2.26.2006
Carnaval
Confesso que, saber que é Carnaval, me deprimiu.
Amigos a festejá-lo no Rio de Janeiro, os meus pais a festejá-lo em Veneza (gente fina, sei lá! :P) e eu... na bosta de Boston, ainda por cima com neve. Tive a sensação que a vida estava a passar por mim e eu não a estava a aproveitar.
O que vale é que, para não quebrar a tradição de muitos Sábados, houve festarola que se prolongou até já ser de dia.
Para tentar estar um pouquinho mais perto do espírito da coisa, enverguei a t-shirt de uma bateria de samba a que fui no Rio que, tão carinhosamente, o Edu e a Dani me ofereceram, e o meu casaco... Verde e Amarelo, claro!
Fez sucesso e o Bernas, amigão Carioca, só exclamava: "Essa garota é mais que Brasileira!!"
Eis uma foto com ele e com a Lu, outra Carioca:
Foi o mais perto que cheguei do Carnaval, embora o pessoal até estivesse na onda de se transformar:
O Zezito com o seu estilo inigualável:
E eu a tentar mascarar o Anto :P
Não houve samba nem mulatas mas, o pessoal acabou já muito torto (eu, torta por "osmose", como sempre) a caminhar 'as 6 da manhã pela neve e a cantar, a pulmões abertos, "E' o Amor!!!!" e "No dia em que eu saí de casa!....", motes com que ficámos na cabeça depois de, há umas semanas atrás, termos visionado o filme "Os 2 filhos de Francisco".
E pronto, foi o Carnaval que se conseguiu :P
Amigos a festejá-lo no Rio de Janeiro, os meus pais a festejá-lo em Veneza (gente fina, sei lá! :P) e eu... na bosta de Boston, ainda por cima com neve. Tive a sensação que a vida estava a passar por mim e eu não a estava a aproveitar.
O que vale é que, para não quebrar a tradição de muitos Sábados, houve festarola que se prolongou até já ser de dia.
Para tentar estar um pouquinho mais perto do espírito da coisa, enverguei a t-shirt de uma bateria de samba a que fui no Rio que, tão carinhosamente, o Edu e a Dani me ofereceram, e o meu casaco... Verde e Amarelo, claro!
Fez sucesso e o Bernas, amigão Carioca, só exclamava: "Essa garota é mais que Brasileira!!"
Eis uma foto com ele e com a Lu, outra Carioca:
Foi o mais perto que cheguei do Carnaval, embora o pessoal até estivesse na onda de se transformar:
O Zezito com o seu estilo inigualável:
E eu a tentar mascarar o Anto :P
Não houve samba nem mulatas mas, o pessoal acabou já muito torto (eu, torta por "osmose", como sempre) a caminhar 'as 6 da manhã pela neve e a cantar, a pulmões abertos, "E' o Amor!!!!" e "No dia em que eu saí de casa!....", motes com que ficámos na cabeça depois de, há umas semanas atrás, termos visionado o filme "Os 2 filhos de Francisco".
E pronto, foi o Carnaval que se conseguiu :P
2.25.2006
Imperfeições Perfeitas
2.23.2006
Cabelos! Cabelos!
Tenho reparado que, de há um tempo para cá, várias das visitas que o meu blog recebe vêm de pessoas que buscam, no google, por fotos de cortes de cabelo/ cabelos rebeldes/ cabelos longos.
Assim, aqui segue um post com uma foto minha, tirada numa festa, de cabelos longos (cof, cof... por baixo do chapéu, corte curtinho, curtinho) e com muita palavra "cabelo" 'a mistura... assim sempre aumenta o número de visitas, hehehe ;)
Vai e não voltes!
O Presidente da Universidade de Harvard, Lawrence Summers, anunciou esta semana a sua demissão, que terá lugar dia 30 de Junho.
Já não era sem tempo!!
Tendo recheado o seu período de presidência de tristes e infelizes declarações/actos, sexual e racialmente discriminatórios, que levaram ‘a demissão voluntária de vários membros da Universidade, um dos momentos altos da sua mediocridade foi quando declarou, publicamente, que a não existência de um número maior de mulheres em posições cimeiras da Ciência se deve ao facto, não de haver menos oportunidades, mas de estas (mulheres) não terem capacidades intelectuais para tal e serem inferiores aos homens nesse quesito (ler aqui).
Para que se fizesse justiça, qual bofetada de luva branca, este “cavalheiro” deveria ser substituído por uma Mulher, Preta e Lésbica.
2.22.2006
Nem de propósito...
Acaba de me aterrar na secretária o exemplar da "New Yorker" (eu sei, eu sei... devia largar o vício) desta semana onde, satirizando o segredo de Brokeback Mountain, escolheram como principais intervenientes George W. Bush e Dick Cheney.
HILARIANTE!!!! (e reparem no pormenor do Cheney a soprar na espingarda... provavelmente ainda uma alusão ao ter mandado um balázio no outro. Devia era ter apontado para o próprio pé... ou do Bush!).
Fogo
Hoje cheguei aos Biolabs e os alarmes de incêndio tocavam.
E’ verdade que via a maioria das pessoas a sair do edifício e não a entrar mas, ignorando o facto, continuei para o laboratório e, como esperado, toda a gente se encontrava lá dentro.
Já vacinados de Nova Iorque, ninguém liga puto aos alarmes de incêndio. A chinfrineira e as luzes a piscar eram o pão-nosso-de-cada dia no antigo instituto e, por "default", ninguém reagia ao anúncio… e nunca foi preciso fazê-lo uma vez que aquela traquitana dos alarmes disparava sempre por engano ou porque decidiam fazer testes a ver se a coisa estava a funcionar.
Bem, o que é certo é que a determinada altura, a torrente de pessoas em sentido ‘a saída continuava e olhavam para o interior do nosso laboratório com olhos de quem diz:
- Como é, não vão sair?
Alguém mais cuidadoso, disse-nos da porta:
- E’ melhor sairem porque se os bombeiros chegam e vêem pessoal cá dentro podem apanhar uma multa.
(Até achei piada 'a ideia de um Bombeiro, no meio de uma batalha pirotécnica, sacar do bloquinho de multas e virar-se para o prevaricador: "Ora diga lá! Qual é o seu número de contribuinte? Cédula de Nascimento? B.I.?")
Dito isto, que remédio tivemos nós que não sair. Com a pressa de deixar a experiência a correr (vejam só como eu acreditava que havia um fogo), esqueci-me de levar o casaco. Chegada ‘a rua, as temperaturas negativas de imediato me fizeram aperceber disso e eis que volto para trás. Ao fazer isto, ainda a porta não se tinha fechado atrás de mim, um Bombeiro, todo equipado no corredor, diz-me com ar de meu paizinho:
- Where does the young lady thinks she’s going?
- I forgot my jacket – respondi.
Então, o bombeiro, do alto da sua autoridade e uniforme, com o dedo indicador esticado para o ar, disse-me sarcasticamente:
- There’s a fire alarm. The building might be on fire!!! (só faltava dizer “dah!” no fim da frase, tal foi o ar com que o disse) – e no ar, nem uma névoazinha e o único cheiro que se sentia era o dos potes de café que a malta, qual ritual, compra pela manhã.
Revirei os olhos, bufei, dei meia volta e resmunguei entre-dentes:
- Vai mas é haver um cold-alarm quando eu estiver lá fora e começar a ficar roxinha e a bater o dente!
