12.31.2005
Um Bom Ano para Todos
Nesta noite, esqueçam-se todas as "balanças" que nos limitam. Sejamos felizes.
Aproveitem ao máximo tudo o que vos é oferecido para que se entre no novo ano repleto de boas energias e positivismo.
Há que as ter para enfrentar as adversidades inevitáveis.
Divirtam-se! :)
12.28.2005
Essência
Lá diz o ditado...
12.17.2005
Ai que me ia dando uma coisinha má!
Aterrei esta manhã em Londres.
Fruto do jet-lag e da falta de sono, seguia meio alienada no autocarro que nos transportava entre terminais. Ao olhar pela janela, caí na realidade violentamente. Os níveis de adrenalina subiram rapidamente, as sinapses dispararam que nem loucas, o coração bateu forte e senti suores frios.
Não, não me apaixonei.
Em vez disso, vi o que, para mim, parecia ser a eminência de um acidente.
"Porra, vamos em sentido contrário!!!"
Lembrei-me então que estava na terra dos Beefs e que o trânsito se processa ao contrário.
Trengos!
Aeroporto: Dicas
Após tantas andanças por aeroportos e companhias aéreas, eis algumas dicas que percebi serem úteis para encontrar o terminal de interesse, caso esta informação não esteja disponível :)
- Se o vôo fôr pela Ibéria, não há como enganar. Até um ceguinho chega lá. Basta seguir o chinfrim que a galinhada feminina Espanhola faz. E' uma festa!
- Se o vôo fôr pela Air France, então basta seguir os metrossexuais sisudos e as mulheres impecavelmente vestidas e, mais importante de tudo e detalhe infalível, que levem sapatos de salto alto, extremamente (des)"adequados" para viajar, especialmente para vôos trans-atlânticos.
- Se o vôo fôr pela British Airways, então basta seguir o cheiro a caril.
12.14.2005
12.13.2005
Legenda de um Gesto
Acordava agora para a última manhã que passavam juntos.
Junto a si, ele ainda dormia.
Sentia-o nas suas costas, quente e tranquilo. Também assim ela se sentia envolta por aquele abraço e aconchegada no seu interior. Lentamente, virou-se. O seu corpo moveu-se também, ajustando-se ao dela. Num sono não perturbado continuava a abraçá-la.
Nesta posição, ficou a olhá-lo. Admirava-lhe as feições. Lábios carnudos, pestanas longas, uma leve marca na face deixando adivinhar o sorriso amplo. Memorizava a pequena cicatriz no sobrolho, o quase imperceptivel sinal na orelha. Sentia-lhe o cheiro e o toque. A respiração, profunda, confundia-se com o bater do mar lá fora, tão perto.
Perdeu-se demoradamente nesta contemplação...
Desejou que o tempo parasse e puder segurar aquele momento. Dentro dela, soaram-lhe então os primeiros acordes daquela música (Gorecki -Lamb):
“If I should die this very moment
I wouldn’t fear
For I’ve never known completeness
Like being here
Wrapped in the warmth of you...”
Encaixou-se sob o seu queixo, naquela reentrancia já tão familiar e tão sua. Sentia agora a aspereza da barba por fazer no cabelo e o peito macio no seu rosto. Abraçou-o mais. Inspirou fundo e deixou que a sua essência a invadisse.
Como que escutando a mesma música, num sono não perturbado, também ele a apertou contra si.
Junto a si, ele ainda dormia.
Sentia-o nas suas costas, quente e tranquilo. Também assim ela se sentia envolta por aquele abraço e aconchegada no seu interior. Lentamente, virou-se. O seu corpo moveu-se também, ajustando-se ao dela. Num sono não perturbado continuava a abraçá-la.
Nesta posição, ficou a olhá-lo. Admirava-lhe as feições. Lábios carnudos, pestanas longas, uma leve marca na face deixando adivinhar o sorriso amplo. Memorizava a pequena cicatriz no sobrolho, o quase imperceptivel sinal na orelha. Sentia-lhe o cheiro e o toque. A respiração, profunda, confundia-se com o bater do mar lá fora, tão perto.
Perdeu-se demoradamente nesta contemplação...
Desejou que o tempo parasse e puder segurar aquele momento. Dentro dela, soaram-lhe então os primeiros acordes daquela música (Gorecki -Lamb):
“If I should die this very moment
I wouldn’t fear
For I’ve never known completeness
Like being here
Wrapped in the warmth of you...”
