Mas nem tudo são más notícias.
Neste momento, eis a contagem decrescente que nos move :)
12.05.2011
Zona
Lamento informar que não vou falar de prostitutas, o que, sei, atrairia muitos mais leitores. Vou falar da minha desgraça. Toda a gente sabe que a desgraça alheia também é muito procurada. Assim, devo conseguir na mesma um número de leitores razoável :)
Ontem passei o dia no hospital, mais concretamente nas urgências.
Tudo começou no Sábado quando, 'a noite, comecei a sentir uma dor no lado direito do rosto. Embora não fosse um dor de dentes, parecia uma dor de dentes. Embora não fosse uma dor de ouvidos, parecia uma dor de ouvidos. Era um mal-estar generalizado e interno, uma dor difusa, difícil de descrever ou de apontar.
Porque estava toda ranhosa e congestionada por causa da gripe, assumi que fosse consequência do congestionamento dos sinus. Uma nevralgia qualquer. Como passado um bocado a coisa amainou, não pensei mais no assunto e até ne esqueci do sucedido... até Domingo de manhã, quando, após acordar, tomar o pequeno almoço e tal, de repente a dor recomeçou. Mas desta vez muito mais forte e numa área maior, sempre unilateral, no lado direito.
Parecia que me apertavam os molares com uma qualquer ferramenta pneumática, tal a pressão que sentia. Uma dor de ouvidos terrível e, progressivamente, dor no olho, seguida por uma incapacidade de manter o mesmo aberto por se tornar tão sensível 'a luz.
Aquilo não nos agradou nada e, quando comecei a sentir dormência do lábio, da gengiva e da zona ocular, decidimos ir ao hospital... mesmo sabendo que isso significaria passar um dia inteiro em esperas intermináveis.
Confirmou-se a espera interminável, mas também se confirmou que ter ido lá foi o melhor que fizemos. O que eu tenho é herpes zoster, mais conhecido por zona.
Como quase todas as pessoas, quando eu era miúda tive varicela. Fiquei toda pintalgada, consegui coçar-me e arrancar crostas mesmo contra os muitos cuidados dos meus pais e hoje tenho marcas aqui e ali que comprovam a façanha.
O que acontece é que, uma vez que se tenha contraído varicela, o vírus fica latente. Pode ficar latente para toda a vida e nunca se manifestar ou, só para chatear (como é no meu caso), pode lembrar-se de se reactivar. Geralmente, quando o faz é em pessoas com mais de 60 anos... mas está visto que eu não podia esperar. Eu tinha que ser especial de corrida, ora pois!
Como o vírus fica alojado em nervos e gânglios nervosos, quando é reactivado é como se estimulasse o nervo constantemente, fazendo com que este dispare como se não houvesse amanhã. Já estão mesmo a ver que isto causa dores imensas.
O stress tem as costas largas. Como tal, é apontado como uma das razões pelas quais o vírus volta ao ataque. Isso e o sistema imune em baixo... ou seja, não se sabe patavina por que raio é que isto acontece!
No meu caso, o meu querido vírus decidiu instalar-se no nervo trigeminal, que é responsável pela enervação do rosto, como podem ver na foto. É este querido que nos faz ter dores de dentes, dores de ouvidos, dores de cabeça... tudo do bom e do melhor.
Agora imaginem como é que eu fico quando o vírus decide bailar e sapatear no meu trigeminal. São essas dores todas ao mesmo tempo, de forma intensa e intermitente.
É maravilhoso!!
Para além das dores excruciantes (sempre quis usar esta palavra, hehehe), o bicharoco também leva ao aparecimento das famosas veículas cheias de líquido, responsáveis pelo aspecto contagioso da varicela e pela comichão/ardor. Porque estas se formam só na região onde os nervos são afectados, aparecem sob a forma de uma banda, daí o nome "zona".
Por ora ainda não desenvolvi qualquer sintoma cutâneo e estou com esperanças de que, por ter atacado a coisa em menos de 24h após os primeiros sintomas, tal não venha a acontecer.
Assim, ando só a curtir a bela da dor (que não há como evitar) e esperar que os anti-virais que estou a tomar limitem os sintomas a uma semana em vez de 3 ou 4.
A ver vamos!!
Tenho ou não tenho razão para andar sempre a dizer: só comigo!?
12.04.2011
Cantoria
Exagero
Dia 4 de Dezembro.
Entro na farmácia - musiquetas de Natal
Entro no supermercado - musiquetas de Natal
Entro nas lojas - musiqueta de Natal
Entro no hospital (sim, estive lá, mas nada de grave) - musiquetas de Natal
E ainda faltam 24 dias disto. Não sei se aguento.
* já para não falar do duende a vender árvores de natal verdadeiras nos passeios.
12.01.2011
Inesperado
Hoje o meu chefe chamou-me. "Inês, precisamos conversar".
Seguimos para o gabinete dele e as portas fecharam-se atrás de nós.
Sentados 'a mesa, só eu e ele.
"Temos que falar de algo que talvez não seja esperado." - (pronto, já houve merda!) - "Face ao teu desempenho nestes últimos meses" - (vou ser despedida!) - "e o que tenho observado da tua capacidade de organização e gestão do laboratório" - (ai o caracinhas que tenho que começar 'a procura de alternativas!) - gostaria de te conferir mais responsabilidades e autoridade. Um cargo superior."
Eis um belo exemplo de como em 5 segundos, num punhado de palavras, se deixa a vida de uma pessoa na corda bamba. Acabou bestialmente... mas bem que podia ter descambado em besta facilmente.
Mais uma prova
Tempo
Las Vegas
Antes de ter ido a Las Vegas, julgava detestar tal lugar.
Pela artificialidade, pelos casinos, pelo jogo, pela aberração que é ter tal meca do consumismo no meio do deserto. Contudo, foram exactamente essas as razões que me fizeram gostar daquilo.