Felizmente a coisa não demorou muito. Foi falso alarme (agora quem diz “dah” sou eu :P) e, pelo que percebi pelas conversas que decorriam enquanto a malta esperava cá fora, ter o corpo de bombeiros em peso por causa destes alertas é algo corriqueiro.
Está visto que se mudam as cidades, mudam-se os hábitos mas, mesmo assim (e felizmente) é falso alarme e o alarido, não fossem estes tipos Americanos, é digno de um filme.
Hoje havia dois carros como o da foto repletos de Bombeiros totalmente equipados (vendo bem, o início da manhã nem foi assim tão mau: "gaijos! gaijos! :P"
2.21.2006
Aaaleluia! Finalmente!
Consegui, finalmente, fazer o download do tão aclamado "Brokeback Mountain".
Já era a terceira tentativa. Nas duas anteriores, embora o ficheiro tivesse o título do filme, passadas 2 horas e quando o ia a ver saiu-me sempre "Orgia no Futebol 3". Note-se, 3! Houve de facto 2 filmes com o mesmo título antes... de doidos!
E os patifes dos "piratas" que não sabem chamar as coisas pelos nomes! "Tá mali"!!
Eu sei que o filme envolve "comboyadas", mas não era bem dessas que estava 'a espera. Bem, 'a terceira é de vez! :)
2.20.2006
O pífaro está de volta!
E hoje lá voltei eu a ter mais uma aulita de clarinete, com o meu professor "muita giro". Confesso que continuo a impressionar o rapazito ("famelga", os nosso genes de musicos portentosos continuam a dar cartas!). Hoje dizia-me que os iniciantes demoram 2 anos para fazer uma leitura 'a primeira vista como a que fiz na aula.
Não está mau! Não está mau!
Já no fim, a guardar o pífaro feito em fanicos (que é quando o separo em partes e, qual puzzle, o tento encaixar nas formas embutidas do estojo... isto ainda se revela um desafio para mim), dizia-lhe porque me decidi pelo clarinete:
- Isto até pode dar vontade de rir mas, para além de querer estudar um instrumento que se pudesse transportar facilmente e que desse para tocar em grupo, a pancada do clarinete deu-me quando, aos 10 anos, vi o filme "Africa Minha". Faz parte da banda sonora o 2º andamento do concerto para clarinete de Mozart e, assim que o ouvi, gostei tanto que disse para mim mesma: um dia vou tocar esta melodia!
- A sério!! Qual é? Este? - e cantarolou um pouco.
- Nao, é este! - e cantarolei eu um outro pouco.
- Já tiveste aulas de canto?? Tens uma bela voz!
(Bem me parecia! Afinal o gajo estava era a ser simpático. Não toco assim tão bem a gaita e já me está a tentar dar a dica que devia tentar outra vocação ;))
Que susto!!!
Musical Dates
Este fim de semana, a música proporcionou-me duas situações engraçadas.
A primeira passou-se na lavandaria.
Já estava quase na hora de fechar e só duas pessoas se encontravam nas instalações. Eu, estava já na fase de dobrar a roupa. Como acumulo sempre quantidades industriais de roupa para lavar e o iPod tinha ficado em casa a recarregar, dobrar aquilo tudo estava a revelar-se, no mínimo, uma tarefa muito chata. Só o barulho das máquinas de lavar, de secar, aquele silêncio mecânico… uma seca.
Sem me aperceber, comecei então a cantarolar, que é o que faço quando me quero distrair:
- “Sorri, quando a dor te torturar/ E a saudade atormentar…”
Acho que me entusiasmei e o fiz alto demais pois passados uns minutos, a rapariga que ia a sair veio ter comigo e disse-me:
- You’ve got such a beautiful voice. Are you a singer?
O rapaz, que saiu logo a seguir, também me dirigiu um sorriso, acenou com a cabeça e disse-me:
- Thank you!
Fiquei contente por o pessoal ter gostado da versão Djavan in “dahouse” e não ter tornado a "laundry" ainda pior.
A segunda passou-se hoje, no laboratório.
Eram já por volta das 21h de Domingo e, consequentemente, ninguém se encontrava por lá... ou quase ninguém, como vim a descobrir. Aproveitei então o estar sozinha para pôr a música em altos berros e, mais uma vez para me distrair (lá está, “quem canta seus males espanta”), cantar para ver se a experiência terminava mais rápido. “Tribalistas” em altos berros, pipeta na mão qual microfone, pézinho a bater no chão, Inês em plena performance e aqui vai disto:
- “Já sei namorar/ Já sei beijar de língua agora só me resta…” e não acabei a frase. Pois nesta altura, ainda de boca aberta mas já sem emitir som, reparei que um rapaz tinha ficado parado no corredor e me olhava da porta. Senti-me corar. (Bonito, que bela figura Inês!! De certeza que te vem pedir para te calares porque há quem queira trabalhar!)
- Is this Portuguese? – perguntou-me ele
Apressei-me a baixar o som da música e respondi:
- Yes! Actually, it is Portuguese from Brazil. Do you know it?
- I am Brazilian!
- Ah sim?! Bem, eu sou Portuguesa.
Escusado será de dizer que travámos conhecimento e ficámos em amena cavaqueira durante um bom bocado... e depois pude continuar a cantar. Afinal, ninguém se queixou :)
Porto... sempre o meu Porto!
Bem sei que tenho andado virada demais para o Brasil, com vontade demais de viajar, debruçada demais sobre o estrangeiro, longe de Portugal, da minha terra, do meu Porto.
Mas não está esquecido!
Trago-o comigo.
Beijou-me a mão de criança, que fechei, e guardei-o para sempre. Encosto-a ao peito quando as saudades apertam. E recebo de novo esse beijo. E viajo... e recordo.
Porto, cidade que me viu nascer. Santo Ildefonso, Tripeira de gema (e com que orgulho e brilho nos olhos o digo). Sinto-lhe o odor quando recuo no tempo e no espaço, lembro todos os regressos. Sempre o acordar com aquele cheiro, o vapor do Douro, a essência das ruelas, o abraço da Ribeira, o embalar do paralelo, a luz única.
«Escuro o Porto?
Não de todo. O Porto tem aquela terrível e indizível luz/claridade das pedras, da grandeza dos contrários, dos infinitos estendidos desde a Foz à Ribeira, desde o sol ao entardecer.
A luz do Porto é um mistério que se abre depois de fecharmos o olhar sobre o mar.»
Mendes Ferreira
Li algures e não esqueci.
Porque tudo no Porto é único, um mistério... tão fácil de sentir e perceber quando se tem o seu beijo na mão.
Foto tirada daqui
2.19.2006
Lavandaria
2.18.2006
Viajar é o mote!
Vi esta imagem em vários blogs e decidi também experimentar como seria o meu mapa.
A vermelho estão os países que já visitei... e confesso que tive a sensação de que, afinal, o mundo é grande demais.
- "Pppff, que miséria!! E eu que julgava já ter viajado um "beca"!"
Fiquei com uma vontade de viajar enorme!!!!
A Diana, minha Amiga e companheira de aventuras interessantíssimas, levou logo por tabela. E' a única pessoa com que me imagino a fazer uma viagem grande e de vários dias sem que comecemos 'as turras. Embora já fossem quase 5 da manhã em Londres, lá estava eu deste lado do oceano a fazer-lhe o choradinho pelo Skype:
- "Vá lááááá!!!!!! Temos que ir viajar. Imagina, eu e tu, mochila 'as costas.... é o máximo, vai ser espectacular!!"
