7.30.2006

Uma Dentada na Rotina

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Todos os dias lá pedalo eu ao fim do dia pela Cambridge Street, em direcção a casa e, todos os dias, lá vejo as mesmas coisas:

- alguma animação em Inman Square, com o Punjabidaba (restaurante Indiano) sempre cheio e os bares circundantes com gente sempre fora e dentro para irem fumar;
- o serial killer cá do sítio, uma figura estranha e sinistra, alta, esguia e elegante, sempre vestida de preto, com luvas de couro pretas (não obstante o calor) e com um guarda-chuva preto enorme aberto sobre a sua cabeça, que se encontra sempre no passeio, com um qualquer placard nas mãos, a interpelar os transeuntes. O nariz aquilino, os lábios finos e o olhos pretos inexpressivos não convencem quem o vê. Nunca ninguém lhe liga mas ele continua alegre e pontualmente a ser uma referência do local;
- os 3 velhotes bêbados que se juntam perto dos correios, sempre a cair que nem um cacho, tartamudeando o "can you spare some change" de forma tão destrambelhada que 'as vezes até aos cães perguntam. Mas riem e riem entre eles!
- as paragens de autocarro sempre com gente 'a espera, 'a espera do autocarro com o qual nunca me cruzo, nunca vejo e, deduzo, raramente ou nunca apareça;
- as vaquinhas de Madeira em frente 'a Churrascaria Brasileira "Midwest Grill", nas quais quase sempre existe uma criança a querer empoleirar-se e uma mãe a dizer que não;
- o largo onde as velhotas se reunem, todas sentadinhas 'a sombra, por baixo das árvores frondosas. Mexem-se devagarinho, falam devagarinho e riem-se devagarinho, porque já são muito velhinhas, mas, devagarinho, lá se vão entretendo umas com as outras;
- a Geladaria Christina's, de gelados caseiros, sempre a abarrotar e com os casalinhos de namorados cá fora a saborearem a especialidade do dia;
- as bolinhas de sabão que flutuam pelo ar junto 'a Prospect Street, e que chamam a atenção para o novo bar na esquina que vai abrir "dentro em breve"... já há alguns meses;
- a música e barulho que sai dos vários Pub's, que agora têm todas as paredes amovíveis retiradas e formam um género de esplanada interna;
- o desfile de bandeiras Portuguesas e Brasileiras ao longo das áreas on os orginais destes países vivem, sempre intercaladas com algumas bandeiras Americanas;
- os vários carros que passam de janelas escancaradas, com a música em altos berros devido ao rádio de goelas abertas, que faz estremecer tudo por onde passam com os baixos do Hip-Hop ou R&B. E, lá dentro, o condutor de ar feroz e convencidíssimo de que é muito cool, conduz, impavidamente, como se nada se passasse, recostado no banco exageradamente reclinado para trás e que o faz parece um aleijadinho, com o pescoço em grande esforço para que consiga ver a estrada... mas, há que manter o estilo!

E assim se passam os fins do dia em Cambridge Street... 'a excepção daquele dia, em que grande burburinho e azáfama se desenrolava 'a volta de algo que atravessava a rua, abrandando o tráfego e parando as pessoas na calçada, que se viravam para trás para dar uma olhada.

Nada mais nada menos do que um tubarão, era transportado pelos que penso terem sido os autores da pescaria, sobre uma plataforma com rodas, que o exibiam orgulhosamente.
E eram "Ah!" e "Oh!" que se ouviam pelo ar, quebrando-se a rotina desta pacata rua.

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