E' de tal forma surreal, que o que me afastava, atraiu-me.
O mais engraçado é que, de tudo o que por lá há, por entre toda a oferta, do que eu mais gosto lá nada tem a ver com aquilo que normalmente é o postal de visita da cidade: casinos, jogo, sexo, espectáculos, luzes, hotéis, buffets, alcoól?
Não.
Do que eu gosto mesmo, mesmo, mesmo... é de ver a águas a dançar em frente ao Bellagio. Fico completamente embevecida com o espectáculo, com o combinar da música com a água, as luzes, a coreografia. Acho lindo!
E de todas as coreografias que já vi (acreditem que já devo ter visto todas), a que mais me impressiona é aquela acompanhada pelas vozes da Sarah Brightman e Andrea Bocelli.
A música é bonita. Concordo. Mas nunca foi daquelas músicas que me fizessem carregar no "repeat" e ouvir até 'a exaustão. Mas, quando a ouço com a força das águas... qual Caetano, alguma coisa acontece no meu coração.
E de tão emocionado que o meu coração anda nestes últimos meses, acabei a chorar que nem uma Madalena face 'aquela beleza (vídeo):
11.28.2011
Miscelânea
Ando sem vontadinha nenhuma de escrever... e tantas coisas giras que havia para dizer.
Mas pronto, era só para sossegar aqueles que por acaso cá vêm e só encontram teias de aranha. Ainda estou aqui!
O concerto no Lincoln Center foi o máximo! Casa cheia, aplausos de pé, gritos de "bravo" por todo o lado, o máximo!! Claro que todo este aparato se devia 'as divas da ópera que pisaram o palco, mas foi giro participar da coisa e ver como é o este lado de um concerto de música clássica.
Primeira impressão: afinal os músicos da orquestra não estão sempre super compenetrados como aparentam estar quando os vemos sentados na plateia. Nos ensaios, a senhora da harpa, que só tocava de vez em quando, estava a fazer tricot. Aqueles que tocavam instrumentos menos usuais e ficavam muito tempo 'a espera da sua entrada, entretinham-se com iPhones e a ler Kindles, estrategicamente colocados juntos 'as pautas.
Segunda impressão: No concerto senti-me como a Amélie Poulin, que a determianda altura dizia gostar de se sentar no escurinho do cinema e olhar para trás para ver a cara das pessoas, especadas a olhar para o grande ecran. As caras das pessoas a ouvir um concerto são muito giras.
Entretanto, o David fez anos e, para o surpreender e celebrarmos (e aproveitando o feriado longo do Thanksgiving), fomos até Las Vegas para passarmos 5 dias a curtir as luzes, os espectáculos, os buffets, os casinos, o hotél de 5 estrelas, o tempo ameno... foi uma alegria.
Bem que se diz que "what happens in Vegas, stays in Vegas" mas acho que isso só se aplica ao dinheiro (que, por brincadeira, apostámos no casino e vimos a voar rapidamente), pois os quilitos a mais que por lá ganhei bem que marcaram presença aqui em Nova Iorque, quando me pesei.
O insólito da viagem foi quando, ao assistirmos ao espectáculo do David Copperfield (sim, ainda é vivo e ainda está a dar-a-dar), fui chamada ao palco para participar num dos truques. A coisa foi totalmente surreal, metendo corridas pelo meio, passagem pela rua e pela cozinha do hotel e acabando no topo da bancada em grande estilo, como se nada se tivesse passado. Ri-me que nem uma perdida e ainda tive oportunidade de estar com o Copperfield, esse bacano, enquanto ele nos fazia uma lavagem cerebral para não revelarmos o segredo da mágica. Foi giro!
Fiquei agradavelmente surpreendida com o espectáculo Zumanity, do Cirque do Soleil, mais conhecido pelo lado sensual do mesmo. E' excelente, extremamente erótico, sem cair no ordinário nem esquecendo a vertente circense do grupo. Gostámos muito e a foto que tirámos no fim do espectáculo, numa maquineta que lá estava, é a que ilustra este post.
E hoje, 2a feira, estou sem vontadinha nenhuma de trabalhar!
Foi bom, mas acabou-se :)
11.05.2011
Probablidade Nuiorc
Em Nova Iorque, está mais que provado, a probabilidade do improvável acontecer é maior que em qualquer outro lado.
Quinta feira 'a noite estava eu sentadinha numa das fileiras do Avery Fisher Hall, no Lincoln Center, a ver e ouvir Koyaanisqatsi, obra conjunta de Philip Glass e Francis F. Coppola, que apareceram sobre o palco, para nos maravilhar.
Em menos de 24 horas, era eu quem estava em cima desse mesmo palco, desta vez com a NY Metropolitan Opera Orchestra e o coro, a ensaiar para a Tucker Foundation Gala, evento (esgotado, diga-se) a ocorrer amanhã.
Ah, o meu debut nos palcos da maçanita!!
Digam-me lá, meus amigos, qual é a probabilidade de isso acontecer a um mero mortal como eu que, por hobbie, decide cantar e, tufas, calha neste coro e vai cantar no mesmo palco onde o Philip, himself, esteve também a actuar?
Probablidade Nuiorc!! :)
10.31.2011
A criatura
Eu jurei para mim mesma que não ia desenvolver sobre a criatura referida neste post.
Contudo, a burrice é tanta e tão inimaginável, que não resisto a partilhar algumas pérolas. O desespero já virou riso, então, eis 2 momentos que me deixaram a gargalhar:
1) passei por um bancada onde um alarme avisava que o tempo marcado já se tinha esgotado.
Pi-pi! Pi-pi! Pi-Pi! - estridente.
O que qualquer pessoa normal fazia era desligar o aparelhómetro, por forma a parar com aquele barulho infernal imediatamente. Caso contrário, a coisa toca por um minuto inteiro, que mais parece uma eternidade.
Pois a criatura estava junto ao aparelho, a olhar para ele, de braços cruzados.