E a Dianeca, que embora por "default" tenha a opção viajar sempre ON, tentava, pelo meio do sono e da minha insistência, refrear-me o entusiasmo e explicar-me que há coisas que a ultrapassam e que não pode sem mais nem menos ir viajar.
Mas, pronto, pelo menos, houve sempre um MAS na frase dela. Pode ser que sim... (e engraçado que, mesmo reticente, já me tentava dar a volta para que o destino fosse a Nigéria). A coisa com jeito vai.
Então agora, uma das minhas novas ocupações vai ser azucrinar o juízo 'a Diana. Prepara-te, hehehe! Temos até Abril/Maio ;)
"Olha nos meus olhos!!! - e o relogiozinho a abanar em frente ao nariz da Diana - vais queres muito ir para a América do Sul, Sul, Sul... com a Inês, nês, nês!! Quando eu estalar os dedos, vais de imediato comprar um passagem!! :)
Digam lá que estas 2 mafarricas não têm ar de quem se divertirá 'a brava numa viagem de mochila 'as costas? A foto foi tirada Novembro passado, aqui em Cambridge quando, após almoçarmos, nos decidimos a partilhar uma "Decadência de Chocolate", um bolo que nos deixou de bocas todas borratadas!
Ah, Dianeca, que tal?
(já começou o azucrino, hehehe)
'A Crespita
Segundo familiares e amigos, tenho um aroma pessoal agradavelmente inconfundível. Ao que parece, essa era já uma das minhas característica enquanto bebé.
”Hhmmm, que cheirinho bom tem esta bebé!”, conta-me a minha mãe sobre a reacção das muitas pessoas que me pegavam ao colo. E é ela mesma prova disso. Sempre que se dá o nosso reencontro e nos abraçamos, a frase que de imediato me envolve, entrecortada pelo sorriso e pela emoção, é “Ah, cheira ‘a minha Nês!”.
Das situações enquanto bebé não lembro mas, o que é certo é que, de facto, devido ao meu cheiro, já passei por situações caricatas ou interessantes que deram e continuam a dar lugar, neste blog, ‘a rubrica “Essência”.
Esperta e astuta como é, a minha irmã, que carinhosamente apelido de Crespita, percebeu de imediato que esta seria uma porta de entrada para um lugar de destaque no blog. Assim, volta e meia escreve uns comentários em que refere a minha essência, pisca o olho indicando a deixa ou, ainda mais directamente, abraça-me, como o fez este Natal e diz, de corridinho:
- Ai que cheiras tão bem! Ai que cheirinho a Nês! Que perfume é? Como cheiras tão bem? Ai que bom! Ai que bom! Pronto, agora vê lá se me pões no blog!! – e riu-se de “macaca”.
Tonta. Como se precisasse disso!
O que é certo é que a minha irmã é parte fundamental da minha vida e sem a qual nunca teria sido possível, mesmo com toda a perícia e sapiência com que os meus pais me (nos) souberam criar, ter tido uma infância, adolescência, passado, presente (e um futuro que se adivinha) tão felizes e repletos. Mesmo sem lhe fazer uma referência directa, está presente em muito do que escrevo, sendo mesmo, por vezes, uma das únicas pessoas que irá perceber o que relatei na sua plenitude.
“Porque somos irmãs, damo-nos como irmãs.”
Andámos ‘a “batatada” como todos os irmãos (e cuidado com ela se se mune com a flauta! :P), fomos traquinas, fizemos asneiras e corremos para puxar a saia da mãe e dizer “olha a mana! foi ela que fez!”. Tivemos as nossas discusssões e desaguizados, revoltas, revoluções. Todas as turbulências por que passam os irmãos.
Mas, acima de tudo e, “porque somos irmãs, damo-nos como irmãs”, une-nos uma cumplicidade única. Encontrei, encontro e sei que encontrarei sempre na minha Crespita uma aliada, uma ajuda, um ombro amigo, alguém que escuta sem censura, uma companheira, mais que tudo uma Amiga.
A minha irmã é a pessoa que guarda daqueles segredos que só os irmãos partilham: “não digas nada aos pais!”, companheira de peripécias de que só os irmãos comungam (ataques de riso abafados a meio de um casamento; “quiche de la raine?? ai que bom!”, “fetelosa?!”, não te esqueças de tocar ‘a campainha, “cortei-me, ajuda-me!”, “vamos brincar ‘as casas”).
Embora irmã mais nova, sempre foi a mais “terrorista”, destemida e aventureira. Acabou muitas vezes por ser a minha salvadora no recreio da primária, enfrentando de punhos cerrados os putos reguilas. Aliás, uma característica que perdurou para a adolescência quando, já no liceu, ficou muitas vezes conhecida pela “Eduarda da Estalada”, pois era assim que despachava as miúdas que ousavam interpor-se entre ela e a sua paixoneta da altura.
Muito dramática sem dúvida (“Eu não sou a escrava Isaura!”, respondia sentidíssima do alto dos seus 7 anos, quando lhe disseram que era a sua vez de lavar a loiça) mas porque vive tudo genuína e intensamente.
E de uma intensidade e genuidade lindas.
Não obstante ser dura e firme nos momentos que o exigem, muitas vezes surpreendendo tudo e todos, é, no entanto, de uma bondade tocante. ‘A sua volta nunca ninguém está triste, põe toda a gente bem disposta com o seu humor inimitável, as saídas inesperadas e que desarmam qualquer um (“Calma meu!”). Tem um coração de manteiga, é doce, sente-se o mel no olhar e o açucar nos constantes beijos e abraços com que presenteia todos que a rodeiam. E’ uma casa cheia , a alegria que transborda. E quando canta: Ah, Fadista!! A voz de rouxinol enche a casa novamente de cores e brilhos.
E' uma pessoa Bonita. Das poucas pessoas genuína, ingénua e verdadeiramente boa que conheço. Por vezes, inconsequentemente boa (ainda recordo o susto que a minha mãe apanhou quando a Crespita, no dia de anos dela, decidiu trazer uma multidão de criançada, toda a que havia no parque de campismo, para comer o bolo de anos... pequenino proporcionalmente). Dá, partilha e divide o que tem e o que não tem. E só pelo bem querer e entrega, a migalhita que couber a cada um sabe qual fatia.
Por tudo isto e muito, muito mais, que alguma vez as palavras poderão transpôr para o papel, a minha irmã é uma parte tão importante da minha vida. E por ser tão importante, escolhi esta foto para ilustrar o post. Foi tirada no dia da prova final do vestido de noiva, que ostentou orgulhosamente no dia do seu casamento. Dia esse em que, seguramente, a sua felicidade ultrapassou todos os limites que até então julgávamos terem sido atingidos.
Eu estava acabada de regressar de Nova Iorque. Ainda com as malas no carro corri para estar com ela naquele momento, que sabia querer partilhar comigo. Só eu e ela poderíamos perceber, por entre os nosso filtros de cumplicidade e união, o significado daquele momento, o sorriso e o abraço na fotografia… que nada mais consegue captar para além disso.
E é por causa de pessoas tão preciosas como a Crespita e momentos como este que sou o que sou, que tenho a Essência que tenho, que sou a Inês que hoje existe e que tem o cheiro que tem. Por isso, Crespita, estás sempre presente, no que digo, no que faço, no que escrevo… sem serem precisos “mensagens” ou pedidos!
Da tua Bambinita :)
2.17.2006
Rio ainda mais!
Bem sei que tenho um texto prometido em atraso mas, como mais uma vez saio a horas indecentes do lab, terá que ficar para o fim de semana. (só porque tu mereces muito, Crespita! Tem que sair como deve ser).
