4.01.2006

São Francisco

Eis-me finalmente com algum tempo para falar sobre a minha ida a São Francisco. Só lá tinha estado uma vez, nomeadamente no ano passado em Julho, altura em que até lá me desloquei para ir a uma conferência. Se na altura detestei a cidade por estar confinada ao Financial District e não ter qualquer amigo para me mostrar os recantos da urbe, desta vez, pura e simplesmente, adorei São Francisco. Isto porque, primeiro que tudo, os 4 dias que lá passei foram todos na companhia da minha querida mana Si.

A Si, a quem conheci na Alemanha há já 6 anos, tornou-se uma grande amiga desde o primeiro segundo que nos conhecemos e, volvido todo este tempo, a cada dia se torna mais próxima e mais intíma, daí (Crespita, sem menosprezo para ti), ser a minha outra Mana. Damo-nos extremamente bem, veja-se a “sessão de fotografias” (que acabou mais por ser de risos, quando a Si, artista nata, tentou aproveitar a luz):

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Estar na companhia dela e de toda a beleza e boa disposição que emana, tanto na sua maneira de ser e de estar como na maneira de se rodear não só de pessoas super porreiras como também de uma casa linda de morrer com um jardim de fazer chorar de inveja qualquer um, tornou São Francisco um portento.

A cidade transpira relaxamento e descontração.

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As pessoas são super simpáticas e afáveis, tendo-me acontecido por diversas vezes receber sorrisos na rua e ter estranhos a oferecer-me o que comiam enquanto deambulava pelas ruas. Isto agradou-me sobremaneira uma vez que, no geral, tanto em NY como em Boston, as pessoas (embora por vezes curiosas) na sua maioria passam por nós sem sequer olharem.

O tempo maravilhoso e solarengo parecia intensificar as cores da cidade, algo que também me agradou particularmente. Há muita côr!! Claro que na zona da Castro, centro gay da cidade, isso não é de surpreender, mas achei que São Francisco era muito mais colorido e luminoso do que a Big Apple (que se torna sombria devido a tantos arranha-céus e cimento) ou Cambridge, onde as pessoas parecem cinzentas por natureza (mas também só as conheci durante o Inverno).

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Passeei a pé pela Castro, Mission, Church e Market streets, e zonas circundantes, passando pelo parque.

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Sabe bem caminhar pelas ruas. Parece tudo muito familiar e uma pessoa sente-se benvinda. Sendo a cidade o estandarte da movimento Homossexual, achei piada a certos anúncios na rua:

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Também no metro se encontram anúncios curiosos, mas esses uma verdadeira ode ao cúmulo do “gosto-de-gastar-dinheiro-com-inutilidades”. Neste caso, anunciam um degrauzito para que o cachorro não se canse muito a subir para o sofá ou a descer do automóvel (acho que a associação defensora dos direitos dos animais devia intervir. Os coitados dos animaizinhos não deveriam ter que aturar estes humanos doidos):

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Após uma grande volta “a penantes”, apanhei o Bart (metro) até Ocean Beach, onde pude estar ao pé do mar. Confesso que a praia não é lá muito bonita e o mar estava bastante revolto devido ‘a ventania que se fazia sentir mas, mesmo assim, soube-me pela vida: o cheiro a maresia, o calor na cara, o vento nos cabelos e, por incrível que pareça, o Sol no local certo. Para qualquer Português, faz sentido ver o Sol pôr-se no mar, enterrando-se no azul. Ora, estando na costa Este dos USA, o sol está sempre no sítio errado, escondendo-se em terra. Assim, soube bem ter tudo no sítio, nem que só por um momento. Pela primeira vez, toquei no Oceano Pacífico. Deveria ter sido o pézinho mas, como estava um pouco frio (e não se pode confiar nos tubarões, hehe) fiquei-me pela mão, momento único na história e que aqui partilho convosco. Neste filme curto também os passarocos "speedy Gonzalez":



Seguiram-se uma ida até ‘a Cliff House, de onde a vista da praia é mais bonita:

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E iniciei o meu regresso ao centro da cidade passando pelo Golden Gate Park, desenhado ‘a imagem do Central Park, embora numa versão mais selvagem (o Central Park é muuuuuuuuito mais fixe!). Não sei porquê, decidiram lá pôr um moinho Holandês, mas confesso que nem fica muito mal no cenário.

