11.21.2005

Escuta

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Em casa a música sempre foi cultivada.
Tanto eu como a irmã fomos afortunadas o suficiente para que, mesmo sem nos apercebermos, nos fosse incutido um sentido de melodia, de estilo, de ritmo. A música estava (e está) sempre presente e lembro-me que, enquanto miúda e no tempo em que CD era ainda uma sigla totalmente desconhecida, passava largas horas entretida com os vinis, a ver as suas capas, cores e letras.
Recordo com carinho um dia, se não me engano um Domingo de manhã, em que o meu pai, prestes a iniciar o pequeno almoço, que nestes dias é sempre mais longo e descontraído e o único requisito é usar pijama, foi escolher um disco para ouvirmos. Fui com ele e lembro-me desta capa. Não sei se foi a primeira vez que o ouvi. Certamente não a primeira vez que o vi. Contudo, foi esta vez que me ficou marcada. O meu pai sorria. Cuidadosamente retirou o disco da sua capa e, enquanto o limpava com a esponja de veludo, com aquele prazer e brilho nos olhos que segurar certas "relíquias" confere, disse algo como "Vamos ouvir uma senhora!".
Segui-se o "tic-tic" típico dos discos de pratos (e que para mim era sempre o equivalente a um rufar de tambores e a eminência de um revelação) e aquela voz encheu a casa.
“Ah, a Sandy!...”, saboreou a minha mãe.
Foi esse o dia que a Sandy Denny entrou no meu mundo e, embora por vezes melancólica e triste, está de alguma forma sempre associada a momentos bons, de família. Daqueles momentos com sorrisos e calor humano, luzes baixas e a sensação de ali termos tudo... de nada nos faltar, de sermos felizes.
De entre as muitas músicas que poderia ter escolhido, decidi partilhar convosco esta. Gosto muito dela essencialmente devido ‘a mudança de ritmo que ocorre pouco depois do seu início, voltando no fim novamente ao ritmo com que começou. Sendo o meu pai um ex-baterista (e dos bons, diga-se), ouvir esta música lembra-me sempre daqueles momentos em que ele, batucando naquilo que primeiro lhe aparecer ‘a frente, acompanha a melodia e, antecipando o desafio rítmico, fecha os olhos e fá-lo exímiamente, quiçá, recordando bons tempos, também eles associados ‘a música.
Momentos que sempre admiro e que me deixam com um sorriso.
Estou a sorrir e quis dividi-lo convosco :)

PS - Têm que fazer vários cliques de download até terem a música no vosso desktop. Desculpem lá o mau jeito mas, ainda não encontrei melhor solução!

4 comments:

Fadalê said...

Obrigado por partilhares estes tempos. Uma correcção... não era dos bons... nunca fui e apenas foram uns bons tempos esses. Os amigos ( gozões como sempre ) até nos chamavam " os paralelos do ritmo " sendo que se referiam às pedras duras e frias da calçada, topas???
Desse albúm fantástico uma memória....
Faixa Carnival "Good-day to you Autumn, so gently you appear. Why I never even realised those rustic times were near"..lindo...e ouvi de novo o tic-tic mágico da agulha. Abençoados tempos....

∫nês said...

Bom sim!
Não é qualquer baterista que vai a NY tocar com os Nipple, esse vultos da música moderna, hehehe ;)

Fernando said...

Se gostas da Sandy Denny e dos Fairport Convention só podes ser boa pessoa. Adoro a interpretação dela do tema tradicional "Tamlin", pelo poema lindíssimo e pela estrutura musical invulgar. Curiosa? Vê aqui: http://www.informatik.uni-hamburg.de/~zierke/sandy.denny/songs/tamlin.html

∫nês said...

Fernando: não conheço os Fairport Convention mas é uma falha que tentarei colmatar quanto antes (tudo para ser uma boa pessoa ;)).
Quanto 'a Sandy, claro que conheço a música a que te referes (óptima, by the way). Nem precisei de seguir o teu link pois o triplo album dela "Who KNows Where the Time Goes" acompanha-me sempre no meu iPod.