Não queria, no entanto, deixar de partilhar convosco algo que me pôs a sorrir neste serão secante.
Esta foto está no Buteco do Edu, ilustrando um texto onde, ao jeito único dele, descreve alguns dos vários momentos inesquecíveis que passei no Rio de Janeiro.
Digam lá se, tratada com carinho tal, não tenho mais que infinitas razões para amar o Rio de paixão?
Ai, que saudades.....
2.16.2006
Sobre esta foto...
2.15.2006
Sempre acompanhada
Hoje na aula de yoga, já na parte de decontracção, com as luzes baixas, o professor fez uma pequena reflexão acerca do dia em questão.
Calmamente, enquanto discorria no seu discurso, disse algo que me tocou. Algo simples. Falava que podemos estar sozinhos, mas não necessariamente sós. E, inesperadamente, senti as lágrimas escorrerem-me pelo rosto abaixo, confundindo-se com o suor salgado.
Ali estava eu em posição de "double pigeon", supostamente a entrar num estado pacificador e de equilíbrio, e a não conseguir controlar a felicidade que sentia cá dentro. Felicidade, porque tenho os meus Pais, a minha Irmã, a minha Família, os meus Amigos, os que estão perto e os muitos que estão longe, os que estão connosco e aqueles que já nos deixaram... e sinto-me sempre tão acompanhada e protegida. Mesmo que sozinha, nunca só... como se de Anjos da Guarda se tratasse.
A todos, Obrigada pelo vosso bem querer!
Sarita e Companhia
Este fim de semana foi especialmente bom.
Isto porque, pela primeira vez (a primeira de muitas, espero), directamente de Nova Iorque, algo de inédito e “nunca d’antes visto” aconteceu. A minha mui querida Sarita, amiga do coração e de quem tantas saudades tenho, veio-me visitar. Veio ela e o irmão, o Bartolomeu que, não fosse irmão de quem é, também se revelou uma pessoa super porreira e com quem se gosta logo de estar.
No Sábado, porque nos esperava um dia de “turismo em Boston/Cambridge” (que para muitas coisas é minorca mas para andar a pé se revela bastante grande) começamos o dia (cof, cof… tarde) por nos abastecermos no “Moqueca”, restaurante Brasileiro onde não só a comida é excelente como a ambiente é muito familiar e aconchegante.
De barriga cheia e quase a rebolar, de tanto que comemos, lá pusemos os pés ‘a estrada e andámos, andámos, andámos. Começámos por ir ao meu lab, onde lhe mostrei as novas instalações. “Gosto!!”, dizia ela, “Pensei que era bem pior!” (tal foi a descrição que lhe fiz da coisa :P).
Seguimos para Harvard Square, onde, como todo o turista que se preze, tirámos uma foto ao pé do Johny, o John Harvard.
Pormenores a notar na foto, são dois:
- o primeiro, o saco que a Sarita tem na mão. Tinha (porque ele já lhe deve ter tratado da saúde), nada mais nada menos do que uma embalagem de… Nestum com Chocolate. Foi com um sorriso de criança que recebeu o “sim” do homenzinho da mercearia onde entrámos, quando perguntámos se tinha tal iguaria. Terrinha no estrangeiro mais Tuga é impossível!
- o segundo, o pé brilhante e reluzente da estátua. Toda a gente que ali chega, esfrega-o e pede um desejo. Está brilhante porque é polido constantemente, mas não só. E’ brilhante também porque faz parte da praxe aos caloiros irem para cima das estátua e mijarem para o pezinho do Johny. Ah, poijé! Mas não digam a ninguém, porque é segredo, hehee. Nós, como sabíamos do esquema, abstivemo-nos de mexer no chulé do Johny.
Daí, percorremos a Mass Av., para atravessarmos a ponte e passarmos para Boston. Porque se avizinhava uma tempestade de neve, embora o céu estivesse limpíssimo, a temperatura era fria, de rachar (seguramente a rondar os –15ºC). Quando já do lado de Boston decidimos parar para tomar algo quente, a Sarita já não sentia as pernas, o nariz quase que lhe caía e, tanto eu como ela, parecíamos duas meninas do Tibete, de tão vermelhas que estavam as nossas bochechas. Em cima da ponte, até abraçadinhas íamos. O Bartolomeu… esse estava na boa. Descobriu uma habilidade na máquina de fotografar e deliciou-se a tirar fotos a torto e a direito, esquecendo o frio.
Uma volta pela “baixinha” de Boston, um passeio no parque onde os lagos estavam todos congelados e eis que chegámos a mais uma das atracções da cidade. O Cheers, aquele bar, que inspirou uma série cómica que toda a gente reconhece.
Estava tanto frio, tanto frio que eu e a Sarita parecemos umas mendiguitas enchouriçadas :)
Por esta altura estava na hora de regressar a casa, para nos prepararmos para ir ‘a festarola da noite. Pelo caminho, o Bartolomeu só olhava para o céu e exclamava: “Pppff, limpinho!! Nem uma nuvem! E dizem que vai haver neve?? Yah…” como quem diz, fia-te na virgem e não corras.
O Bart estava frustradíssimo porque queria muito ver neve na cidade e parecia que andava exactamente a evitá-la. Saiu de Portugal, começou a nevar lá. Saiu de Londres, começou a nevar lá também. Passou 3 semanas em NY durante as quais nunca nevou e agora, que estava em Boston, nevava na Big Apple e ele ali, ‘a espera de uma tempestade que não parecia querer vir.
Pois ao que parece o azar desapareceu e ele até deve ter desejado neve com força a mais pois no dia seguinte, era neve por todo o lado. Estivemos quase uma hora ‘a espera de um táxi, que normalmente apareceria em 5 minutos. Desistimos de esperar e, quais maluquinhos de arroios, decidimos ir a pé para o nosso destino de almoço.
Andámos uns 40 minutos pelas ruas completamente brancas e desertas (malucos como nós… só nós), a levar com neve pelo trombil, por vezes a escorregar, volta e meia a exclamar "Bart, quem te mandou pedir tanta neve!" mas todos divertidos com a aventura (abro aqui um parêntesis para dizer que a Sarita é a companheira ideal para estas coisas uma vez que também foi com ela que, há um ano, me aventurei pelo meio de uma tempestade para irmos até Long Island, ‘a casa de umas amigas).
Até deu para fazer uma mini batalha de neve com o Bart. Eramos nós a rir e a correr atrás um do outro e a Sarita a exclamar, com receio que nos virássemos para ela, “Eu não posso! Eu não posso porque não tenho luvas como deve ser”. E pronto, lá a poupámos :)
Fiz estes filmes desde o início da caminhada até chegarmos ao nosso destino. Espero que consigam ver para que fiquem com uma ideia do nosso devario. Reparem que não há vivalma nas rua…. pudera, hehehe.
Saída de Casa
Caminhada
Mais Caminhada
Chegada ao Destino
O fim-de-semana passou rápido, como tudo o que é bom, mas valeu pela intensidade. Foi taaaaaaaaao bom. Obrigada Sarita e Bart!!!
Ah, e no fim, ao despedir-me dela, pela primeira vez, desde que deixei NY, não chorei. Confesso que fiquei com as lagrimitas a dar-a-dar, um nó na garganta mas, olhei para o chão, pigarreei um pouco e ela não notou!
Assim, Sarita, mais uma razão para voltares. Para além de, como disseste, este ser um bom local para fugir 'a cidade (calminho e pacato... blah!!), não haverá choraminguices, já estou vacinada. I promisse (Inês levanta os dedinhos no ar, qual escuteira :D).