Encaixou-se sob o seu queixo, naquela reentrancia já tão familiar e tão sua. Sentia agora a aspereza da barba por fazer no cabelo e o peito macio no seu rosto. Abraçou-o mais. Inspirou fundo e deixou que a sua essência a invadisse.
Como que escutando a mesma música, num sono não perturbado, também ele a apertou contra si.
Desktop Background
(Praia do Forno, Arraial do Cabo - RJ)
Na maioria das vezes têm-se para fundo do ecrãn do computador imagens de sítios paradisíacos, onde sonhamos ir... um dia... quem sabe. São indubitavelmente belas mas, ao mesmo tempo, trazem consigo a incerteza de algum dia se ser capaz de experienciar essas viagens almejadas. E suspiramos.
Ora, eu deixei-me disso!
Agora posso-me gabar de ter por fundo do meu computador uma foto tirada por mim.
E' certo que me faz suspirar também, mas desta vez por momentos bons, já vividos :)
12.12.2005
E por falar em Leitura...
Enquanto estive no Brasil conheci este casal maravilhoso, Edu e Dani.
Receberam-me com uma amizade e carinho enormes, só comparáveis ao sorriso lindo da Dani, que o Edu de forma tão querida apelida de "mulher sorriso Maracanã". Muita coisa haverá a dizer e vários relatos se seguirão onde poderão conhecer um pouco mais sobre eles e porque de forma tão imediata os guardei no coração.
No entanto, hoje escrevo por ser um dia muito importante para o Edu.
E' hoje o lançamento do seu primeiro livro, "O Meu Lar é o Botequim":
Embora ainda não conheça o seu conteúdo, a adivinhar pelos relatos deliciosos que tenho lido aqui , posso assegurar antecipadamente que será uma leitura excelente.
Enquanto fico ansiosamente 'a espera do meu exemplar, aproveito então para felicitar publicamente o Edu por este grande evento.
Parabéns! :)
Receberam-me com uma amizade e carinho enormes, só comparáveis ao sorriso lindo da Dani, que o Edu de forma tão querida apelida de "mulher sorriso Maracanã". Muita coisa haverá a dizer e vários relatos se seguirão onde poderão conhecer um pouco mais sobre eles e porque de forma tão imediata os guardei no coração.
No entanto, hoje escrevo por ser um dia muito importante para o Edu.
E' hoje o lançamento do seu primeiro livro, "O Meu Lar é o Botequim":
Embora ainda não conheça o seu conteúdo, a adivinhar pelos relatos deliciosos que tenho lido aqui , posso assegurar antecipadamente que será uma leitura excelente.
Enquanto fico ansiosamente 'a espera do meu exemplar, aproveito então para felicitar publicamente o Edu por este grande evento.
Parabéns! :)
12.11.2005
De pequenino...
Ao deparar-me com esta foto não pude deixar de me identificar com ela.
Não só pelo facto de o WC ser o meu local de leitura por excelência (e aposto que o de muitos de vocês também) mas também porque, quando era bem miúda e ainda dava os primeiros passos na arte de ler, já sentia o fascínio pelos livros e perdia-me em esforços estóicos para perceber mais além do que aquilo que sabia me permitia.
Nunca gostei de brincar com bonecas. Aliás, nunca soube como fazê-lo e admirava a facilidade com que a minha irmã o fazia (com bonecas ou com qualquer outro objecto). Admirava tanto que, sempre que tentava brincar com ela, estragava a brincadeira toda e a coisa terminava com o “caldo entornado” (eu era terrível).
Assim, a partir do momento em que comecei a perceber que as letras não eram apenas rabiscos engraçados mas que tinham sons específicos e que, quando combinadas, abriam portas para um mundo totalmente novo, metia-me na casa-de-banho com um livro e, do alto do meu pote côr-de-rosa (como menina bonita que era :P) volta e meia lá me punha aos berros para a cozinha:
- Oh “Manhe”?! Como é que se lê um “L” e um “H”?
- Mã?! E um “H” no início da palavra?
- E um “N” com um “H”?
E foi isto que me ocorreu quando vi esta foto.
Engraçado que, ao terminar este texto, me apercebi também de algo que até agora me tinha passado ao lado.
O facto de ter começado a ler marcou o fim de uma era e o início de outra: o fim de era em que eu azucrinava a minha irmã para o início da era em que passou a ser a minha mãe o alvo da minha “tirania”.
