1.04.2010

Inês: a prenda



Este ia ser mais um natal nos Estados Unidos, a juntar ao do ano passado (excelente por sinal).

Porque a conjunctura económico-laboral não era a mais conveniente, a decisão já tinha sido tomada há muito tempo. Aliás, estava tão tomada que até já andava a organizar há uns tempos a leva dos presentes daqui para Portugal.

AP, a alma caridosa deste ano tinha até já enviado aos meus pais os horários do seu vôo para que, na 5a feira, dia 17, estivessem 'a espera dela no aeroporto. Assim, ela dar-lhes-ia os meus presentes e eles, em retorno, entregar-lhe-iam pequenos miminhos para este lado do oceano.

Este era o plano até 2a feira de manhã, dia 14, altura em que uma catadupa de eventos felizes, incluíndo uma conjunctura económico-laboral bem mais favorável e promissora e um maridão que desde sempre insistiu para que eu fosse passar o Natal a casa, fizeram uma reviravolta nas teias do futuro e eis-me com uma passagem na mão, 2a feira 'a noite... para 4a feira, dai 16. Ou seja, também eu iria chegar a PT na 5a feira... tal como a minha amiga dos presentes.

Num passe de mágica e cumplicidade eis que em menos de nada AP já estava a mandar aos meus pais um email para os avisar de que tinha havido umas mudanças no vôo dela e que, afinal, ia chegar num outro horário na 5a feira (qual horário... o do meu vôo, claro).

Assim, quem ia chegar ao aeroporto não eram as prendas mas sim eu... os meus pais sempre me disseram que eu lhes saí uma bela prenda. Está visto que estavam certo, heheh!

O plano era tentar chegar ao pé deles, na 5a feira, bater nas costas do meu pai e perguntar "olhe desculpe, são os pais da Inês?" e depois aparecer eu: tchanam!!!!! Mas eis que a coisa acabou por não ser assim. Passo a explicar.

Quando saí das portas do aeroporto, quis passar despercebida e por isso ia de cabeça baixa e com o cabelo a cobrir-me o rosto. Contudo, eu tinha que dar uma espreitadela para ver onde é que os meus pais estavam. Quando o faço e encontro a minha mãe, naquele preciso momento ela estava a olhar para mim:

"Oh, já me descobriu!!! Lá se foi a surpresa!"

- pensei - mas estava tão excitada e feliz com a situação que desatei a acenar e a rir para ela.
E a minha mãe.... nada de nada de reacção!! Impávida e serena a prescrutar todas as pessoas, a ver se encontrava a AP.

"Yupi!!! Ainda bem que a minha mami é pitosguita. Não me viu! Assim, vou continuar a surpresa e aproximar-me deles!!"

Continuei, desci a rampa, vou-me a dirigir para eles e, ainda distante de conseguir fazer a surpresa, eis que desta vez é o meu pai que olha para mim:

"Oh, já me descobriu!!! Lá se foi a surpresa! Agora é que foi, afinal já estou perto deles e o meu pai não é nada pitosga, antes pelo contrário"

E o meu pai... nada de reacção !! Impávido e sereno a prescrutar todas as pessoas, a ver se encontrava a AP.

"Atão, mas está tudo cego?!?!" E aqui já nem pensava na surpresa porque já só me ria da situação e aproximei-me cada vez mais, a passos largos, com um sorriso rasgado no rosto. E, quando já só a uns passos dele, eis que o meu pai finalmente me "vê", com olhos de ver.

Agarrou de imediato no braço da minha mãe, sem desviar o olhar de mim, que agora só era interrompido pelo constante pestanejar, como se não acreditasse no que via. Abanou a minha mãe, continuando a olhar para mim:

" Olha a Inês!?! Não, não pode ser?!!!" - afirmava e questionava ele em simultâneo.

A minha mãe... nem lhe ligou! Julgando que estava no gozo continuava com o nariz no ar a olhar para as pessoas, não fosse ela perder a AP. Até tinha ido procurar nas fotos do nosso casamento no dia anterior quem era a minha amiga, para ter a certeza que não lhe passaria despercebida.

E o meu pai, continuava naqueles milisegundos que parecem minutos, de agitação, dúvida, espanto, surpresa, e mais dúvida e mais dúvida! Até que finalmente percebeu que sim, era eu.
Ficou lívido, de braços caídos ao longo do corpo, sem reacção, balbuciando "Então?! Mas.... mas estás aqui?! E a AP?! Mas....". Acho que na cabeça dele já duvidava dos mails que trocou, da informação que recebeu... de certeza que até lhe deve ter passado que se calhar eu lhe tinha dito que ia e ele não leu bem o email e lhe passou ao lado. Estava pior do que o Tomé, pois mesmo vendo continuava sem acreditar... coitadinho!

A minha mãe, entretanto, perante a insistência do braço que a agarrava e a abanava seguido de súbita acalmia, finalmente virou-se na minha direcção. Quando me viu, nem 1 segundinho de dúvida lhe percorreu aquela cabecinha de andorinha. De imediato um "oohh" de espanto, um sorriso escancarado, um ataque de riso, um rosto congestinado, vermelho e abraçou-me logo.

E foram tantos sorrisos!! Meus e da minha mãe, que o meu pai ainda ficou sem reacção por uns momentos... coitadinho!

Não haja dúvidas que a área das chegadas de um aeroporto é dos lugares mais felizes do mundo, mas quando o reencontro das pessoas se reveste de surpresa, a alegria consegue ainda ser maior. Foi lindo!!!

"Olha a nossa prenda!!! Que bela prenda!!", exclamavam eles aqui e ali.

E já dentro do carro, a caminho de casa e com a conversa a decorrer, o meu pai volta e meia ainda abanava a cabeça e quase se beliscava para ver se estava acordado e balbuciava, acariciando-me o cabelo:

"Olha a nossa Nês, está aqui connosco!!!"

Coitadinho! :)

2 comments:

Diana Prata said...

Eheheh, ate me fez lembrar de qdo vieste tb por reviravolta da conjuntura economico-laboral, ter comigo aos EUA....

Lee said...

E não houve lágrima ao canto do olho?