Isto porque, pela primeira vez (a primeira de muitas, espero), directamente de Nova Iorque, algo de inédito e “nunca d’antes visto” aconteceu. A minha mui querida Sarita, amiga do coração e de quem tantas saudades tenho, veio-me visitar. Veio ela e o irmão, o Bartolomeu que, não fosse irmão de quem é, também se revelou uma pessoa super porreira e com quem se gosta logo de estar.
No Sábado, porque nos esperava um dia de “turismo em Boston/Cambridge” (que para muitas coisas é minorca mas para andar a pé se revela bastante grande) começamos o dia (cof, cof… tarde) por nos abastecermos no “Moqueca”, restaurante Brasileiro onde não só a comida é excelente como a ambiente é muito familiar e aconchegante.
De barriga cheia e quase a rebolar, de tanto que comemos, lá pusemos os pés ‘a estrada e andámos, andámos, andámos. Começámos por ir ao meu lab, onde lhe mostrei as novas instalações. “Gosto!!”, dizia ela, “Pensei que era bem pior!” (tal foi a descrição que lhe fiz da coisa :P).
Seguimos para Harvard Square, onde, como todo o turista que se preze, tirámos uma foto ao pé do Johny, o John Harvard.
Pormenores a notar na foto, são dois:
- o primeiro, o saco que a Sarita tem na mão. Tinha (porque ele já lhe deve ter tratado da saúde), nada mais nada menos do que uma embalagem de… Nestum com Chocolate. Foi com um sorriso de criança que recebeu o “sim” do homenzinho da mercearia onde entrámos, quando perguntámos se tinha tal iguaria. Terrinha no estrangeiro mais Tuga é impossível!
- o segundo, o pé brilhante e reluzente da estátua. Toda a gente que ali chega, esfrega-o e pede um desejo. Está brilhante porque é polido constantemente, mas não só. E’ brilhante também porque faz parte da praxe aos caloiros irem para cima das estátua e mijarem para o pezinho do Johny. Ah, poijé! Mas não digam a ninguém, porque é segredo, hehee. Nós, como sabíamos do esquema, abstivemo-nos de mexer no chulé do Johny.
Daí, percorremos a Mass Av., para atravessarmos a ponte e passarmos para Boston. Porque se avizinhava uma tempestade de neve, embora o céu estivesse limpíssimo, a temperatura era fria, de rachar (seguramente a rondar os –15ºC). Quando já do lado de Boston decidimos parar para tomar algo quente, a Sarita já não sentia as pernas, o nariz quase que lhe caía e, tanto eu como ela, parecíamos duas meninas do Tibete, de tão vermelhas que estavam as nossas bochechas. Em cima da ponte, até abraçadinhas íamos. O Bartolomeu… esse estava na boa. Descobriu uma habilidade na máquina de fotografar e deliciou-se a tirar fotos a torto e a direito, esquecendo o frio.
Uma volta pela “baixinha” de Boston, um passeio no parque onde os lagos estavam todos congelados e eis que chegámos a mais uma das atracções da cidade. O Cheers, aquele bar, que inspirou uma série cómica que toda a gente reconhece.
Estava tanto frio, tanto frio que eu e a Sarita parecemos umas mendiguitas enchouriçadas :)
Por esta altura estava na hora de regressar a casa, para nos prepararmos para ir ‘a festarola da noite. Pelo caminho, o Bartolomeu só olhava para o céu e exclamava: “Pppff, limpinho!! Nem uma nuvem! E dizem que vai haver neve?? Yah…” como quem diz, fia-te na virgem e não corras.
O Bart estava frustradíssimo porque queria muito ver neve na cidade e parecia que andava exactamente a evitá-la. Saiu de Portugal, começou a nevar lá. Saiu de Londres, começou a nevar lá também. Passou 3 semanas em NY durante as quais nunca nevou e agora, que estava em Boston, nevava na Big Apple e ele ali, ‘a espera de uma tempestade que não parecia querer vir.
Pois ao que parece o azar desapareceu e ele até deve ter desejado neve com força a mais pois no dia seguinte, era neve por todo o lado. Estivemos quase uma hora ‘a espera de um táxi, que normalmente apareceria em 5 minutos. Desistimos de esperar e, quais maluquinhos de arroios, decidimos ir a pé para o nosso destino de almoço.
Andámos uns 40 minutos pelas ruas completamente brancas e desertas (malucos como nós… só nós), a levar com neve pelo trombil, por vezes a escorregar, volta e meia a exclamar "Bart, quem te mandou pedir tanta neve!" mas todos divertidos com a aventura (abro aqui um parêntesis para dizer que a Sarita é a companheira ideal para estas coisas uma vez que também foi com ela que, há um ano, me aventurei pelo meio de uma tempestade para irmos até Long Island, ‘a casa de umas amigas).
Até deu para fazer uma mini batalha de neve com o Bart. Eramos nós a rir e a correr atrás um do outro e a Sarita a exclamar, com receio que nos virássemos para ela, “Eu não posso! Eu não posso porque não tenho luvas como deve ser”. E pronto, lá a poupámos :)
Fiz estes filmes desde o início da caminhada até chegarmos ao nosso destino. Espero que consigam ver para que fiquem com uma ideia do nosso devario. Reparem que não há vivalma nas rua…. pudera, hehehe.
Saída de Casa
Caminhada
Mais Caminhada
Chegada ao Destino
O fim-de-semana passou rápido, como tudo o que é bom, mas valeu pela intensidade. Foi taaaaaaaaao bom. Obrigada Sarita e Bart!!!
Ah, e no fim, ao despedir-me dela, pela primeira vez, desde que deixei NY, não chorei. Confesso que fiquei com as lagrimitas a dar-a-dar, um nó na garganta mas, olhei para o chão, pigarreei um pouco e ela não notou!
Assim, Sarita, mais uma razão para voltares. Para além de, como disseste, este ser um bom local para fugir 'a cidade (calminho e pacato... blah!!), não haverá choraminguices, já estou vacinada. I promisse (Inês levanta os dedinhos no ar, qual escuteira :D).
2.14.2006
Dia dos Namorados
E pronto, mais um dia de São Valentim.
Detesto-o e apetece-me sempre dar-lhe um tiro no pé para não me perseguir (Pum! Pum! Toma lá Valentim para veres o que é bom para a tosse!).
Nunca gostei deste dia, nem mesmo quando tinha namorado mas, a partir do momento que deixei de ter, a coisa tornou-se ainda mais insuportável:
- Que vais fazer para o dia dos namorados?
- Não tens namorado, porquê?
- Mas como é que alguém como tu está sozinha?
- Blá, blá, blá, blá, blá, blá?
Pah, "deslarguem-me:!!
Qual é o problema? :P
Cria-se uma expectativa desmesurada quanto a este dia, tal como o ter que se ter algo programado para o Final de Ano ou para o Fim-de-semana. E' uma pressão tal que uma pessoa fica stressada só de acordar naquele dia.
Acho este dia uma tótóice.
O Amor deve ser festejado sempre e em todo o lugar, não quando o Valentim decide. Aliás, ficaria muito menos satisfeita com demonstrações de amor só porque é o dia do gajo que levou um tiro num pé do que, só porque sim, alguém se decidiu a escrever-me um poema.