Grrrr, já disse que sou terrível? :P
12.10.2005
Sketch digno do Woody Allen (outro)
Está visto que eu sou perita em ter consultas médicas no mínimo bizarras e rocambolescas.
Qualquer dia ainda apresento a lista de situações inéditas ao Woody e, quiçá, criar-se-á um filme sucesso de bilheteiras, ao nível de um Monty Python :)
Esta passou-se na 4a feira, quando decidi ir visitar o meu Clínica Geral por causa de uma irritação na pele. Contrariamente ao esperado, atendeu-me um outro médico, bastante novo, que vim a perceber estar sob a alçada do meu médico, em período de aprendizagem.
Como novato que é, notava-se um cuidado extra em explicar tudo e perceber bem o quadro clínico, procedendo a um questionário exaustivo. Após todas as questões respondidas, pediu-me então que me despisse e vestisse uma daquelas batas azuis "muita giras" e saiu da sala.
Assim fiz. A Inês despe, a Inês veste e fiquei 'a espera do seu regresso. Quando entrou, pediu que abrisse a bata. A Inês despe. Analisou atentamente todas as marcas na pele e apresentou o seu diagnóstico, mais uma vez meticulosamente explicado. Mesmo com todas estas cautelas, decidiu chamar o meu médico, para confirmar a conclusão a que chegara. "Vista-se que eu já volto". A Inês veste.
Esperei mais uns minutos e chegaram os dois médicos. "Por favor, afaste a bata". A Inês despe (a esta hora já pensava, mas porque raio estou sempre a pôr e a tirar a bata? Mais vale ficar em pelo e pronto). Em típico diálogo de macho alpha para um outro macho, inferior, o meu médico refutava entusiástica e acaloradamente o diagnóstico do novato:
"See here, see here?" - levanta o braço da Inês, baixa o braço da Inês. Empurra para a frente, vê as costas. Empurra para trás, vê a barriga. Empurra para o lado, vê a cintura. Eu parecia um autêntico boneco.
"This is bla, bla, bla..." - dizia ele
"Do you think? But isn't this the "christmas tree" pattern?" - respondeu o novato
"How appropriate!" - pensava eu - "E' para combinar com a época festiva"
"No, no, no!" - continuava o meu médico, animadíssimo - "Let's call Dr. Bla, bla, bla"
"Ena, ganda festa" - pensei eu novamente para os meus botões (ou para a ausência deles) - parece que este pessoal conhece o Zeca Afonso e está a seguir 'a letra o que ele dizia: traz outro amigo também, venham mais cinco... porreiro".
"Get dressed. We'll be right back". Sairam da sala mas nem me dei ao trabalho de pôr a bata de volta. Já sabia que a ia tirar em menos de nada. Passado um bocado entram então o novato, o meu médico e uma outra médica, dermatologista.
Aproximando-se de mim e fazendo de novo todas as acrobacias com o boneco Inês, o meu médico mostrava agora 'a médica as marcas e a conclusão a que chegara, bem como as conclusões erradas a que o outro chegara, agora alguém muito secundário em toda a cena. Por esta altura eu já pensava que tinha algo extremamente raro, daí toda a azáfama.
"Três médicos?!? Não pode ser coisa boa não".
"So, what do you think?" - perguntou o meu médico 'a dermatologista.
"Hhmmm", balbuciou de forma desinteressada, "You're right"
"So, what is your suggestion for treatment?"
"Nothing"
"Pô", tanta coisa para no fim não ser nada?
Estou a brincar, é óbvio que é bem melhor assim. Pelos vistos, a irritação, da mesma forma que veio também se irá embora mas, depois de me sentir macaquinho de circo ou de Zoo, com 3 pares de olhos postos em mim, estava 'a espera assim de algo... complicado.
Qualquer dia ainda apresento a lista de situações inéditas ao Woody e, quiçá, criar-se-á um filme sucesso de bilheteiras, ao nível de um Monty Python :)
Esta passou-se na 4a feira, quando decidi ir visitar o meu Clínica Geral por causa de uma irritação na pele. Contrariamente ao esperado, atendeu-me um outro médico, bastante novo, que vim a perceber estar sob a alçada do meu médico, em período de aprendizagem.
Como novato que é, notava-se um cuidado extra em explicar tudo e perceber bem o quadro clínico, procedendo a um questionário exaustivo. Após todas as questões respondidas, pediu-me então que me despisse e vestisse uma daquelas batas azuis "muita giras" e saiu da sala.
