo!
Bem, não foi assim tão mau! A coisa parece pior do que de facto era e... hey! pelo menos estava empregada, na minha área e no MIT (que não é propriamente dos piores sítios para se trabalhar, especialmente para quem tinha saído da Harvard, hehehe). Ora, lá fiquei eu alegremente a isolar DNA dos cocós (e também de saliva), 'a espera que o chefe do lab do post-doc me dissesse que tinha conseguido pilim para o projecto e que eu podia ir para o laboratório dele em Janeiro.
Desolé!!, a coisa não aconteceu bem assim. Também isso foi chumbado. "Hhhmm, a coisa não está a correr lá muito bem!". Mas, como diz a minha mãe e muito bem, é porque não tinha que ser. Desta feita, e porque já estava bastante integrada no projecto e "expert" nos protocolos (diga-se que também não havia muita gente a querer substituir-me), esta nega de um lado fez com que saísse uma positiva no outro. E assim, em Janeiro de 2010 passei oficialmente a ser post-doc no MIT.
E por lá fiquei, alegremente, sempre 'a procura de emprego na indústria mas, pelo menos, com um trabalho que me satisfazia (excepto quando certos odores me passavam pelo nariz... blargh!), que era na minha área e que me permitia preencher o meu CV com algo útil.
E passou-se Janeiro, Fevereiro, Março... nada de emprego. Abril, Maio, um ano volvido sobre a defesa da tese, e nada de emprego. Junho, nada. E eu já a ver que ia ficar no post-doc por muito mais tempo do que aquele que eu queria.
E em Julho apareceram 2 entrevistas, ambas promissoras. A primeira opção não era má mas aquela pela qual fiquei verdadeiramente apaixonada foi a segunda: parecia caída do céu. Posição na indústria, no cerne da área em Boston (chamado Technology Square), perto de casa (continuo a fazer a minha vidinha de bicicleta, como eu gosto), com salário e condições óptimas. Mesmo aquilo por que esperei tanto tempo. Consegui esse emprego e, ironia das ironias, após já ter assinado o contrato, fiquei a saber que também consegui o emprego da primeira entrevista. Como diz a minha mãe (já devem ter percebido que ela diz muitas coisas sábias), não há fome que não dê fartura.
Então, eis-me a Lab Manager de uma companhia responsável por produzir moscas transgénicas para a comunidade científica de Drosophila de todo o mundo (é a mosca da fruta - aquelas mosquinhas super irritantes que aparecem a voar em volta da fruta).
Comecei há 2 semanas e estou a adorar. Especialmente porque percebi que gosto mesmo de mandar. Bem, pecebi não, porque isso já eu sei há muito tempo, heheh. Aliás, tenho até uma história muito gira acerca disso:
Abre parêntesis - quando eu tinha 6 ou 7 anos e andava na escola primária era comum arranjar problemas com as outras crianças do recreio porque eu queria que toda a gente fizesse como eu queria e não deixava ninguém brincar (uma bela chata, é o que é!). Para tentar gerir a situação e lidar com a minha personalidade, a minha professora chamou-me um dia e disse-me "Inês, vamos fazer assim. Quando fores para o recreio, vais ver os meninos a brincar. Mas ficas só a ver. Se vires alguma coisa errada, não fazes nada. No fim do recreio vens ter comigo e dizes-me o que achaste que estava mal". Pensam que eu concordei de imediato?! Era o concordavas. A minha pergunta foi imediatamente "mas supervisiono só a minha turma ou a escola toda?".
Palavras para quê? Gosto de mandar e pronto!! - Fecha parêntesis.
Embora goste de mandar, gosto também de o fazer só quando sinto que estou inserida num contexto que domino e no qual me sinto perfeitamente 'a vontade e que por isso me dá a moral para puxar dos galões. Acontece que já há muito tempo que não sentia isso. No Doutoramento, rodeada por crânios por todo o lado, confesso que a minha auto-confiança nesse campo diminuiu, razão pela qual também nunca quis ter o meu próprio laboratório. Estava rodeada de pessoas tão ou mais competentes do que eu que não me achava com moral suficiente para subir para aquele degrau. E se quero mandar, quero saber o que estou a fazer e fazê-lo bem. Se não fôr para fazer bem, então mais vale não fazer. E por isso sempre evitei posições que implicassem uma chefia na qual não me sentia confortável.
Mas, neste emprego, sinto que sou capaz e que vou fazer um bom trabalho. E entusiasma-me perceber as falhas que existem e pensar em alternativas, soluções, como optimizar e tornar mais eficiente. E ando com a cabeça a borbulhar de ideias!! E isso entusiasma-me imenso. Faz-me sentir útil e satisfeita comigo mesmo. Ciente de que estou a dar o meu melhor e que isso vai ser também o melhor para o grupo de pessoas que giro.
Embora só lá esteja há 2 semanas, já consegui progressos significativos e pelos quais há já algum tempo se andava a lutar sem sucesso. Lá está, como sinto que tenho a moral, talvez por isso consiga ser convincente e transparecer segurança... e por consequência convencer a chefe de que precisamos de mais um computador, de que todos os existentes têm que ser actualizados, de que temos que ter um servidor, e um website com pedidos online, e integração dos sistemas, e acesso remoto de casa ou seja de onde fôr, e descrição da resistência/tamanho/marcadores dos plasmídios, e..., e... até dinheiro para comida nas lab meetings já cá canta.
E estou feliz com o progresso!! E embora chegue a casa toda cansadinha, estafadinha, partidinha, a sensação constante de missão cumprida (e comprida) faz-me querer ir no dia seguinte e avançar mais um bocadinho.
Ainda há muito para aprender e muito para fazer mas estou confiante. E espero que seja assim por muito tempo!
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8 comments:
Que entusiasmo contagiante! Fico contente que estejas a gostar (o lugar estava mesmo à tua espera, pelos vistos...) e adorei a história da escola, fartei-me de rir (não fazias por menos... a escola toda e já agora o Min. da Educação tb :-) Beijitos, obg pelas notícias e boa continuação!
Como te compreendo: também passei do PhD para a carreira de lab manager e estou a adorar!!! Viva os lab managers :)
Espero que continue tudo a correr bem :) Beijinhos
Muitos parabéns pelo emprego!
Beijinhos
Bem, depois de muito tempo na merda, finalmente um super trabalho. :P
Parabéns, Inês! Que a vida te corra de feição e sê uma boa chefe. mandar bem é uma arte...
Beijinhos
Muitos parabens!!!
Ja fui espreitar o vosso website. No's somos clientes assiduos de empresas como a vossa! Viva as mosquinhas! :)
Chomem
Obrigada a todos. E sim Raul, tenho que ter em mente que é de facto uma arte.
Catarina, o nosso site neste momento é super ranhoso, razão pela qual eu quero mudar isso tudo. Se tudo correr bem, vai passar a ser bem melhor. Por acaso não és nossa cliente, não? Se sim, avisa que eu dou uns miminhos especiais 'as tuas mosquinhas, hehehe!
Ei Inês
Parabéns pelo novo emprego!!!
Desejo óptimas realizações.
Adorei "gosto de mandar" hahaha
abraço
Muitos parabéns, Inês! Se conseguiste tudo isto é porque mereces!
Bjs e força!
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