Depois, é a parafernália de corações, ursinhos, rosas e restaurantes a abarrotar e barulhentos que albergam os casalinhos todos que anseiam por um jantar romântico (que eu diria mais românico, dada o chinfrim), do qual quase são expulsos porque há um outro casal que também quer jantar.
A juntar 'a festa, a avaliar pelas muitas relações que tenho visto, 'as vezes mais vale só que mal acompanhado (é óbvio que estar com alguém é muito melhor mas isto sou eu armada em má, só para a lista de razões ficar maiorzinha, hehehe).
E, então, perguntam-se vocês: Se esta tipa não gosta do Valentim, porque raio está para aqui a escrever e não deixa em paz quem gosta?
Ora, porque, como Bióloga que sou, vi esta foto e curti-a.
Como o dia mais apropriado para a pôr é hoje, lá tive que dizer qualquer coizita :)
2.13.2006
O pífaro está de volta!
Hoje reiniciei as minhas aulas de clarinete.
Digo reiniciei porque já desde o início de Dezembro que não soprava na gaita como deve ser. Foram tempos atribulados, de muito trabalho, e o facto de a professora morar em cascos de rolha e o Inverno começar a apertar, não ajudou.
Assim, desde que regressei de Portugal, que andei 'a procura de um novo professor, mais perto e de preferência mais barato. O pacote saiu-me melhor que a encomenda, pois ele é isto tudo e, ainda por cima, (Preparem-se!!! Rufem os tambores que isto, para a parvalheira, é sem qualquer sombra de dúvida, um facto a assinalar), o gajo é "muita" giro!!!
Tocar clarinete a olhar para alguém giraço é muito melhor do que a olhar para uma tipa pequenina e com o ar emproado dos Ingleses. Para além do mais, é simpático e gostei imenso do método de ensinar (vá, tirem esse sorrizinho da cara, falo mesmo de ensinar a tocar clarinete).
A aula correu bem, especialmente tendo em conta que só tinha tido 4 aulas no total e já há 2 meses que não praticava nada. Começou por testar o meu sentido de musicalidade e orientação, indicando-me a nota na qual deveria iniciar melodias simples e fáceis, tipo "Mary had a little lamb", Parabéns e "Hino da Alegria", de Beethoven ("Oh Cat'rina olh'as pombas", para quem não sabe :P).
Pim-pim-pim, pego no instrumento (salvo seja) e aqui vai disto. Uma música, duas músicas, três músicas... mais?
Staccato e legato? Amigo, isto é o que se quer. Zás-trás-pás e aqui vai disto!
Confesso que o impressionei (hehehe, eu sempre tive muito jeito para umas gaitadas - a esta hora os meus pais devem estar a levar as mãos 'a cabeça, lembrando-se do malfadado dia em que nos deram para as mãos, a mim e 'a minha irmã, a gaita verde. Lembram-se, hehehe?).
" - I am impressed!! You don't sound at all like a beginner!
Really good, really good"
"Ah poijé?!!!" Doze anos de conservatório, uma irmã Fadista, um pai Baterista, uma mãe que toca campainhas de porta que nem ginjas e uma família que se revelou um portento musical (no Natal foi um forrobodó pôr toda a gente a tocar clarinete) não são para menos não! Ah, e já estão a ver, com um instrumento super viajado... chique, sei lá!
E pronto, para a semana terei a segunda aula.
Confesso que estou entusiasmada... pelo aprender clarinete, claro.
Depois há mais cenas dos próximos episódios ;)
Existe e E'
"Encontrou-a enquanto deambulava, perdido, pela madrugada das ruas da cidade, então cobertas pelo rigor do Inverno.
Neve. Branco. Frio. Silêncio.
Sem saber como nem porquê, virara naquela esquina e ali se encontrava ela. Abandonada. Triste. Só. Inesperada.
Instintivamente, caminhou na sua direcção. Algo o atraía. Não conseguiu evitar olhar para ela, tal como não conseguiu deixar de o fazer após o primeiro relance. Não conseguia parar de a olhar. Inexplicável.
Desconhecido foi também o que ela sentira ao perceber a presença daquele estranho… que lhe era ao mesmo tempo tão familiar. Como alguém por quem, sem saber, esperara todo aquele tempo. A vida toda, talvez.
Ele estendeu-lhe a mão. Ela, permaneceu imóvel e fitou-o. Os seus olhos, baços, encontraram então um mundo de honestidade nos olhos que a fixavam e esperavam por ela. Um mundo que desconhecia, mas que a atraía também. Hesitante, acabou por retribuir o gesto, entregando-lhe a mão.
Em silêncio, sentiram-se cúmplices.
Caminharam, em silêncio e cúmplices também.
O percurso não teve distância, espaço ou tempo.
Encontravam-se agora na casa dele.
Quente. Confortável. Aconchegante.
Sentiu-o pousar a mão no seu ombro, ao toque do qual, inconscientemente, reagiu.
Afastou-se. Ao mesmo tempo, nesse exaCto instante, os seus olhares encontraram-se novamente. No rosto dele, o mesmo mar de honestidade. Azul, qual vertigem. Não quis resistir, não desta vez. A última vez que o tinha feito perdia-se nas memórias do tempo mas, agora, parecia ser o momento certo para voltar a ser ela novamente.
Deixou-se levar por aquelas ondas, abandonando-se.
Sentia-o agora remover-lhe as roupas molhadas. Fazia-o devagar, terna e cuidadosamente, com a atenção de quem não quer perder nenhum pormenor de um momento seguramente único.
Aos poucos, a luz ténue da manhã que se filtrava pela janela, revelava a sua pele arrepiada e suja, que via reflectida na água ‘a sua frente. Nua, entrou na banheira. Inseriu um pé, o outro, depois o corpo e, envolvendo os joelhos, sentou-se e ficou a olhá-lo, sem receios.
Já não tinha frio. Sentia calor. Da água que a rodeava e do olhar que a envolvia.
Segurando uma esponja, a mão que a recebera antes percorria-lhe agora as costas.
Ele lavava-a.
Lavava-lhe o corpo.
Lavava-lhe a alma.
Lentamente, ela revelava-se a ele.
Dos olhos, agora mais brilhantes, escorriam-lhe lágrimas pelo rosto, agora mais limpo. Lágrimas. Não de tristeza, mas porque as emoções transbordavam.
Libertava-se da bílis da alma.
Ele descobria agora uma pela alva. Desapareciam as marcas dos tempos passados.
Revelavam-se ‘a sua frente a linha do pescoço dela, a pequena marca no rosto, os seios, a sua essência. Via-a!
Via-a e, cúmplice, partilhava também com ela o sal das lágrimas.
Sem palavras, já não havia silêncio. Havia música. Ambos saboreavam aquela pausa de mil compassos que os unia, escutavam a música deles, aquela cumplicidade.
Unica. Confortável. Simples. Intensa.
Que somente Existe e E’.
E ela, ‘a frente dele, mais nua do que apenas despida.
Nua, sem medos, sem defesas… e sentindo-se tão segura, tão protegida.
E ele, lavava-a, mimava-a e via-a.
Lá fora, a Primavera.
Sol. Cores. Calor.
Banhados pela luz de uma luminosa manhã, ele beijou-lhe a nuca.
“Estarei sempre contigo!” – disseram-lhe os seus olhos.
Ela, beijando-lhe a palma da mão para a fechar de seguida, devolveu-lha num sorriso calado:
“Guarda. E’ teu. Serei sempre tua!” "
2.06.2006
Apetece-me...
