2.05.2006

O Mundo é uma Ervilha

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"Men occupy very little space on Earth. If the two billion inhabitants of the globe were to stand close together, as they might for some public event, they would easily fit into a city block that was twenty miles long and twenty miles wide. You could crowd all humanity onto the smallest Pacific islet."
(The Little Prince - Saint Exupéry)

Já constatei que o mundo é pequeno muitas vezes mas de todas as vezes que tal acontece não deixa de me surpreender, como se da primeira vez se tratasse.

Hoje, enquanto pedalava ao longo da Cambridge Street para o laboratório, reparo num casal no passeio. Quase que não vi o sinal vermelho de tão espantada que fiquei a olhar para eles.

Eu, Portuguesa, fui para a Alemanha e foi lá que os conheci. Ele Alemão e ela da República Bielorrussa. Passado o tempo que lá estive, passei um ano em Portugal e depois rumei para os Estados Unidos, onde já estou há mais de 2 anos. Eles foram daqueles conhecimentos circunstanciais e, por isso, não nos mantivemos em contacto nem nunca mais soube deles. Entendem então qual não é o meu espanto quando os venho encontrar aqui, neste fim de mundo, passados três anos.

Algo de semelhante se passou na Alemanha, mais precisamente em Füssen, quando, em pleno castelo de Neuschwanstein, ouço falar Português. Quando me viro, nem queria acreditar. Eram pessoas que conhecia de Sto. André (Santiago do Cacém) e que já não via há séculos. Em Portugal nunca mais lhes pus a vista em cima e fui reencontrá-los precisamente onde Judas largou as botas na Alemanha.

Também se dão situações contrárias, ou seja, vir a conhecer aqui longe pessoas que, teoricamente, teria sido mais fácil conhecer em Portugal. A semana passada fui jantar a casa de I., uma rapariga que conhecia de vista de Lisboa mas com quem nunca me dei muito. Contudo, quis o destino que viéssemos as duas parar a Boston e, já que sempre que nos falávamos simpatizávamos uma com a outra, decidimos aproveitar as circunstâncias e explorar essa empatia.

O jantar e o serão foram de pura e deliciosa descoberta. Sem darmos conta, eram já 4 da manhã... e o jantar tinha começado 'as 19:30. Ficámos a saber dos gostos uma da outra, das circunstâncias que nos trouxeram aqui, coisas do passado até que a determinada altura ela me diz que é de Amarante.

“Quê? Es de Amarante??” – perguntei com espanto. E de repente já não estava naquela sala mas sim a viajar até há 12 anos atrás. “Conheces o R. o D. e a Rt.? São irmãos, filhos de médicos. Sei que moravam lá!”.

“Claro que conheço!!” – respondeu-me ela com aquele sorriso típico de quem sabe que, mesmo sem saber o quê, partilha algo de especial para a outra pessoa.

E, inesperadamente, dei por mim a rebuscar em memórias já há muito intocadas e a partilhar a história e as coincidências que me levaram a conhecer R., a viver pela primeira vez aquele Amor único que é o primeiro, que tanto tem de inocente como de arrebatador, que nos marca para a vida inteira e que, independentemente do tempo que já tiver passado, nos deixa sempre com um brilho nos olhos. E, ali, ‘a minha frente, a milhares de quilómetros e muitos anos de distância desta realidade e a assistir a tudo isto, estava I., conhecendo perfeitamente a pessoa em questão.

Ele há coisas!…

E’ por estas e por outras que depois o óbvio se torna difícil. Quando há dias, na peixaria, me batem no ombro e me dizem “Hi!” eu fiquei a olhar para o sorriso escancarado ‘a minha frente e só consegui dizer “Wait, I know I know you but…” e não consegui saber quem era imediatamente. Durante os segundos que fiquei a coçar a cabeça, fazia toda a ginástica mental de decifrar a nacionalidade da pessoa, onde e em que contexto a conheci.
E, afinal, era apenas alguém daqui, que conheci aqui… simples!

1 comment:

Gata das Botas said...

Vim cá parar porque escrevi no google images "Uma ervilha", para encontrar uma imagem do tamanho em que me sinto hoje para colocar no meu post onde narro a experiência de vida em BCN, onde vivo há um ano.
Uff!...
E depois leio o post e penso: outra portuguesa curiosa, que larga o POrtugal por tempos e salta mundos!...
E depois sai-me sem querer: O mundo é uma ervilha!

Ass: Gata das Botas.