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A Primavera já se fazia sentir e viam-se muitas pessoas a correr, a passear os cães, ou apenas a apanhar sol e a relaxar ao pé de lagos e de árvores a despontar:

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Fazia tenções de passar pelo De Young museum, mais abaixo no parque mas, como por esta altura já caminhava há 2 horas e ainda me encontrava a meio do caminho. Desisti. Fica para a próxima, pois quero regressar com toda a certeza.

Dirigi-me então ao centro da cidade, onde mais tarde me encontraria com a Si (note-se que era 6a feira e nem toda a gente estava de “férias” como eu :) ) para fazermos coisas da Gajas Manas, ou seja, Compras!! Não sou nada dada a isso e passam-se séculos sem que compre alguma coisa para mim mas, com a companhia certa, a coisa muda de cenário e torna-se divertida.

Esperei num café onde me pude aquecer. Embora o sol tenha brilhado sempre, ao fim do dia a cidade arrefece sempre e há uma brisa fresca. Felizmente, não fui assaltada pelo tão típico nevoeiro mas do frio ao fim do dia não escapei. Saboreando um chocolate quente, gostei de observar as pessoas e a azáfama perto de Union Square. Durante o tempo que estive naquele café, porque ocupava uma mesa para 2 e só lá estava eu, 3 pessoas, a seu turno, perguntaram se se podiam sentar. Acabei por ter companhia para a horita que ali fiquei e travar conversas interessantes o que, mais uma vez, demonstra que nesta cidade as pessoas são mesmo muito simpáticas.
Chegada a Si, lá fomos nós para a H&M. Escusado será de dizer que saímos de carteira mais vazia mas foi muito divertido. Tanta compra deixou-nos com fome e então, lá telefonou a Si ao Cedric. O Cedric é um amigo da Si, Francês, super, mas super mesmo, impecável, que conheci na noite em que cheguei. Tem carro e então está sempre a ser “chateado” com pedidos de “vamos aqui! vamos ali!”. O que vale e’ que é um paz d’alma e faz tudo isso com uma boa vontade extrema e até entusiasmo, sendo ele próprio aquele que sugere “vamos aqui! vamos ali!”, mesmo isso significando andar a conduzir o pessoal todo.

Lá fomos nós comer sushi, pelo qual tenho desejos agudos, qual grávida, desde que saí de NY e me mudei para Cambridge, onde o cenário gastronómico Japonês é uma desgraça. Depois de um repasto delicioso, segui-se a primeira “vista sobre a cidade”. O Cedric, já no fim da refeição, voluntariosamente dizia para a Si: “we could take her to the Twin Peaks”. E lá fomos nós, no “Pussy Cat Mobil” (nome com que baptizei o carro do Cedric devido ‘as forras de carro intencionais com pelinho de “leopildo”) para a “montanha”, de onde de facto a vista era impecável. A foto ficou meio tremida porque estava um briole do caraças :)

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Os dias que se seguiram foram, como não podia deixar de ser, impecáveis: passeios e mais passeios um dos quais a ida até ao outro lado da Baía até Berkeley, o que nos proporcionou uma viagem inesquecível de metro. ‘A noite, no regresso a SF, eis que eu, a Si, o Joaquim e o Cristina (ex-colegas meus de Universidade) nos metemos no Bart. Cientes de que era uma viagem algo longa, não nos preocupámos muito em ver amiúde em que estação estávamos. Isto a juntar ao forrobodó e risos constantes que até dores abdominais e lágrimas nos deram, fez com que vissemos que estávamos em cascos de rolha em vez de na direcção correcta já bastante depois. Uma vez que já passava da meia noite (por estas bandas o metro também deixa de correr muito cedo. Nada como NY, onde nunca pára!) já estávamos a ver a nossa vida a andar para trás, julgando que não haveria mais transporte. Felizmente, conseguimos ainda apanhar o último metro de regresso a SF, mas que implicou mais um tempo de espera. Uma viagem que deveria ter demorado uma hora levou cerca de 3h. Na estação, e para matar o tempo, pedi ao Cristina que nos tirasse, a mim e ‘a Si, uma foto. Só depois vi o resultado (ele bem nos dizia: esperem, esperem! ainda não está!):