"Você vem, você vai
Você vem e cai
E vem aqui pra cá
Porque eu quero te beijar na sua boca
Que coisa louca
Vem aqui pra cá
Porque eu quero te beijar na sua boca
Ai que boca gostosa"
(Smoke City - Underwater Love)
O Azul.
O Mar.
Mergulhar.
Nadar nua.
Escutar o murmurar cavo e surdo.
Ser invadida pelo aquático fluído.
Sentir o beijo do sal.
Deixar o Infinito envolver-me.
Perder-me na vertigem.
2.05.2006
Cabeça no Ar
“ Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.”
(Caetano Veloso - Livro)
‘As vezes sigo tão absorta nos meus pensamentos, que me alheio completamente da realidade. Hoje, por exemplo, saí do laboratório e só me apercebi que me tinha esquecido da bicicleta quando, após alguns passos, me questionei: “Mas porque raio estás a andar a pé?" (note-se, mesmo com a tira fluorescente na perna). E lá tive eu que voltar para trás, para ir buscar a Bina que, ‘aquela hora, já devia estar a pensar que a tinha abandonado.
Situação preocupante, sem dúvida (a idade, a idade…) mas, a que mais me preocupa é outra.
Todos os dias passo por uma estrada que se cruza com aquela onde sigo. Existem semáforos para fazer com que eu pare e deixe passar os transeuntes da perpendicular. O pessoal que segue na minha via pára no vermelho, espera e torna a avançar no verde, sem que nunca passe um carro na perpendicular. Nunca até hoje presenceei a passagem de vivalma naquela estrada. ‘A força do hábito e porque também me ponho e filosofar enquanto pedalo, não são raras a vezes que está vermelho e eu nem sequer abrando. Distráida, lá sigo em frente.
Qualquer dia… ainda atropelo um carro :P
O Mundo é uma Ervilha
"Men occupy very little space on Earth. If the two billion inhabitants of the globe were to stand close together, as they might for some public event, they would easily fit into a city block that was twenty miles long and twenty miles wide. You could crowd all humanity onto the smallest Pacific islet."
(The Little Prince - Saint Exupéry)
Já constatei que o mundo é pequeno muitas vezes mas de todas as vezes que tal acontece não deixa de me surpreender, como se da primeira vez se tratasse.
Hoje, enquanto pedalava ao longo da Cambridge Street para o laboratório, reparo num casal no passeio. Quase que não vi o sinal vermelho de tão espantada que fiquei a olhar para eles.
Eu, Portuguesa, fui para a Alemanha e foi lá que os conheci. Ele Alemão e ela da República Bielorrussa. Passado o tempo que lá estive, passei um ano em Portugal e depois rumei para os Estados Unidos, onde já estou há mais de 2 anos. Eles foram daqueles conhecimentos circunstanciais e, por isso, não nos mantivemos em contacto nem nunca mais soube deles. Entendem então qual não é o meu espanto quando os venho encontrar aqui, neste fim de mundo, passados três anos.
Algo de semelhante se passou na Alemanha, mais precisamente em Füssen, quando, em pleno castelo de Neuschwanstein, ouço falar Português. Quando me viro, nem queria acreditar. Eram pessoas que conhecia de Sto. André (Santiago do Cacém) e que já não via há séculos. Em Portugal nunca mais lhes pus a vista em cima e fui reencontrá-los precisamente onde Judas largou as botas na Alemanha.
Também se dão situações contrárias, ou seja, vir a conhecer aqui longe pessoas que, teoricamente, teria sido mais fácil conhecer em Portugal. A semana passada fui jantar a casa de I., uma rapariga que conhecia de vista de Lisboa mas com quem nunca me dei muito. Contudo, quis o destino que viéssemos as duas parar a Boston e, já que sempre que nos falávamos simpatizávamos uma com a outra, decidimos aproveitar as circunstâncias e explorar essa empatia.
O jantar e o serão foram de pura e deliciosa descoberta. Sem darmos conta, eram já 4 da manhã... e o jantar tinha começado 'as 19:30. Ficámos a saber dos gostos uma da outra, das circunstâncias que nos trouxeram aqui, coisas do passado até que a determinada altura ela me diz que é de Amarante.
“Quê? Es de Amarante??” – perguntei com espanto. E de repente já não estava naquela sala mas sim a viajar até há 12 anos atrás. “Conheces o R. o D. e a Rt.? São irmãos, filhos de médicos. Sei que moravam lá!”.
“Claro que conheço!!” – respondeu-me ela com aquele sorriso típico de quem sabe que, mesmo sem saber o quê, partilha algo de especial para a outra pessoa.
E, inesperadamente, dei por mim a rebuscar em memórias já há muito intocadas e a partilhar a história e as coincidências que me levaram a conhecer R., a viver pela primeira vez aquele Amor único que é o primeiro, que tanto tem de inocente como de arrebatador, que nos marca para a vida inteira e que, independentemente do tempo que já tiver passado, nos deixa sempre com um brilho nos olhos. E, ali, ‘a minha frente, a milhares de quilómetros e muitos anos de distância desta realidade e a assistir a tudo isto, estava I., conhecendo perfeitamente a pessoa em questão.
Ele há coisas!…
E’ por estas e por outras que depois o óbvio se torna difícil. Quando há dias, na peixaria, me batem no ombro e me dizem “Hi!” eu fiquei a olhar para o sorriso escancarado ‘a minha frente e só consegui dizer “Wait, I know I know you but…” e não consegui saber quem era imediatamente. Durante os segundos que fiquei a coçar a cabeça, fazia toda a ginástica mental de decifrar a nacionalidade da pessoa, onde e em que contexto a conheci.
E, afinal, era apenas alguém daqui, que conheci aqui… simples!
2.04.2006
Um pouco do Meu Brasil
EXCLUSIVAMENTE BRASIL
Lado A
1. Samba Para Endrigo
(Toquinho - Vinicius de Moraes)
2. Cafè Da Manhã
(Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
3. Trocando Em Miudos
(Chico Buarque de Hollanda - Francis Hime)
4. A Noite Do Meu Bem
(Dolores Duran)
5. Onde Anda Vocè
(Vinicius de Moraes - Hermano Silva)
6. Carinhoso
(Pixinguinha - João de Barro)
Lado B
1. A Rosa
(Chico Buarque de Hollanda)
2. Samba Em Preludio
(Powell - Vinicius de Moraes)
3. Ana Luisa
(Jobim)
4. Morena Do Mar
(Dorival Caymmi)
5. João E Maria
(Chico Buarque de Hollanda)
6. Morena Flor
(Toquinho - Vinicius de Moraes)
Sou apaixonada pelo Brasil.
Nunca soube explicar este sentimento. Pura e simplesmente existe. Contudo, quando me perguntam porquê e tento de alguma forma explicar “logicamente”, os meus esforços revelam-se infrutíferos. Tentando recuar no tempo, as memórias mais longínquas dos primeiros contactos com esta cultura apresentam-se-me, ironicamente, sob a forma de um vynil em que cantava um Italiano... o que, obviamente, não abona a favor de uma razão para esta paixão (mas paixões não são para ser lógicas e não! :) )
Lembro-me de o meu pai escolher amiúde o disco de Sérgio Endrigo, de 1979, de título “Exclusivamente Brasil”. Ficava completamente fascinada com as melodias.
Ainda miúda, não percebia a profundidade da maioria dos poemas, mas sabia de cor a ordem das músicas e sentia-as com intensidade. E foi assim que, sem saber, escutava e me apaixonava irremediavelmente pelos grandes génios da música Brasileira: Vinicius, Jobim, Buarque, Toquinho, Pixinguinha...
