5.27.2011
Sunscreen
Corria eu por um parque em Munique quando esta música começou a tocar, escolhida ao acaso por entre a miscelânea de canções que tinha sacado do computador de um amigo. E, assim que começam as primeiras batidas, o côro e aquela voz a debitar aquelas frases e aquelas palavras, tive que parar de correr, pois o choro compulsivo não me deixava mais respirar.
Estava, na altura, numa fase muito difícil e complicada da minha vida, muito perdida, revoltada, desiludida. Tudo me levava 'as lágrimas. Como diz o Zeca Baleiro, "ando tão 'a flôr da pele, qualquer beijo de novela me faz chorar"... e esse era o mote.
Dado o meu frágil estado emocional, atribui-lhe as culpas daquele choro, perante aquela música. Concerteza, é uma fase, pensei.
Tretas!
O que é certo é que hoje, bem mais resolvida e feliz, esta música voltou a tocar, por acaso. Estava eu no laboratório, na bancada, e o iPod escolheu-a por entre tantas outras que poderiam ter calhado. E, quando ouço de novo aquele discurso, a sapiência e a profundidade daquelas palavras, dou por mim com o olhar toldado de lágrimas tal como aconteceu antes.
E ali estava eu, num cenário cómico de tão ridículo, a chorar enquanto pipetava, como se pipetar fosse doloroso ou triste ('as vezes sei que é, mas não era o caso).
O que aquela música me faz é o mesmo que me fazem fotografias antigas, do passado mais atrás, filmes da minha infância, lembranças idas... relembra-me que o tempo corre, não volta atrás. Acende a saudade.
Lembra-me de tempos que não tornam e que só existem guardados no meu coração e nos recantos da memória. E dói... faz-me sofrer. Sofro mesmo muito com a consciência do passado, da incapacidade de voltar a viver aqueles momentos, pese embora os tenha vivido em toda a sua plenitude. Mas queria mais e outra vez. Voltar a sentir aqueles cheiros, a ver os rostos sem rugas, voltar a rir-me como ri ou pura e simplesmente voltar a ser ingénua e inocente, ainda tenra, criança.
Não me importo minimamente com a idade, com o eu ficar velha. Digo sem vergonha que tenho 33 anos, que nasci em 1978. E disso eu gosto. De eu estar aqui enquanto o tempo passa. Quero morrer muito velhinha (desde que lúcida). Mas, obviamente que isso também significa que o tempo passa para os outros, para os que me são queridos e que fazem a minha vida... e é isso que me dói. E' meio ambíguo, eu sei.
O tempo passa mesmo muito rápido...
Sei que tenho é que dar graças por essas memórias tão felizes. Por ter um passado querido e revestido de boas lembranças. Bem triste é quando algumas pessoas nem querem pensar na infância, na adolescência, nos traumas. Mas... não consigo lidar com elas de outra maneira.
Chego a ter saudade do que não vivi, do que não passei, do que não presenceei. Saudades do avô que nunca conheci, da avó que me escapou por entre os dedos, da avó presente até aos meus 18 anos, do avô a quem dirijo todos os dias os meus pensamentos, o meu amor, os meus pedidos e de quem sinto saudades agudas, não só do que vivi com ele como do que seria se ainda aqui estivesse, se me visse hoje...
Todos os dias ouco o seu tão típico "Oh, Nênê!!".
E quem fala de avós fala de tudo e de todos.
O tempo passa. Ficam as memórias. E as memórias doem. Doem-me.
São poucas ou nenhumas as fotografias que tenho expostas em casa. Porque me dói olhar para elas.
Em casa dos meus pais, choro ao ver fotografias minhas e da minha irmã agarradas aos meus pais, ao lado da nossa antiga Mazda, de sorrisos no rosto, saudades dos óculos de sol verdes da minha mãe, do tanto de cabelo e do bigode farto do meu pai, do cheiro dos estofos pretos e couro do carro. Passei anos até ver a compilação que os meus pais fizeram em DVD dos filmes da nossa super 8. E, mesmo esses, só vi uma vez, sozinha, depois de muita preparação emocional e, inevitavelmente, sob um banho de lágrimas e dores no coração.
Choro agora... as memórias doem. Doem-me.
Estou por aqui a despejar o que me vai na alma, por causa desta música. Coisas minhas... não interessam a ninguém. Mas se me leram até aqui... olhem, pelo menos que a mensagem sirva para se lembrarem de usar protector solar :)
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3 comments:
já viste a árvore da vida? vi ontem, é uma ode à vida e a tudo o que se possa sentir com ela, seja no presente, passado e futuro, isso é tudo normal rapariga, pelo menos para quem se ama verdadeiramente, à natureza e aos outros, ele há dias em que se chora por tudo e por nada, it's all about beauty and living it the most with all the guts ;) * em relação à música, também me toca bem cá dentro, e sorrio sempre naquela parte em que o gajo fala de quarentões que ainda não sabem o que querem e que talvez sejam as pessoas mais interessantes, por que será né?! bom fim de semana!
amo-te muito Nene
Madale
Se calhar, deixei de blogar por isso mesmo... não sei...
Só sei que ao lêr-te revejo as mesmas passadas, mas da minha infância.
Ah!!!! se fosse tão intensa e a "doer" tanto, não me importava mas fico (amos) satisfeitos por ter contribuido para esse legado.
"Faças o que fizeres, vive-o intensa e apaixonadamente, pois jamais se repetirá o momento. Certo, duas vezes, só o relógio, mesmo que parado"
Fatino's
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