9.21.2011

Mundo traumático


Esta coisa de se viver nos EUA, mais propriamente em Nova Iorque, onde os ataques de 11 de Setembro de 2001 aconteceram, acaba por se nos entranhar no sistema e, mesmo logo ali, debaixo da pele, acessível 'a mais leve brisa de ar frio, eis que se eriçam os pêlos do braço com o medo subjacente em que se vive.

Nunca antes julguei viver com este "medo". Lembro-me que quando para cá vim, também para Nova Iorque, mas em 2004, me perguntavam se não tinha medo de morar num local tão apetecido pelos terroristas, ao que respondia que não. E não tinha, de facto.

Contudo, as coisas parecem ter mudado com o 10º aniversário da queda das torres gémeas. Mesmo sem queremos, a cidade começou a viver numa ansiedade e expectativa em antecipação desta data. Nas ruas sentiam-se (e ainda se sentem) os olhares dos polícias, as luzes das sirenes, a presença dos carros estrategicamente posicionados, os avisos aqui e ali, cuidado, se vir algo diga algo. É suspeito? Alerte!!

E, como disse, foi-se-nos entranhando no sistema.

Na 6a feira, dia 9 de Setembro, dirigi-me para o metro com uma amiga. Pelo caminho, o trânsito estava parado e caótico. A 2a avenida cheia de luzes até perder de vista. Nada de movia, nem para trás nem para a frente, excepto as pessoas dentro dos carros, agitadas e a buzinar, como se isso adiantasse alguma coisa. Havia luzes de sirenes por todo o lado, polícias, guardas, coletes anti-bala, armas aqui e ali, devido 'a ameaça de bomba em pontes de Nova Iorque e de Washington. Uma confusão mas, mesmo assim, seguiamos como se tal fosse normal, de tão comum que é a azáfama nesta cidade. Até deu para notar e saltar de susto e repugnância ao ver uma barata atravessar-se-me no caminho. Ai ca nojo!!!!!!

Descemos as escadas rolantes, passámos os torniquetes, descemos mais escadas rolantes e ficámos 'a espera do metro, na plataforma. Eis que os estalidos ensurdecedores que ecoaram pela estação nos alertaram para os altifalantes. De lá, por entre sons roufenhos e difíceis de decifrar, a voz de uma mulher: "Atenção!! Atenção!! Uma mulher acabou de saltar os torniquetes. Estou-me a passar com ela. Tem calças azuis, blusa branca e tem também... um hatchet".

Ficámos perplexas: primeiro pelo inusitado da situação. Porque raios nos estariam a avisar que alguém saltou os torniquetes? E a descrever a pessoa. E que forma estranha de o fazer, afinal "estou-me a passar com ela" não é a frase mais comum para se ouvir num altifalante. Seria isto o resultado da pressa em passar o alerta? Mas, espera, se nos estão a avisar é porque certamente se passa algo. Estaremos em perigo?? E aquela última frase? Um "hatchet"? Hatchet quer dizer machado. Será que vem por aí uma louca qualquer, daquelas que ataca um monte de pessoas indiscriminadamente?

Em milésimos de segundos isto foi o que passou pelas nossas cabeças, confusas e sem perceber bem o que se passava e até duvidando se de facto a palavra foi "hatchet", uma vez que o som era do piorio. Mas naquele impasse, a dúvida foi o suficiente para nos deixar em sobressalto. Afinal, poderia muito bem ser "hat" (chapéu) em vez de "hatchet". Mas, imperou a hipótese pior. Senti a adrenalina invadir-me imediatamente, o coração a bater mais forte e foi claro que ninguém na plataforma ficou indiferente. As cabeças viravam-se para as escadas e para os trilhos, a ver quem chegaria primeiro: o metro ou esta mulher, de quem nada sabíamos ou percebíamos mas que, ao ser algo desconhecido e suspeito, nos deixou imediatamente em sobressalto.

O metro chegou. Apressadamente, toda a gente entrou, olhando sempre para trás e suspirando de alívio quando as portas se fecharam. Da mulher, não houve mais sinal.

E, já mais tarde (e mesmo sem saber bem o que se tinha passado naquela plataforma), percebi que, de facto, o ambiente de medo em que se vive desde o 11 de Setembro, acaba por afectar toda a gente, mesmo aquela menos paranóica e preocupada como eu me considero.

E' o mundo em que vivemos!

1 comment:

Fadalê said...

Cá está a tal confirmação... quem tem cú?! tem medo... Pelo menos por cá, diz-se assim.... Quanto á barata, "no problem" são á prova de radiação nuclear, assim, aviões são amendoins.... :)