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Cristina, o autor das “decapitadas”:

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Os dias em São Francisco foram também prolíficos em actividades culturais. Tantas, tantas que tiveram que ser umas atrás das outras :) No Domingo ‘a noite, a coisa começou, após mais uma Sushizada (coitados da Si e do Cedric) com uma ida ao concerto do Keith Jarrett, o último da série de três concertos a solo na América do Norte, dos quais assisti também ao primeiro, em NY. Confesso que, uma vez que o vi actuar três vezes nos últimos 9 meses, estou a precisar de férias do Keith Jarrett. Ele toca de facto divinalmente mas deu para me aperceber de alguma falta de imaginação nos repertórios (muito embora improvisados) e uma incidência no seu mau génio cada vez que se dirige ao público, o que me desperta alguma ambiguidade (até se dirigiu ao micro para dizer o seguinte: I have got nothing to say but, since I have the reputation, I should complain about something!). Depois do Keith, disparámos, literalmente para o “Café du Nord”, onde assistimos ao concerto de dEUs.

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Se na Europa esta banda Belga consegue ter, na boa, assistências de 7000 pessoas, por estas bandas são completamente desconhecidos e deu para assistir ‘a sua actuação num espaco bastante pequeno e familiar, onde o palco e os artistas estavam logo ali:

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Depois do concerto ainda deu para conversar com alguns membros da banda e tirar uma foto só que, nesta altura, a minha maquineta ficou sem bateria, razão pela qual o flash já não disparou e não tenho registos visuais do que se seguiu:

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Com tanta energia gasta a cantar, saltar e dançar no concerto, a fomeca bateu de novo ‘a porta e aí o grupo com que estava seguiu para o “Farolito”, uma Taqueria do mais simples e tradicional que há, por isso mesmo excelente. Dado que era Domingo ‘a noite e já de madrugada, o estabelecimento estava vazio, sendo só nós (eu, Si, Cedric, Alex, Sophia, Geraldine e Vincent, todos amigos da Si) os clientes. Apercebi-me que havia uma Jukebox e então, para animar a noite (ou antes, para que a animação, que era uma constante, não esmorecesse) vou de me dirigir ‘a máquina e, com a “ajuda” do Alex, tentar seleccionar 3 músicas da discoteca Mexicana/Salsa/Latina, completamente desconhecida. Digo "ajuda" porque, olhando os dois para a máquina quais bois a olhar para um palácio, sem saber bem como, eu e o Alex seleccionamos… nem eu sei o quê. O que é certo é que começaram a tocar músicas animadas demais.
Agarrei no Alex e desatei a dançar. Eis a prova, numa foto do telemóvel do Vincent, um gigante de quase 2 metros, como podem avaliar pelo ângulo).

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Os donos da Taqueria já nos olhavam num misto de espanto, tipo “estes gajos são doidos”, e satisfação por ver tanta animação na sua casa mas o que foi realmente “priceless” foi quando a música que se seguiu ‘a primeira contagiou toda a gente e lá andávamos todos aos saltos e aos pinchos pelo corredor da taqueria a dançar e a rir de forma hilariante. Ele era dançar o Limbo, ele era dançar 'a Cusaco Russo... foi uma alegria. Neste instante até entrou um casal ao qual imediatemente dissemos: “If you want to eat you have to dance” e eles, nao se fazendo rogados, juntaram-se ao chinfrim. Foi ESPECTACULAR!!!
No fim das músicas virei-me para os Mexicanos atrás do balcão, de mãos na cintura e sorriso maroto no rosto: “comé?! não há palmas?”. E eles rasgaram-se em sorrisos e aplausos enquanto eu agradecia com vénias cerimoniosas. Ninguém estava bêbado mas eu tenho que concordar que o comportamento que exibia era típico de quando fico “bêbada por osmose” (porque não bebo), isto porque estava de facto bêbada com tanta boa disposição, diversão e companhia extraordinária.