Assim fiz. A Inês despe, a Inês veste e fiquei 'a espera do seu regresso. Quando entrou, pediu que abrisse a bata. A Inês despe. Analisou atentamente todas as marcas na pele e apresentou o seu diagnóstico, mais uma vez meticulosamente explicado. Mesmo com todas estas cautelas, decidiu chamar o meu médico, para confirmar a conclusão a que chegara. "Vista-se que eu já volto". A Inês veste.
Esperei mais uns minutos e chegaram os dois médicos. "Por favor, afaste a bata". A Inês despe (a esta hora já pensava, mas porque raio estou sempre a pôr e a tirar a bata? Mais vale ficar em pelo e pronto). Em típico diálogo de macho alpha para um outro macho, inferior, o meu médico refutava entusiástica e acaloradamente o diagnóstico do novato:
"See here, see here?" - levanta o braço da Inês, baixa o braço da Inês. Empurra para a frente, vê as costas. Empurra para trás, vê a barriga. Empurra para o lado, vê a cintura. Eu parecia um autêntico boneco.
"This is bla, bla, bla..." - dizia ele
"Do you think? But isn't this the "christmas tree" pattern?" - respondeu o novato
"How appropriate!" - pensava eu - "E' para combinar com a época festiva"
"No, no, no!" - continuava o meu médico, animadíssimo - "Let's call Dr. Bla, bla, bla"
"Ena, ganda festa" - pensei eu novamente para os meus botões (ou para a ausência deles) - parece que este pessoal conhece o Zeca Afonso e está a seguir 'a letra o que ele dizia: traz outro amigo também, venham mais cinco... porreiro".
"Get dressed. We'll be right back". Sairam da sala mas nem me dei ao trabalho de pôr a bata de volta. Já sabia que a ia tirar em menos de nada. Passado um bocado entram então o novato, o meu médico e uma outra médica, dermatologista.
Aproximando-se de mim e fazendo de novo todas as acrobacias com o boneco Inês, o meu médico mostrava agora 'a médica as marcas e a conclusão a que chegara, bem como as conclusões erradas a que o outro chegara, agora alguém muito secundário em toda a cena. Por esta altura eu já pensava que tinha algo extremamente raro, daí toda a azáfama.
"Três médicos?!? Não pode ser coisa boa não".
"So, what do you think?" - perguntou o meu médico 'a dermatologista.
"Hhmmm", balbuciou de forma desinteressada, "You're right"
"So, what is your suggestion for treatment?"
"Nothing"
"Pô", tanta coisa para no fim não ser nada?
Estou a brincar, é óbvio que é bem melhor assim. Pelos vistos, a irritação, da mesma forma que veio também se irá embora mas, depois de me sentir macaquinho de circo ou de Zoo, com 3 pares de olhos postos em mim, estava 'a espera assim de algo... complicado.
Fim de Dia
Relato do dia: neve e azares
E hoje o dia começou assim, com tudo coberto de branco e com flocos a pairar por todo o ar.
Bonito, sem dúvida, mas muito pouco práctico.
Nas ruas, por onde os carros passavam, a neve branca tinha-se já transformado em lama e era agora uma pasta de gelo acastanhada que cobria o asfalto, o qual teve que ser partilhado por bicicletas e carros, uma vez que nas bermas da estrada se acumulavam já bancos de neve que tornavam o trânsito de binas impossível. Mesmo com este cenário, decidi pegar na minha companheira de guerra e lá me fiz ‘a estrada com a bicicleta.
Fui cautelosa e cuidadosamente, pedalando devagar e aproveitando também para apreciar as transformações que uma simples porção de água sublimada induzem no quotidiano de outra forma normal: pessoas com gorros e luvas coloridas, vestidas com casacos grossos, com cachecóis ‘a volta da cara que só deixam vislumbrar os olhos, quais ninjas, emitindo baforadas visíveis, trânsito que se desloca mais lentamente, carros com correntes nos pneus, muitas pás, alguns trenós e limpa-neves.
Os adultos caminham mais sérios e sisudos, preocupados com as quedas eminentes das crianças para quem tanta neve só pode significar diversão e entretenimento. Toda a gente com faces rosadas e narizes vermelhos. Ia muito bem entretida nestas divagações quando, a determinada altura, algo me distraiu.
Sem razão aparente a minha bicicleta adquirira uma marcha diferente do deslizar habitual. Agora, saltitava ritmicamente.