Pi-pi! Pi-pi! Pi-Pi! - estridente.
Pelo sim pelo não, arrisquei dizer o óbvio:
- O teu alarme está a tocar.
- Eu sei, estou só 'a espera que pare.
- Eeerrr... mas podes pará-lo quando quiseres. Basta carregares em qualquer botão!
- Ah, sim?! Pensei que tinha que tocar até ao fim.
Juro que eu acho que a criatura não sabe que aquilo só serve para a avisar que já passou determinado tempo e que não acontece nenhuma catástrofe se aquilo fôr parado antes de estar aos berros por 1 minuto.
2) Aqui nos EUA quase não há número de telefone nenhum para onde se telefone em que não apareça uma maquineta a falar connosco, a dizer "pressione 1" ou "pressione 2" consoante o que pretendemos. Ou então, a pedir que digamos "Sim", "Não" ou qualquer outra coisa, para nos direccionar para o departamento indicado (que, qual Murphy's law, é sempre o errado).
Por natureza, as maquinetas não percebem bem o que a malta diz, pelo que temos que falar devagar e espaçadamente. 'As vezes é desesperante mas, como é com uma máquina que estamos a falar, há que repetir o processo até que a coisa se decida a avançar.
Hoje de manhã a criatura começou a falar com uma dessas máquinas. A determinada altura, já respondia enfastiada "Já disse que sim!!". Óbvio que a máquina a mandava repetir, uma vez que só aceita "sim" ou "não"... e pronto, ficou nisto parte da manhã. A discutir com uma máquina.
Se eu quisesse inventar estas histórias, não conseguia.
Só comigo....
10.20.2011
Amor 'a Camisola
A New York Choral Society ensaia todas as 3as feiras, das 19h 'as 22h.
Sem falta, tenho comparecido a todos os ensaios e saído de lá toda satisfeita, a cantarolar por tudo quanto é lado e enquanto pedalo para casa.
Porque se aproximam concertos importantes, tal como o do Carnegie Hall, em Dezembro, mas também a Richard Tucker Music Foundation Gala, em que vamos cantar com solista todos mariquitas e de renome internacional (tão mariquitas que são prima donnas que se dão ao desplante de anunciar o que vão querer cantar somente uns dias antes do evento e nós que nos desenrasquemos), este Sábado há novo ensaio, desta vez de 6 horas. E, mesmo sendo fim de semana, em Nova Iorque, com sol e montes de eventos aqui e ali, lá vou estar eu, toda empenhada.
Para além disso, já comprei a indumentária para os concertos, já escuto diariamente no meu iPod as gravações de cada peça e, volta e meia, lá consigo mandar uns berritos também em casa, quando consigo ensaiar.
A isto é o que eu chamo amor 'a camisola (sempre do FCP, carago!) :)
Sem falta, tenho comparecido a todos os ensaios e saído de lá toda satisfeita, a cantarolar por tudo quanto é lado e enquanto pedalo para casa.
Porque se aproximam concertos importantes, tal como o do Carnegie Hall, em Dezembro, mas também a Richard Tucker Music Foundation Gala, em que vamos cantar com solista todos mariquitas e de renome internacional (tão mariquitas que são prima donnas que se dão ao desplante de anunciar o que vão querer cantar somente uns dias antes do evento e nós que nos desenrasquemos), este Sábado há novo ensaio, desta vez de 6 horas. E, mesmo sendo fim de semana, em Nova Iorque, com sol e montes de eventos aqui e ali, lá vou estar eu, toda empenhada.
Para além disso, já comprei a indumentária para os concertos, já escuto diariamente no meu iPod as gravações de cada peça e, volta e meia, lá consigo mandar uns berritos também em casa, quando consigo ensaiar.
A isto é o que eu chamo amor 'a camisola (sempre do FCP, carago!) :)
Desabafos
O meu último emprego, que eu julguei que ia ser um paraíso, rapidamente se revelou um inferno. Livrei-me dele em 3 meses (bem como mais 3 pessoas que também se despediram), e julguei que a coisa nunca poderia ser pior.
Entre vários aspectos, o facto de ter um hippie gordo a peidar-se todos os dias e a toda a hora, fosse onde fosse, 'a frente de quem fosse, batia, para mim, o fundo do quão mau um local de trabalho podia ser. No início ainda duvidei. "Será que ele acabou de se peidar?!?". Mas, após uma reunião com ele e com a Presidente, em que a criatura de deu ao desplante de alçar a perna e largar uma valente farpa, não restaram dúvidas.
Mas, enganei-me. Pior do que levar diriamente com os flatos de uma bufadeira ambulante é ter que lidar diariamente com a burrice extrema de uma das funcionárias aqui do laboratório.
A criatura é tão burra, mas tão burra, que digo com toda a certeza que estou diante da anta mais anta 'a face da terra.
A exasperação, frustração e estado de nervos em que me deixa tamanha burrice em nada se comparam com a violentação odorífica a que era sujeita. Agora, em perspectiva, vejo que era cheiro a rosas.
Só comigo.....
10.15.2011
Parabéns DANI
Hoje faz anos a Dani, a Sorriso Maracanã!!
E digo "faz" porque, embora nos tenha deixado há pouco mais de 3 meses, a Dani continua presente em todos nós, aqueles que tiveram o privilégio de, algures nas suas vidas, verem o seu caminho cruzar-se com o Dela, dona do Sorriso mais lindo que o mundo alguma vez conheceu.
E se jamais alguma vez foi esquecida desde o dia 9 de Julho deste ano, a semana que passou foi de ainda maior lembrança e intensidade de sentimentos, face ao derramar de Confissões e Amor que partilhou connosco o Edu, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, em antecipação deste dia tão especial.
Hoje faz anos a Dani, a Sorriso Maracanã!!
