Há uns fins de semana atrás fui até ao Met (Metropolitan Museum of Art), a um concerto. Fui escutar "The Music of Steve Reich".
Como o Rui me dizia, há quem FALE de Steve Reich (e é então um intelectualóide) e há quem de facto OUÇA Steve Reich e, assim sendo, é um verdadeiro intelectual. Não considero que me inclua em nenhuma destas categorias mas, dado o comentário, fiquei um pouco de pé atrás:
- Querem ver que me vou meter em mais um concerto no género da música experimental japonesa? (ver Post "E NY ficou tão silenciosa!", dia 20 de Março)
Felizmente não. Foi um concerto excelente.
Iniciou-se com um peça de 1972, denominada Clapping Music, onde o próprio Steve Reich e um outro músico tomaram conta do palco e, utilizando apenas as mãos, construiram uma música feita de palmas. Gostei e concordo que, na época, deva ter sido algo bastante inovador. Hoje em dia não me surpreendeu tanto mas, mesmo assim, teve nota positiva.
Após esta introdução, segui-se, para mim, o momento alto da noite, com a peça Triple Quartet (1998). Dois violinos, uma violeta e um violoncelo acompanharam sonorizações, também estas de cordas, fazendo com que os quatro músicos parecessem ser apenas uma parte de uma conjunto de cordas imenso. A música, muito intensa e minimalista, era linda e foi eximiamente interpretada. A determinada altura emocionou-me de tão forte e melódica.
Como vêm, nada de ruídos ensurdecedores erroneamente chamados de música.
Por fim, segui-se a obra Three Tales (2002), onde uma série de vídeos de Beryl Korot foram projectados ao mesmo tempo que composições de Steve Reich acompanhavam as imagens. As 3 histórias a que o título da obra se refere foram 3 eventos que, na óptica dos autores, constituiram marcos na história da século XX. Uma vez que esse século teve uma componente tecnológica muito forte, os acontecimentos escolhidos foram o Hindenburg (zeppelin cheio de Hidrogénio que se incendiou quando sobrevoava Manhattan/New Jersey), os testes nucleares no atol de Bikini e, por fim, a clonagem da Ovelha Dolly. Antes do visionamento/audição da obra, ambos Steve Reich e Beryl Korot estiveram no palco onde foram questionados sobre vários aspectos da peça, o que ajudou não só a conhecer um pouco dos bastidores da obra como também da personalidade dos autores. Foi interessante.
Porque o mesmo tipo de construção musical e visual foram usados ao longo da peça, a determinada altura acho que se tornou um pouco monótono mas, tivesse sido mais sintético, achei que abordava muito bem os temas e que a música fornecia o suporte emocional necessário. As imagens eram maioritariamente a preto e branco, títulos de manchetes de jornal eram repetidos por vozes que alternavam entre si as mesmas palavras, criando ecos e sons novos, números apareciam a vermelho mantendo presente uma contagem decrescente e criando uma certa tensão, citações de cientistas e testemunhas apareciam de vez em quando interrompendo a cadência já estabelecida... muito interessante.
Gostei particulrmente da peça sobre o testes atómico. Focou-se em todos os preparativos antes dos testes. Viam-se os nativos a arrumar os seus haveres, a partir, ouviam-se os americanos a enaltecer a importância para a Humanidade dos testes prestes a acontecer, viam-se as praias vazias. Criou todo um crescente de expectativa quanto 'a explosão propriamente dita mas, no fim, nada se vê 'a excepção de umas palmeiras que, inicialmente esverdeadas, se movimentam violentamente, perdem a côr, passam a preto e ficam carbonizadas.
Para bom entendedor meia palavra basta, certo?
Foi, mais uma vez, uma noite muito bem passada.
Gostei e parece-me que até passei o teste de intelectualóide para intelectual bastante bem :)
PS - Se ficaram com curiosidade quanto a Steve Reich, nada como dar uma espreitadela a esta página
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