”Não! Não!” dizia já eu para mim mentalmente antes de me decidir a olhar para as rodas.
“Bonito, já está!”
De todos os dias, TODOS, TODOS desde os quase 2 anos que aqui estou, logo hoje é que eu havia de ter um furo. Não, não podia ter sido ontem, ou antes ou ainda antes. Não, tinha que ser hoje. Juro que me apeteceu desatar aos saltos e ao berros de raivinha.
Respira fundo, inspira... expira... já está.
Assim, lá começou a Inês o dia a levar com neve na fuça, a caminhar pela neve e pelo gelo, que de si já exige bastante concentração e esforço para não escorregar e, como se não bastasse, ainda a carregar com uma bicicleta coxa. Entre dentes eu só resmungava “Porra, tu é que me devias carregar minha! Não era eu a ti, pá!”
E eu até estava bastante orgulhosa da minha bina até ‘aquele momento. E’ uma bicicleta de montanha, com pneus bastante grossos e muito pesada.
Desta feita, o mais comum é ter sempre todas as outras bicicletas (de cidade) a passarem por mim em alta velocidade, enquanto eu só me consigo deslocar a passo de caracol.
“Ha! Ha! Mas não hoje”, pensei eu (Mmmmuuuahahahaha – gargalhada mafarriquenta), “Hoje vou poder finalmente mostrar as vantagens de ter uma bicicleta tão robusta”. Yeah!!! Fia-te na virgem e não corras. Toma lá um furo que é para aprenderes!
Chegada ao lab, já tarde, e toda coberta de neve, tinha ainda que apresentar Journal Club (para os que não estão no meio, isto é algo que consiste numa apresentação em powerpoint para o lab de um artigo científico, que tenha sido publicado recentemente e com um impacto de interesse geral e elevado. O tema não está necessariamente dentro da nossa área de investigação, pelo que exige alguma pesquisa adicional). Para ajudar ‘a festa, o meu chefe sugeriu que apresentasse um paper sem dúvida interessante mas muito complicado. Andei ‘a volta dele 2 dias e mesmo assim não estava segura de que conseguiria explicar a coisa convenientemente.
“Hoje o dia não está, definitivamente, a correr bem”, pensei eu enquanto desanimadamente me dirigia para a sala de reuniões. Surpreendentemente, a apresentação não poderia ter corrido melhor. No fim, vários post-docs vieram até dizer-me que tinha feito um bom trabalho e que eles tinha de facto aprendido algo novo. A melhor satisfação veio mesmo do comentário do meu chefe, que raramente ou nunca faz tal coisa: “Good job! It wasn’t an easy paper to handle.”
“Uff, já me safei!” Está visto que afinal até foi bom ter-me passado da carola logo de manhazinha. Assim, perdi toda e qualquer energia para ficar nervosa e consegui pôr o raciocínio a seguir uma lógica coerente.
Terminado o JC, tive então que ir comprar uma nova câmara de ar para a bicicleta. Lá fora a neve continuava a cair, agora de forma mais intensa. Mesmo assim, decidi arriscar e fui para a rua. “São só uns quarteirões”, pensei eu. Devias era ter estado quietinha Inês. Fui mesmo quando a tempestade de neve se decidiu a atingir o seu pico mas, nessa altura, já ia a meio do caminho e voltar para trás ou continuar dava no mesmo.
Nunca tinha assistido a algo tão violento. A neve era tanta que não se via um palmo ‘a frente do nariz. Tudo era branco. Os pés enterravam-se num manto branco, aparentemente plácido mas que se revelava um constante desafio, pois não deixava adivinhar o que estaria por baixo. A determinada altura o vento começou a soprar com toda a força e os flocos eram-me então atirados contra a cara, qual areia batendo na pele. Até doía. Por vezes caminhei de costas, para evitar receber as rajadas de frente mas, mesmo assim, conseguia sentir nas pernas as calças coladas e a neve/água a ser forçada contra elas.
Nos ouvidos, o vento e a neve zumbiam, criando uma sensação desagradável quando conseguiam passar o gorro e depositar pequenas gotas frias nas orelhas.
E então, coisa inédita e nunca dantes vista (segundo vim a constatar com os locais).
Para além de todo o corropio de vento e flocos, juntaram-se ‘a tempestade relâmpagos e trovões. O cenário era assustadoramente belo. A luz dos relâmpagos adquire uma cor e um espectro completamente distintos dos que normalmente se vêem. Contudo, não consigo descrever como são. O som também é totalmente diferente. Menos cavo e surdo... talvez abafado.