E há minutos liguei ao Edu, para o encontrar em Copacabana, rodeado por Amigos e Familiares que, com Ele, celebram a Sorriso Maracanã e os seus 40 anos. E o tanto que queria dizer ao Edu neste dia, por Ela e por Ele, acabou por ficar por dizer, ao ser colmatado pela emoção.
Nas poucas palavras que proferi, partilhámos as lágrimas, o carinho e a lembrança e quis que soubesse que, também aqui, em Nova Iorque, a Dani está a ser lembrada e celebrada no dia Dela.
Em Nova Iorque, cidade que ocupa um espacinho especial no coração Dela, a Dani juntou-se a nós para o pequeno-almoço. Na mesa, um lugar para Ela, sob o sol da cidade que nunca dorme.
E nesta Luminosa Manhã demos os Parabéns 'a Dani e brindámos com Ela.
Ouvimos Bethânia, Chico, Caetano.
Cantou Maria Rita, cantou Beth, cantou Teresa.
Samba, Chorinho.
Tudo foi Brasil, tudo foi Rio, tudo foi Maracanã... Sorriso Maracanã!
Muita Saudade.
(Último encontro, Rio de Janeiro, Abril 2010)
Parabéns Dani!!
Parabéns Crida!!
9.28.2011
Sempre acordada
9.21.2011
Mundo traumático
Esta coisa de se viver nos EUA, mais propriamente em Nova Iorque, onde os ataques de 11 de Setembro de 2001 aconteceram, acaba por se nos entranhar no sistema e, mesmo logo ali, debaixo da pele, acessível 'a mais leve brisa de ar frio, eis que se eriçam os pêlos do braço com o medo subjacente em que se vive.
Nunca antes julguei viver com este "medo". Lembro-me que quando para cá vim, também para Nova Iorque, mas em 2004, me perguntavam se não tinha medo de morar num local tão apetecido pelos terroristas, ao que respondia que não. E não tinha, de facto.
Contudo, as coisas parecem ter mudado com o 10º aniversário da queda das torres gémeas. Mesmo sem queremos, a cidade começou a viver numa ansiedade e expectativa em antecipação desta data. Nas ruas sentiam-se (e ainda se sentem) os olhares dos polícias, as luzes das sirenes, a presença dos carros estrategicamente posicionados, os avisos aqui e ali, cuidado, se vir algo diga algo. É suspeito? Alerte!!
E, como disse, foi-se-nos entranhando no sistema.
Na 6a feira, dia 9 de Setembro, dirigi-me para o metro com uma amiga. Pelo caminho, o trânsito estava parado e caótico. A 2a avenida cheia de luzes até perder de vista. Nada de movia, nem para trás nem para a frente, excepto as pessoas dentro dos carros, agitadas e a buzinar, como se isso adiantasse alguma coisa. Havia luzes de sirenes por todo o lado, polícias, guardas, coletes anti-bala, armas aqui e ali, devido 'a ameaça de bomba em pontes de Nova Iorque e de Washington. Uma confusão mas, mesmo assim, seguiamos como se tal fosse normal, de tão comum que é a azáfama nesta cidade. Até deu para notar e saltar de susto e repugnância ao ver uma barata atravessar-se-me no caminho. Ai ca nojo!!!!!!
Descemos as escadas rolantes, passámos os torniquetes, descemos mais escadas rolantes e ficámos 'a espera do metro, na plataforma. Eis que os estalidos ensurdecedores que ecoaram pela estação nos alertaram para os altifalantes. De lá, por entre sons roufenhos e difíceis de decifrar, a voz de uma mulher: "Atenção!! Atenção!! Uma mulher acabou de saltar os torniquetes. Estou-me a passar com ela. Tem calças azuis, blusa branca e tem também... um hatchet".
Ficámos perplexas: primeiro pelo inusitado da situação. Porque raios nos estariam a avisar que alguém saltou os torniquetes? E a descrever a pessoa. E que forma estranha de o fazer, afinal "estou-me a passar com ela" não é a frase mais comum para se ouvir num altifalante. Seria isto o resultado da pressa em passar o alerta? Mas, espera, se nos estão a avisar é porque certamente se passa algo. Estaremos em perigo?? E aquela última frase? Um "hatchet"? Hatchet quer dizer machado. Será que vem por aí uma louca qualquer, daquelas que ataca um monte de pessoas indiscriminadamente?
Em milésimos de segundos isto foi o que passou pelas nossas cabeças, confusas e sem perceber bem o que se passava e até duvidando se de facto a palavra foi "hatchet", uma vez que o som era do piorio. Mas naquele impasse, a dúvida foi o suficiente para nos deixar em sobressalto. Afinal, poderia muito bem ser "hat" (chapéu) em vez de "hatchet". Mas, imperou a hipótese pior. Senti a adrenalina invadir-me imediatamente, o coração a bater mais forte e foi claro que ninguém na plataforma ficou indiferente. As cabeças viravam-se para as escadas e para os trilhos, a ver quem chegaria primeiro: o metro ou esta mulher, de quem nada sabíamos ou percebíamos mas que, ao ser algo desconhecido e suspeito, nos deixou imediatamente em sobressalto.
O metro chegou. Apressadamente, toda a gente entrou, olhando sempre para trás e suspirando de alívio quando as portas se fecharam. Da mulher, não houve mais sinal.
E, já mais tarde (e mesmo sem saber bem o que se tinha passado naquela plataforma), percebi que, de facto, o ambiente de medo em que se vive desde o 11 de Setembro, acaba por afectar toda a gente, mesmo aquela menos paranóica e preocupada como eu me considero.
E' o mundo em que vivemos!
9.19.2011
Storage Space
E' um facto que, em Nova Iorque, a maioria das pessoas lida com falta de espaço... e nada como aproveitar isso como forma de publicidade.
"Na casa do meu Pai existem muitos quartos" - João, 14-2
Claramente, Jesus não era um Nova Iorquino"
Excelente!
