1.01.2006

Reencontro

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(J.S.Bach - French Suite Nº1 in D minor - Sarabande)

Estudei piano durante 12 anos, 8 dos quais no conservatório.

Fui a melhor aluna, tive bolsas, fui a concursos, fiz audições. Toquei em palcos, a solo, em duos ou trios. Recebi aplausos, flores, parabéns, até mesmo de estranhos.

Fruto deste "sucesso", o que era inicialmente um hobbie acabou por se tornar uma "obrigação". A determinada altura reparei que continuava os meus estudos musicais mais pelos outros do que por mim. O prazer que tocar me dava era agora camuflado por expectativas, metas a atingir, prazos...

A entrada para a Universidade apresentou-se como a "desculpa" ideal para, de forma airosa, poder cessar os meus estudos sem que parecesse que estava a desistir.

Não desisti. Por natureza essa é uma palavra que não faz parte do meu vocabulário. Apenas parei. Precisava de tempo, de espaço. De ganhar de novo aquele espaço em que o tocar piano não surgia como "número de circo" mas sim apenas e quando eu sentia vontade. E aí sim, me dava um gozo imenso.

Passaram-se quase 10 anos sobre esta decisão durante os quais, aqui e ali, sempre que este passado surgia, ouvia algo como "ah, então és profissional!", "deves tocar imenso!"... e dentro de mim a resposta imediata: "Não... já não!".

Ouvir isto, inconscientemente, levou a que desenvolvesse um sentimento ambíguo em relação ao piano, que sabia ser um amigo mas que agora, com toda a certeza, se apresentaria como um inimigo cada vez que me sentasse para o tocar.

Cada nota, cada compasso, cada frase, serviria para me certificar que já não sou o que era, que já nada soa tão bem, que os dedos já não são agéis e que passagens, outrora triviais, se apresentam agora como verdadeiros desafios.
"O normal", dirá qualquer pessoas mas, mesmo sabendo isso, sentia invariavelmente algo como "vergonha" e raramente ou nunca toquei durante estes 10 anos.

No entanto, por estes dias decidi-me. Arriscar com mais confiança. O não acreditar, mesmo com a melhor das preparações, não permite logo 'a partida uma boa interpretação. E se sair mal, tenta-se de novo!

Assim, liberta de quaisquer sentimentos de mediocridade ou presa em comparações não são válidas, sentei-me ao piano. Abri-o e senti-lhe o cheiro tão caracterítico. Pousei os dedos nas teclas e saboreei o toque, ainda familiar.
Com a pauta 'a frente, eis o que saiu.

Senti-o como um reencontro... de um amigo.

1 comment:

Anonymous said...

continua mulher!!!

dotes desses nao se podem desperdicar!:)

bom ano pra ti!
beijinhos grandes
vi