O que achei mais curioso e me chamou muito a atenção neste caso foi o facto de a tempestade não ter cheiro. Associo sempre chuva, trovões e relâmpagos a um cheiro verde, cheiro a terra, mas hoje... era um cheiro branco. Inodoro, indetectável, limpo, ausente. De todos os factores que poderia enunciar, acho que a ausência de cheiro foi o que tornou a experiência inesquecível. O não ter cheiro conferia, de alguma forma, uma sensação de desconforto que até agora desconhecia... como se nada de familiar existisse no cenário que me rodeava.
Depois de muita luta, consegui comprar a dita camara de ar e regressar sã e salva ao lab. Ironia das ironias, a tempestade amainou exactamente quando lá cheguei. Parecia que tinha estado de propósito ‘a espera que me armasse em carapau de corrida e me fizesse ‘a estrada. Só me faltava que o mesmo sucedesse ‘a noite, quando tivesse que regressar a casa mas, felizmente, os azares já tinham chegado para o dia.
Embora as ruas estivessem cheias de neve, já não nevava e pude pedalar de volta. Foi giro verificar que muitas das vezes ia até mais rápido que os carros, mesmo indo bastante lentamente. Não fosse eu a Maria das montanhas-russas, a aventura divertiu-me muito. Pedalar no gelo exige alguma adrenalina, o que eu adoro, e houve vezes em que o equilíbrio andou preclitante mas, com reflexos rapidíssimos, uma agilidade sobrenatural e um mortal encarpado para saltar da bicicleta digno da super formiga atómica triónica (aposto que há alguém no Brasil a rir com esta tirada), consegui evitar os espalhos eminentes (já estão a ver que tanta neve teve os seus efeitos secundários, nomeadamente provocar ataques de parvoíce. O que vale é que são esporádicos, hehhe).
Seguem-se algumas fotos que, mesmo assim, consegui tirar:
Bonito, sem dúvida, mas muito pouco práctico.
Nas ruas, por onde os carros passavam, a neve branca tinha-se já transformado em lama e era agora uma pasta de gelo acastanhada que cobria o asfalto, o qual teve que ser partilhado por bicicletas e carros, uma vez que nas bermas da estrada se acumulavam já bancos de neve que tornavam o trânsito de binas impossível. Mesmo com este cenário, decidi pegar na minha companheira de guerra e lá me fiz ‘a estrada com a bicicleta.
Fui cautelosa e cuidadosamente, pedalando devagar e aproveitando também para apreciar as transformações que uma simples porção de água sublimada induzem no quotidiano de outra forma normal: pessoas com gorros e luvas coloridas, vestidas com casacos grossos, com cachecóis ‘a volta da cara que só deixam vislumbrar os olhos, quais ninjas, emitindo baforadas visíveis, trânsito que se desloca mais lentamente, carros com correntes nos pneus, muitas pás, alguns trenós e limpa-neves.
Os adultos caminham mais sérios e sisudos, preocupados com as quedas eminentes das crianças para quem tanta neve só pode significar diversão e entretenimento. Toda a gente com faces rosadas e narizes vermelhos. Ia muito bem entretida nestas divagações quando, a determinada altura, algo me distraiu.
Sem razão aparente a minha bicicleta adquirira uma marcha diferente do deslizar habitual. Agora, saltitava ritmicamente.
”Não! Não!” dizia já eu para mim mentalmente antes de me decidir a olhar para as rodas.
“Bonito, já está!”
De todos os dias, TODOS, TODOS desde os quase 2 anos que aqui estou, logo hoje é que eu havia de ter um furo. Não, não podia ter sido ontem, ou antes ou ainda antes. Não, tinha que ser hoje. Juro que me apeteceu desatar aos saltos e ao berros de raivinha.
Respira fundo, inspira... expira... já está.
Assim, lá começou a Inês o dia a levar com neve na fuça, a caminhar pela neve e pelo gelo, que de si já exige bastante concentração e esforço para não escorregar e, como se não bastasse, ainda a carregar com uma bicicleta coxa. Entre dentes eu só resmungava “Porra, tu é que me devias carregar minha! Não era eu a ti, pá!”
E eu até estava bastante orgulhosa da minha bina até ‘aquele momento. E’ uma bicicleta de montanha, com pneus bastante grossos e muito pesada.