PS - Achei o anúncio tão bom que tive que tirar a foto, mesmo com o homenzinho 'a frente :)
9.15.2011
9.14.2011
A viagem de regresso: 2a parte
Confesso que, enquanto deitavam ao lixo toda a minha comidinha na alfândega dos EUA, tive vontade de perguntar se podia comer uma fatia daquela pizza deliciosa que assim se desperdiçava. Mas, não fosse o diabo tecê-las, decidi ficar caladinha (e cheia de fome) e tentar sair daquele embróglio o mais rapidamente possível.
Ainda bem que assim o fiz porque, caso tivesse alguma coisa no estômago, de certeza que o tinha vomitado perante o cheiro nauseabundo que se fez sentir na zona de (re)check-in e passagem pelo raio-X, onde toda a gente tem que se descalçar. Como diria o Herman, de certeza que havia por ali alguém que já tinha morrido e ainda não tinha recebido o aviso em casa. O cheiro era horrível e infestou o terminal todo. Era ver TODA a gente, de TODAS as filas a torcer o nariz, os seguranças com os dedos a apertar as narinas, uma maravilha. Aposto que se os cãezinhos catitas que cheiraram a minha mala cheirassem aquilo, caiam para o lado e ficavam incapacitados olfactivos para toda a vidinha. Olha, era da maneira que o meu salpicão se safava!!
Enfim.
Passado mais este tormento, chego finalmente 'a porta de embarque, para um vôo de cerca de 20 minutos, de Filadélfia para Nova Iorque. O meu estômago voltou a dar sinal de vida e ainda pensei em comer alguma coisa mas "ah, são só 20 minutos, como quando chegar a casa", pensei.
Caminhámos pela pista, deixamos a nossa bagagem de mão no carrinho 'a entrada do avião e entrámos num teco-teco minúsculo, com 2 hélices e que começou a tremer por todo o lado assim que estas entraram em funcionamento. Ficámos a curtir aquele torpor e barulho durante uns bons 20 minutos, altura em que, finalmente, nos começámos a deslocar na pista. Andámos, parámos, andámos, parámos e nada de descolarmos. Passam mais uns 15 minutos e o capitão finalmente diz-nos que estamos em 9ª posição para sairmos e que, dentro de 15 minutos, devemos estar no ar. E com isto, já se tinham passado quase 40 minutos e o meu estômago continuava a reclamar... e a suspirar pela pizza e pelo salpicão.
Esperamos 5, 10, 15, 20 minutos, e as hélices ensurdecedoras a dar a dar, nós a termermos (ou seria o meu estômago aos pinotes?) e nada de sairmos de Filadélfia. Finalmente, o PA de novo, a voz do capitão e a esperança de que fossemos ouvir "é agora".
Não.
"Ah, vamos ter que abortar a descolagem porque passou agora um avião por nós que nos alertou para o compartimento de carga mal fechado, com algo a sair. Vamos ter que encontrar um local para estacionar e verificar o que se passa".
Éláh, isto é todo um novo nível. Possibilidade de ter as malas a voar pelo ar é novidade. Lindo!
E lá fomos nós passear pelas pistas do aeroporto. O cenário era meio surreal: o avião a andar, o pessoal todo a tirar os cintos, a ligar os telemóveis e a falar a contar as novidades. Parecia uma excursão só que, na falta de um autocarro, olha, peguem lá uma avioneta. Lá se passaram mais uns 10 minutos quando finalmente parámos, o capitão saltou lá para fora, saltou a hospedeira, voltaram para depois nos dizerem: está tudo bem!! Afinal não se passa nada. Era só a tira de fechar o compartimento que criou a ilusão de óptica. By the way, agora vamos ter que esperar que venha o camião com combustível, porque temos que reabastecer."
UAU, tudo o que eu queria: esperar AINDA mais.
Depois de mais de 1 hora com as hélices ligadas, já não tínhamos que chegasse para o vôo de 20 minutos. Até eu já estava sem combustível de tão coladinho 'as costas que estava o meu estômago. Desculpa lá amigo, devia ter pedido aquela fatia de pizza!
9.10.2011
Aniversários Camones
Este é o fim de semana do 11 de Setembro e NY está em polvorosa face 'a possibilidade de retaliações e novos ataques terroristas na data comemorativa do 10º aniversário daquela desgraça.
Ontem, uma demonstração poderosa de armamento e segurança ocupou as ruas devido a um alarme de bomba na cidade. O trânsito esteve caótico.
O fim de semana avizinha-se um terror. Precauções, cuidado, nada de andar de metro... Mas, a bem da verdade, devo dizer que o pior pesadelo está aqui, mesmo 'a porta, em frente 'a minha varanda, onde uma festa de anos, com palhaços aos berros, se desenrola já há mais de 1 hora.
Socorro!!!
Fineprint
Ainda a propósito do côro, no email que recebi a confirmar que eu tinha sido aceite no grupo, lê-se no fim:
"Please arrive at least 15 minutes early in order to pay dues, pick up music, find your section leader and your seat. Please bring a pencil to every rehearsal so you can mark up your music. Out of respect for your fellow members please do not wear perfume, aftershave or cologne."
"Por favor, chegue pelo menos 15 minutos antes, por forma a pagar taxas, receber as pautas, conhecer o seu chefe de secção e saber qual o seu lugar" - até aqui, tudo normal.
"Por favor, traga um lápis para todos os ensaios, para que possa fazer notas nas suas pautas" - normaleco também.
"Respeite os seus colegas. Por favor não use perfume ou água de colónia" - O QUÊ??
Chegar lá a cheirar a suor ou a cavalo é que é respeitar o próximo?!
Nem pensar!!
"Jamé" (jamais, em Francês :)) abdicar do meu "Pleasures"!!!
Se alguém se queixar, juro que no ensaio seguinte vou a feder a lixívia e a cebola, com os pés a cheirar a chulé e ainda levo um queijo dentro da mala... a ver se depois não me imploram que use perfume afinal.