Escutando o pousar da agulha no disco preto no lado B, cantarolava de imediato, ainda no silêncio inicial, os primeiros acordes de “A Rosa” e, assim que terminava, antecipava com expectativa e ânsia a música número 2: “Samba em Prelúdio”, a minha preferida.
Enchia-me o coração, a Alma.
Recordo-me de uma vez, talvez com 5 anos, olhar para cima e estender os braços para o meu pai, lá em cima. “Dança comigo!”
E’ daquelas músicas que nos faz querer ser abraçada, sentir o toque e o calor humano.
Ergeu-me no ar, segurou-me ao colo e, tal como o via fazer tantas vezes com a minha Mãe, deu-me a mão, para de seguida a encostar ao peito. Encostei também a cabeça ao ombro dele e naquele balouçar quase hipnótico, ficamos os dois de olhos fechados a escutar:
“Eu sem você não tenho porque,
porque sem você não sei nem chorar
Sou chama sem luz
jardim sem luar,
luar sem amor,
amor sem se dar
Eu sem você sou só desamor
um barco sem mar
um campo sem flor
Tristeza que vai
tristeza que vem
sem você meu amor
eu não sou ninguém
Ah! Que saudade
que vontade de ver renascer nossas vidas
Volta querida
os meus braços precisam dos teus,
teus abraços precisam dos meus
estou tão sozinho
tenho os olhos cansados de olhar para o além
vem ver a vida
sem você meu amor eu não sou ninguém”
(Vinicius De Moraes com María Creuza e Toquinho - Gravado em Buenos Aires)
Mesmo que interiormente, ouço-a sempre na voz do Sérgio com a Fafá de Belém e parece-me, invariavelmente, a combinação perfeita. Ainda hoje é daquelas músicas que me provoca emoções especiais. Banda sonora da primeira vez que senti o coração dilacerado pela desilusão do primeiro Amor, é também a banda sonora de inspirações e esperanças.
Tantas emoções e recordações contidas em letras e melodias do "português com açúcar" parecem-me afinal, a resposta para a complicada pergunta.
Como poderia ser possível não ser apaixonada pelo Brasil? :)
2.02.2006
O que eu queria...
... era que me dessem música :)
Uns quantos meses antes de ir para a Alemanha, em 2001, juntei-me ao grupo de capoeira Muzenza. Sempre fui dada a actividades físicas e a exigência da prática agradava-me (para além de que ver o Mestre e uns outros tantos rapazinhos a jogar era uma benção para a vista, cof, cof). Embora me empenhasse nas aulas ao ponto de o suor me escorrer pelo nariz, ficar com os pés em bolhas e por vezes até mesmo em sangue, nunca fui grande espingarda.
Quando na roda, ficava sempre ‘a defesa, a jogar baixo, receando levar com uma pezada a qualquer momento e nunca me aventurava muito. Mas gostava mesmo daquilo. Tudo na Capoeira me fascinava. Os movimentos, os corpos, a dança/luta mas, em especial, a música, as palmas e os instrumentos. O que eu gostava mesmo, era de cantar e, mais que tudo, de tocar o Atabaque e o Pandeiro (o Berimbau ficou em fase de aprendizagem). Enquanto que para a maioria o fácil era a ginga e as acrobacias e nem se queriam aproximar dos instrumentos, para mim era exactamente o contrário. Já era sabido que, uns minutos após a roda começar e eu já ter jogado (porque eu só jogava em roda “lentinha”) começavam a entrar os prós e então, o Bailarino (mestre) chamava-me: “Ineisch!!!” e, inclinando levemente a cabeça, indicava-me o Atabaque.”Vaí aí pessoal… vai começar a jogar rápido” incitava o Mestre.
E eu, qual DJ em plena mesa de mistura, deliciava-me a acelerar aquele pessoal e a manter o ritmo.
Lembro-me que mais tarde nesse ano, já em Heidelberg, numa das margens do rio Neckar, vim a encontrar uma roda de Capoeira. Abeirei-me, fiquei a ver e a bater palmas por uns momentos ao mesmo tempo que, a pouco e pouco, me aproximava do Atabaque. Dei a dica ‘a rapariga que estava a tocar que eu também o sabia fazer. Como quem não quer a coisa estava a tentar que me deixasse tocar um pouquinho. No entanto, com cara de poucos amigos, fingiu que não percebeu e lá continuou ela.
Por acaso até percebi. Eu também nunca queria largar o Atabaque :)
Uns quantos meses antes de ir para a Alemanha, em 2001, juntei-me ao grupo de capoeira Muzenza. Sempre fui dada a actividades físicas e a exigência da prática agradava-me (para além de que ver o Mestre e uns outros tantos rapazinhos a jogar era uma benção para a vista, cof, cof). Embora me empenhasse nas aulas ao ponto de o suor me escorrer pelo nariz, ficar com os pés em bolhas e por vezes até mesmo em sangue, nunca fui grande espingarda.
Quando na roda, ficava sempre ‘a defesa, a jogar baixo, receando levar com uma pezada a qualquer momento e nunca me aventurava muito. Mas gostava mesmo daquilo. Tudo na Capoeira me fascinava. Os movimentos, os corpos, a dança/luta mas, em especial, a música, as palmas e os instrumentos. O que eu gostava mesmo, era de cantar e, mais que tudo, de tocar o Atabaque e o Pandeiro (o Berimbau ficou em fase de aprendizagem). Enquanto que para a maioria o fácil era a ginga e as acrobacias e nem se queriam aproximar dos instrumentos, para mim era exactamente o contrário. Já era sabido que, uns minutos após a roda começar e eu já ter jogado (porque eu só jogava em roda “lentinha”) começavam a entrar os prós e então, o Bailarino (mestre) chamava-me: “Ineisch!!!” e, inclinando levemente a cabeça, indicava-me o Atabaque.”Vaí aí pessoal… vai começar a jogar rápido” incitava o Mestre.
E eu, qual DJ em plena mesa de mistura, deliciava-me a acelerar aquele pessoal e a manter o ritmo.
Lembro-me que mais tarde nesse ano, já em Heidelberg, numa das margens do rio Neckar, vim a encontrar uma roda de Capoeira. Abeirei-me, fiquei a ver e a bater palmas por uns momentos ao mesmo tempo que, a pouco e pouco, me aproximava do Atabaque. Dei a dica ‘a rapariga que estava a tocar que eu também o sabia fazer. Como quem não quer a coisa estava a tentar que me deixasse tocar um pouquinho. No entanto, com cara de poucos amigos, fingiu que não percebeu e lá continuou ela.
Por acaso até percebi. Eu também nunca queria largar o Atabaque :)
Essência
"Música alta, baixos que pulsam e estremecem as estruturas, luzes, movimento, corpos que dançam, sorrisos que se vislumbram entre flashes incandeantes, movimentos insinuantes, um reflexo nos rostos transpirados.
Junto a ela dançava um rapaz que, por cima de toda a agitação, de tempos a tempos exclamava para o amigo:
- This smell? Can’t you feel it? It’s so... something smells really good in here!
O amigo encolhia os ombros. Talvez não o sentisse ou nem sequer conseguisse ouvir o que o outro lhe dizia. Continuava a confusão festiva.
Ela afastou-se para regressar pouco depois com uma bebida. Num movimento mais descuidado, ele embateu nela e entornou um pouco da bebida. Parou, estático. Olhou para ela com algum espanto. Em vez de lhe pedir desculpas, apenas exclamou:
- That smell, it is you!!! God, what is it?"
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