Desta feita, o mais comum é ter sempre todas as outras bicicletas (de cidade) a passarem por mim em alta velocidade, enquanto eu só me consigo deslocar a passo de caracol.
“Ha! Ha! Mas não hoje”, pensei eu (Mmmmuuuahahahaha – gargalhada mafarriquenta), “Hoje vou poder finalmente mostrar as vantagens de ter uma bicicleta tão robusta”. Yeah!!! Fia-te na virgem e não corras. Toma lá um furo que é para aprenderes!
Chegada ao lab, já tarde, e toda coberta de neve, tinha ainda que apresentar Journal Club (para os que não estão no meio, isto é algo que consiste numa apresentação em powerpoint para o lab de um artigo científico, que tenha sido publicado recentemente e com um impacto de interesse geral e elevado. O tema não está necessariamente dentro da nossa área de investigação, pelo que exige alguma pesquisa adicional). Para ajudar ‘a festa, o meu chefe sugeriu que apresentasse um paper sem dúvida interessante mas muito complicado. Andei ‘a volta dele 2 dias e mesmo assim não estava segura de que conseguiria explicar a coisa convenientemente.
“Hoje o dia não está, definitivamente, a correr bem”, pensei eu enquanto desanimadamente me dirigia para a sala de reuniões. Surpreendentemente, a apresentação não poderia ter corrido melhor. No fim, vários post-docs vieram até dizer-me que tinha feito um bom trabalho e que eles tinha de facto aprendido algo novo. A melhor satisfação veio mesmo do comentário do meu chefe, que raramente ou nunca faz tal coisa: “Good job! It wasn’t an easy paper to handle.”
“Uff, já me safei!” Está visto que afinal até foi bom ter-me passado da carola logo de manhazinha. Assim, perdi toda e qualquer energia para ficar nervosa e consegui pôr o raciocínio a seguir uma lógica coerente.
Terminado o JC, tive então que ir comprar uma nova câmara de ar para a bicicleta. Lá fora a neve continuava a cair, agora de forma mais intensa. Mesmo assim, decidi arriscar e fui para a rua. “São só uns quarteirões”, pensei eu. Devias era ter estado quietinha Inês. Fui mesmo quando a tempestade de neve se decidiu a atingir o seu pico mas, nessa altura, já ia a meio do caminho e voltar para trás ou continuar dava no mesmo.
Nunca tinha assistido a algo tão violento. A neve era tanta que não se via um palmo ‘a frente do nariz. Tudo era branco. Os pés enterravam-se num manto branco, aparentemente plácido mas que se revelava um constante desafio, pois não deixava adivinhar o que estaria por baixo. A determinada altura o vento começou a soprar com toda a força e os flocos eram-me então atirados contra a cara, qual areia batendo na pele. Até doía. Por vezes caminhei de costas, para evitar receber as rajadas de frente mas, mesmo assim, conseguia sentir nas pernas as calças coladas e a neve/água a ser forçada contra elas.
Nos ouvidos, o vento e a neve zumbiam, criando uma sensação desagradável quando conseguiam passar o gorro e depositar pequenas gotas frias nas orelhas.
E então, coisa inédita e nunca dantes vista (segundo vim a constatar com os locais).
Para além de todo o corropio de vento e flocos, juntaram-se ‘a tempestade relâmpagos e trovões. O cenário era assustadoramente belo. A luz dos relâmpagos adquire uma cor e um espectro completamente distintos dos que normalmente se vêem. Contudo, não consigo descrever como são. O som também é totalmente diferente. Menos cavo e surdo... talvez abafado.
O que achei mais curioso e me chamou muito a atenção neste caso foi o facto de a tempestade não ter cheiro. Associo sempre chuva, trovões e relâmpagos a um cheiro verde, cheiro a terra, mas hoje... era um cheiro branco. Inodoro, indetectável, limpo, ausente. De todos os factores que poderia enunciar, acho que a ausência de cheiro foi o que tornou a experiência inesquecível. O não ter cheiro conferia, de alguma forma, uma sensação de desconforto que até agora desconhecia... como se nada de familiar existisse no cenário que me rodeava.
Depois de muita luta, consegui comprar a dita camara de ar e regressar sã e salva ao lab. Ironia das ironias, a tempestade amainou exactamente quando lá cheguei. Parecia que tinha estado de propósito ‘a espera que me armasse em carapau de corrida e me fizesse ‘a estrada. Só me faltava que o mesmo sucedesse ‘a noite, quando tivesse que regressar a casa mas, felizmente, os azares já tinham chegado para o dia.