Ou vai ou racha. Foi!
Lá diz o povo e com razão que, 'a 3a é de vez. E foi mesmo!
Como já escrevi há tempos aqui e aqui, tentei em diferentes ocasiões integrar um coro. Na primeira tentativa chegei até 'a final, para depois ser elimiada. Na 2a tentativa, a coisa foi tão escabrosa que me mandaram logo de requitó para casa, sem passar pela casa de partida e receber o bónus.
Desta vez, tentei juntar-me 'a New York Choral Society e, pelo sim pelo não, nem fiz muito alarido da coisa, não fosse isto dar para o torto e vocês começarem a julgar que eu tenho estado este tempo todo em negação e que já está na altura de aceitar que tenho voz de cana rachada.
Felizmente, desta vez a coisa foi diferente e foi com muita satisfação que recebi as boas vindas por parte do coro. Confesso que vi a coisa tremelicar quando lá cheguei e comecei a ouvir sobre a reputação do côro.
Basicamente, dei com eles numa busca rápida pelo Google de côro em Nova Iorque. Foram o primeiro hint, vi que tinham audições para breve... então 'bora lá. Não aprofundei muito mais. Mas ontem, enquanto esperava pela minha vez, comecei a ouvir sobre as actuações no Carnegie Hall, no Avery Fisher Hall, com o Pavarotti nos Grammy's (que depois não apareceu e foi substituido pela Aretha Franklin), do quão bons eles eram e comecei a pensar que me ia meter numa bela embrulhada, que aquilo não era coisa para o meu calibre. Mas, já que lá estava... seja.
Confesso que me senti a vontade e que a coisa correu bem. Embora tenha cantado 'a capela, deixei a Telepatia de lado e desta vez cantei Killing me Softly. Está visto que a coisa agradou.
ASsim sendo, voilá! Começo os ensaios na 3a feira e estou ansiosa.
A cereja em cima do bolo: cantar com o côro já em Dezembro, no Carnegie Hall.
Quem diria que um dia pisaria aquele palco? :)
9.09.2011
E o Chato o Vento Levou
Como já referi antes, aqui e aqui, temos um porteiro mesmo "muita" chato!
Ele é tão chato que, quando é preciso passar pelo lobby e sabemos que ele lá está, eu e o David fazemos pactos, acordos, tratos, tudo e mais alguma coisa: Ok, hoje vou eu, mas da próxima vez és tu. Ou, hoje é a tua vez porque eu aturei-o a semana passada.
Ele é tão chato que sabemos de cor os dias em que ele está de folga. Paz!
Agora que passa várias semanas fora de casa, o David programa o seu regresso para esses dias e exclama ao chegar a casa: é bom vir a casa!! Vejo-te e não ponho a vista em cima do porteiro chato.
Ele é tão chato que, nos faz desistir de ir ao ginásio se sabemos que é a ele que temos que pedir que nos abra a porta.
Ele é tão chato que, quando o furacão Irene ameaçou a Big Apple há duas semanas, o David desejou que o vento levasse o raio do porteiro.
E não é que deve ter levado mesmo?!?!
Há mais de uma semana que não há sinal do Chato. Que chegamos ao lobby, meio que ansiosos para ver se ele está lá, e é com alívio que constatamos que não, que só temos que dizer "Olá" e basta para seguirmos.
Se realmente foi com a Irene, a esta hora o Chato deve estar a azucrinar o juízo de alguém no Canadá. Só espero que não enfureça a Irene de tal maneira que ela se vingue e nos mande outra tempestade :)
9.03.2011
A morte do Artista - El Salpicão
Na 5a feira passada regressei aos EUA, após 3 deliciosas semanas em Portugal.
Como já vem sendo costume nestes mais de 7 anos, durante os quais já repeti esta viagem um cem número de vezes, na bagagem, para além das saudades (que nunca se dissipam), trago também os mimos com que a minha Madrecita me repleta a mala. Bifes e carne recheada, língua estufada, esparregado, bacalhau com grão, massa de coelho, etc... só a título de exemplo.
Podia eu própria cozinhar estas coisas por aqui? Podia... mas não teria o mesmo gostinho!
E' da praxe que no dia anterior 'a viagem a minha Mãe o passe com as compras dos ingredientes fresquinhos, que fique horas na cozinha 'a volta do fogão e das panelas, a preparar todas estas iguarias, com Amor incondicional (o tal tempero especial).
Ao fim do dia, tudo é embalado de forma exímia, para depois ser colocado na malita estrategicamente, bem acomodado, para chegar a são e salvo 'a cozinha deste lado do Atlântico.
Esta vez não foi excepção e, no dia da viagem, a mala a despachar no check-in rebentava de tanta fartura. Porque há sempre o querer de mais alguma coisinha, lembrei-me de que também gostava de levar uns salpicões (iguaria que trouxemos da Régua, fruto da doçura constante dos meus Tios Nanda e João... mais um tempero especial). Como já antes tinha levado do mesmo na mochila que segue comigo, dentro dos sapatos (experiência, experiência: são muitos anos a virar frangos, heheh), decidi pôr 2 destes espécimens dentro dos meus ténis, que por sua vez iam dentro da tal mochila.
E eis que este foi o primeiro erro fatal da história que vos vou contar.
Passado o raio-X em Lisboa, tudo foi tranquilo. Não me disseram nada e eu nada disse, seguindo contente para o embarque.
Chegada 'a alfândega dos EUA, a típica pergunta: traz comida ou bebida consigo?
A típica resposta: sim, trago azeite, vinho do Porto, chocolates, bolachas.
Não estou a mentir... só não faço uma lista extensiva de tudo. Coitado, o homem tem mais que fazer :)
E eis que me planto diante do carrossel, para recolher a mala da fartura, prestes a ser depositada em terras do tio Sam. E é neste momento que faço o segundo erro fatal.. já vão perceber porquê.