Para queimar os últimos cartuchos (teria que ir para o aeroporto ‘as 4h da manhã desta madrugada) fui visitar as últimas “vistas” de São Francisco. Lá rumámos todos (e o que é giro é que os amigos da Si alinhavam todos efusivamente no mote “mostrar a cidade ‘a Inês”) para a Treasure Island. Como podem ver, não era só eu que estava “bêbada de boa disposição”. Aqui, a Geraldine e o Cedric tentavam ter uma vista ainda melhor:

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Próxima paragem, Golden Gate bridge. Aqui, seguimos só eu a Si e o Cedric no “Pussy Cat Mobil”. Eu não sabia que lá íamos e só reparei que nos desviávamos do caminho para “casa” quando, ao perguntar ao Cedric para onde íamos, ele me respondeu com um sorriso enigmático. Mais uma vez, incansavelmente, não quis deixar de me mostrar mais um dos atractivos da cidade. Coitado, mal ele sabia no que se ia meter. Deu-nos, a mim e ‘a Si, um ataque de nostalgia e levámos o caminho todo a cantar as canções mais disparatadas. Até pusemos o Cedric a cantar a versão Francesa de “nós só queremos cuecas amarelas” com a melodia de “Yellow Submarine”, dos Beatles. Mas o pior ainda estava para vir quando, para celebrar o estar em pleno tabuleiro da Golden Gate, cantámos de goelas abertas “A Portuguesa”. Só visto!

A vista, mas uma vez, linda e ainda tive direito a uma nova perspectiva quando atravessamos a estrada e fomos até ao ponto Bonita. Aliás, tive mais que uma perspectiva uma vez que, caminhando no escuro da noite e só iluminados pela lua, não me apercebi que havia um desnível de cerca de 50 centímetros ‘a minha frente e, segura, dei o passo no vazio, seguido de um tombo digno de BD. A situação foi tão cómica que eu rebolava a rir enquanto que a Si e o Cédric, preocupados, olhavam para mim sem saber ao certo se rir se chorar. Não me magoei, que é o que interessa.

No regresso, senti ainda a emoção de descer a rua mais íngreme de SF, qual montanha russa e em que, por segundos, parece que o carro vai a cair no nada.

Foram uns dias muito bem passados e que deixaram saudades. Quero lá voltar, se possível muitas vezes. E' sempre bom estar com a Si, senti-me muito bem recebido pelos amigos dela e, com tanto bem querer, a cidade tornou-se espectacular.
Sei que é uma pirosísse mas não posso deixar de terminar este post sem cantarolar:

“I left my heart/ In San Francisco…”

5 comments:

Anonymous said...

Nossa! Incrível o filmito! Como você o pôs no blog? Ensina-me! É difícil? Quem ensinou-te?

Anonymous said...

Hmmm, Nes... acho que foste tu quem levou o coracao de Sao Francisco... ;)
Ansiosa pela tua proxima visita!!
beijos,
Si

Anonymous said...

Olá! De SF à Figueira é um pulinho ...
Gostámos muito (pá e mã da Si).
Revivemos também os momentos que lá passámos. Divertimo-nos e ficámos ainda com mais vontade de voltar a SF.
Parabéns à realizadora e aos actores!
Beijinhos

∫nês said...

De SF 'a Fiqueira é um pulinho bem como de Boston onde, espero, poder receber a Si tão bem quanto fui recebida.
Já sabem que são benvindos também!
Fico feliz por terem gostado do relato e por este ter servido para espicaçar a vontade de voltar lá. Eu também fiquei ainda com mais vontade de viajar de novo para lá 'a medida que escrevia e relembrava todos os bons momentos lá passados.
Mas, também, só podia. A Si é o máximo :)
Um beijo muito grande!

Anonymous said...

Com esta maravilha descritiva, até eu fiquei com a sensação de ter que ir a S.F. Quem sabe?????