Embora as ruas estivessem cheias de neve, já não nevava e pude pedalar de volta. Foi giro verificar que muitas das vezes ia até mais rápido que os carros, mesmo indo bastante lentamente. Não fosse eu a Maria das montanhas-russas, a aventura divertiu-me muito. Pedalar no gelo exige alguma adrenalina, o que eu adoro, e houve vezes em que o equilíbrio andou preclitante mas, com reflexos rapidíssimos, uma agilidade sobrenatural e um mortal encarpado para saltar da bicicleta digno da super formiga atómica triónica (aposto que há alguém no Brasil a rir com esta tirada), consegui evitar os espalhos eminentes (já estão a ver que tanta neve teve os seus efeitos secundários, nomeadamente provocar ataques de parvoíce. O que vale é que são esporádicos, hehhe).
Seguem-se algumas fotos que, mesmo assim, consegui tirar:
Small things... the most precious!
Neste dia tive todas as razões e mais algumas para ficar mal humorada e o catalogar de um mau dia. No entanto, enquanto batalhava no meio da tempestade acima descrita, eis que aconteceu.
O telemóvel tocou.
"Humpf! Go figure! Este que também nunca toca agora, que estou no meio do polo norte, preocupada em sobreviver (que dramática!!), é que se lembrou de dar sinal de vida".
Tira luvas, rebusca o bolso 'a procura do telemóvel, destapa a cara, arranja um espaço entre o gorro, o capuz e a orelha para conseguir ouvir e dizer algo, vira contra o vento...
"Hello?!"
Do outro lado, uma voz tão querida e familiar:
"Escuta!"
Seguiram-se breves instantes do que parecia ser silêncio mas então tornou-se claro.
Era agora o bater do Mar que eu ouvia.
Fiquei estática e por momentos tudo parou e deixou de existir. Só havia aquele som. Quase que conseguia ver o mar azul bater contra a areia branca e a espuma espalhar-se e esfumar-se.
Sustive a respiração e fiquei avidamente a tentar ouvir mais e mais... ah, o Mar!
Emocionei-me, fui envolta em calor e fiquei feliz.
Passei o dia com um sorriso no rosto.
Tu... obrigada! :)
O telemóvel tocou.
"Humpf! Go figure! Este que também nunca toca agora, que estou no meio do polo norte, preocupada em sobreviver (que dramática!!), é que se lembrou de dar sinal de vida".
Tira luvas, rebusca o bolso 'a procura do telemóvel, destapa a cara, arranja um espaço entre o gorro, o capuz e a orelha para conseguir ouvir e dizer algo, vira contra o vento...
"Hello?!"
Do outro lado, uma voz tão querida e familiar:
"Escuta!"
Seguiram-se breves instantes do que parecia ser silêncio mas então tornou-se claro.
Era agora o bater do Mar que eu ouvia.
Fiquei estática e por momentos tudo parou e deixou de existir. Só havia aquele som. Quase que conseguia ver o mar azul bater contra a areia branca e a espuma espalhar-se e esfumar-se.
Sustive a respiração e fiquei avidamente a tentar ouvir mais e mais... ah, o Mar!
Emocionei-me, fui envolta em calor e fiquei feliz.
Passei o dia com um sorriso no rosto.
Tu... obrigada! :)
12.06.2005
Recuperação
E o Casaco Amarelo regressou hoje do Brasil.
No entanto, os relatos ainda vão demorar a aparecer.
Tendo em conta que ainda ontem estava na praia mais paradisíaca e de águas mais límpidas que algma vez vi, envolta em sol e calor (o dele incluído... o melhor de todos):
Regressar para isto...
(jardim visto do meu quarto, cheio de neve)
E' violento demais!
Tenho que recuperar e voltar 'a real.
Sim, porque o Brasil foi puro sonho :)
No entanto, os relatos ainda vão demorar a aparecer.
Tendo em conta que ainda ontem estava na praia mais paradisíaca e de águas mais límpidas que algma vez vi, envolta em sol e calor (o dele incluído... o melhor de todos):
Regressar para isto...
(jardim visto do meu quarto, cheio de neve)
E' violento demais!
Tenho que recuperar e voltar 'a real.
Sim, porque o Brasil foi puro sonho :)
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