Porque a mochila estava bastante pesada e se adivinhava uma espera algo demorada para a chegada das malas, decidi pousá-la no chão (O erro), para poupar as minhas costas, já massacradas das 1001 voltas dadas na cadeira minúscula do avião. Vai daí, passados uns minutos, noto uma guarda com um Beagle pela trela a passear por entre as pessoas que, tal como eu, aguardavam.
Gosto tanto de cães que, sempre que vejo um, fico a olhar para ele com um sorriso parvo. A estes do aeroporto acho-os tão giros que me esqueci completamente que, dentro da mala, tinha os salpicões... e que a mala estava no chão... e claro está que o cão de parvo não tem nada e qualquer um desata aos saltos de alegria 'a mínima inspiração da essência de tal iguaria.
Com o tal sorriso parvo no rosto, vi o cão aproximar-se da minha mochila, e estacar, abanando a cauda todo catita. Óbvio que fiquei logo sem o sorriso parvo, quando me lembrei porque é que o bicho estava a exibir tal comportamento. Não era felicidade por me ver, concerteza.
- Tem alguma carne dentro da sua mochila? - perguntou-me a guarda simpaticamente.
Ainda tentei inventar qualquer desculpa 'a pressão mas, como não tenho jeitinho nenhum para mentir ou improvisar, antes que o pudesse controlar já estava a dizer - Sim, tenho um salpicão. Mostrei-o 'a guarda, que me disse que,'a saída do terminal, teria que passar por uma outra secção e mostrar isto aos guardas que lá estavam. No formulário de alfândega rabiscou-me para lá umas coisas em letras gigantes e, agora com um sorriso amarelo, disse que sim 'as instruções recebidas e continuei 'a espera da mala.
Chegou a mala, peguei nela e lá fui eu, com a mala, a mochila, o salpicão e o formulário rabiscado em direcção aos tais guardas, na esperança de que só tivesse que mostrar o papel, entregar o enchido e bazar. Mas não, claro está.
Para além dos guardas, uma máquina de raio-X gigante. Oh-oh, exclamei. Numa manobra de diversão totalmente falhada e frouxa, ainda deixei a mala da fartura 'a entrada, e segui para eles só com a mochila e o salpicão na mão, mas está na cara que nenhuma mala abandonada passa despercebida (muito menos nesta terra de fanáticos) e um guarda, tão querido, veio atrás de mim com a mala da fartura. Ah, é verdade, respondi com um sorriso já não sei de que côr. E lá peguei eu na mala da fartura, agora o meu bem menos desejado naquela situação.
E pronto, já se adivinha o que se seguiu. Passaram as malas todas pelo raio-X, mandaram-me abrir a mala da fartura, e... voilá! Que é isto? Bifes recheados. Lixo. E isto? Carne recheada. Lixo. E isto? Pizza (não se riam! E' a melhor do mundo e tenho que a trazer comigo também :)). Pizza de quê? Galinha (parva, porque é que não disse vegetais? Porque é que não sei mentir?). Lixo. Ao lado, o cãozinho abanava a cauda de contente, tais os aromas apetitosos que se faziam sentir. Mas eu, a única coisa que sentia era uma pena tremenda de ver tanta comida boa a ser desperdiçada, quando há tanta fome no mundo... e ver também o esforço e carinho da minha Mami irem para o lixo, literalmente. Ainda ensaiei algo como - Essa comida é toda boa! Não a podem dar aos cãezinhos? Uma gaja que lá estava, mal encarada, respodeu - se não serve para si também não serve para os cães. Noutra situação teria ripostado mas, como ali já estava com a corda ao pescoço bem apertada, engoli em seco e fiquei caladinha.
O guarda que, estupfacto, me questionava sobre o que tinha dentro dos tupperwares e deitava fora todo o seu conteúdo, não querendo acreditar que havia sempre mais alguma coisa a supervisoonar, até era simpático e quase que parecia sentir a minha dor. No fim, pediu-me o passaporte. Aí sim, passei da fase do sorriso de côr indeterminada para a fase dos calores, que é quando percebo que a coisa pode ser mesmo séria.
Senti a nuca transpirar imediatamente, bem como o suor a escorrer-me pela barriga. Ouvi os meus instestinos contrair-se. Perder a comida, ainda é como aquela, pronto, enfim, azareco. Mas, se aquilo interferisse com a manutenção do Greencard, aí a coisa já piava mais fino.
Estava eu nestas conjecturas quando o tal guarda simpático regressou com o meu passaporte na mão, bem como com o formulário da alfândega (onde, devo dizer, tinha escarrapachado cruzes em tudo o que era NÃO 'as perguntas traz carnes, frutas, vegetais, etc...).
Delicadamente, pegou no formulário e começou a explicar-me que não há qualquer problema em assinalar um SIM 'as perguntas sobre comida, pois há coisas que se podem trazer. No entanto, compete-lhes a eles, decidirem o que é permitido e o que não é. E que me tinha arriscado a uma multa de $300 dólares e blá, blá, blá. Só consegui balbuciar que sim, que ele tinha razão e que eu sabia que estava a fazer uma coisa errada. Talvez pela falta de resistência (e por ser um gajo e eu uma gaja... se fosse uma guarda de certeza que não tinha sido assim tão civilizado), devolveu-me o passaporte, acompanhou-me até 'a saída e disse aos guardas para me deixarem passar.
Ai salpicão, salpicão... que me traíste!
E pronto, esta foi a primeira aventura no meu regresso aos EUA, com os melhores cumprimentos de um Beagle todo lampeiro e certeiro. Ah, digo primeira porque depois seguiu-se outra, que já conto!
8.04.2011
Clara e a Bolacha
Falar com a minha sobrinhita no Skype é um delícia.
Das primeiras vezes, foi giro vê-la descobrir todo o novo mundo que se desenrolava 'a sua frente: olhava para trás do ecran 'a minha procura, abraçava-o ou dava-lhe beijinhos, tentando chegar mais perto. Rapidamente percebeu que a distância continua a existir, pese embora a imagem e som tão vívidos, e até já aprendeu a brincar com isso.
Ontem, enquanto falávamos, dizia-me ela: Tia Nês, vou 'a cozinha buscar amendoins para te dar, sabendo, esperta como é, que eu iria responder que não dava para ela me mandar isso pela camera. Contudo, em vez de dizer isso, o que lhe disse foi que, como não gostav de amendoins, o que ela me podia trazer era uma bolachinha Maria.
Hesitou por um segundo, mas acedeu, com um riso de malandra. Saiu a correr e, enquanto não voltava, abri a gaveta ao meu lado e tirei de lá uma bolacha, Maria claro está, do pacote que guardo para quando me dá alguma larica. Sem que ela visse, coloquei-a perto do computador.
Voltou aos saltos, orgulhosa da bolacha que exibia na mão, sentou-se ao colo do meu pai e disse toda macaca, com covinhas na cara: toma, está aqui a tua bolacha! E, fingindo que ma ia dar, aproximou-a da camera, ao que eu respondi, aproximando a minha mão da minha camera... mas com a bolacha na mão, sem que ela a visse. Ela ria, já 'a espera que eu dissesse: oh, não posso comê-la, não chega cá. Mas, enganei-a. Quando retirei a minha mão, eis que lhe apresento uma bolacha Maria, do lado de cá.
E' indescritível a cara dela, como quem diz: com um raio? Olhava para a minha bolacha e para a bolacha na mão dela, certificando-se que, como que por um passo de magia, não tinha desaparecido.
Eu e o meu pai rimos que nem uns perdidos e ela, percebendo o que se passou, começou a rir também. Tranquilamente, só respondeu: OK, agora come a tua que eu como a minha :)
Rapidinha
Gajas exigentes
Achei um piadão a este artigo:
"Again and again across the animal kingdom, males die younger than females — a consistent, puzzling pattern of premature expiration that new research suggests may be the unavoidable biological cost of impressing the ladies."
Em todo o Reino animal, repetidamente, os machos morrem mais cedo do que as fêmeas - um padrão consistente e bizarro de morte prematura que investigações recentes sugerem ser o custo biológico inevitável de impressionar as miúdas.
E nós, gajas, que achamos que eles nunca nos dão a atenção que queremos... ingratas!!
8.03.2011
Saudades do Presidente
O David é agora um Sr. Presidente (também é motorista, mecânico, secretário, economista... mas Pres tem muito mais estilo :))!
Abriu a sua própria companhia de transportes e lá anda ele todo contente a calcorrear quilómetros no seu camião por esses Estados Unidos a fora. Porque a burocracia aqui é de deixar qualquer um 'a beira do colapso e a bradar aos céus, tal é a incompetência (acreditem, a nossa segurança social e serviços públicos são coisa para meninos, comparados com as pérolas que vivemos aqui), o início do negócio levou bem mais tempo do que o esperado, o que fez com que o David ficasse sem trabalhar, 'a espera que tudo estivesse em ordem, por mais de 6 meses.
Agora, para recuperar o tempo perdido, faz cerca de 3 semanas fora, para depois voltar por 4 ou 5 dias a casa, dias esses pelos quais ambos esperamos ansiosamente.
Segundo os nosso planos, esta 6a feira seria dia de nos revermos, passadas estas (mais) 3 semanas separados. Tudo calculado milimetricamente, para que tal acontecesse ainda antes de eu ir para Portugal, na 3a feira.
Mas, como não se pode controlar tudo, por mais planos que façamos, o pneu que rebenta, a carga que se atrasa ou o calor infernal que se faz sentir no Texas e que impede o transporte de algumas cargas refrigeradas não são previsíveis... como tal, acabei de saber que este fim de semana não nos vamos ver. E vou estar em Portugal por 3 semanas... o que significa não nos vermos, ao todo, por pelo menos 6 semanas.
Um mês e meio sem nos vermos.
E tenho tantas saudades do meu Presidente :(
Prioridades Invertidas
Alguma pessoas queixam-se que estão sozinhas.
Que os anos passam e que não encontram Aquela pessoa.
Que gostavam de ter um parceiro/a para a vida, com quem acordar e adormecer, com quem partilhar um gelado ou um sorriso, com quem construir uma família ... mas que estão sozinhas.
Muitas não percebem que tudo isso é impossível se só olharem para o seu umbigo e assumirem que o mundo gira 'a volta delas.
Essencialmente, não podem limitar-se a estabelecer relações unilaterais, nas quais tudo recebem e nada dão.
8.02.2011
Erotismo
Ultimamente, tenho tido tropeços bastante agradáveis.
Para além do já abaixo referido, há tempos vi por acaso o filme "Ils se marièrent et eurent beaucoup d'enfants", onde encontrei uma das cenas mais eróticas e de maior tensão sexual de que me lembro.
Tudo sem uma palavra, um toque ou o despir de qualquer peça de roupa.
Fantástica esta cena, só mesmo superada pela cena de sexo entre Naomi Watts e Laura Harring na obra prima de David Lynch "Mulholland Drive".
8.01.2011
Eric Zener
Tropecei neste artista e fiquei, pura e simplesmente, apaixonada por esta série de pinturas - "underwater series".
Para acompanhar, uma música 'a altura.
Das interpretações do Keith Jarrett que mais me tocam, especialmente a partir dos 6 minutos. Orgasmicamente intenso... como se o Keith fizesse Amor com o piano, tal como o faz este pintor com a água.
Eric Zener.
Para acompanhar, uma música 'a altura.
Das interpretações do Keith Jarrett que mais me tocam, especialmente a partir dos 6 minutos. Orgasmicamente intenso... como se o Keith fizesse Amor com o piano, tal como o faz este pintor com a água.
Eric Zener.
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